Descrição de chapéu Televisão

Ex-aluno de Aguinaldo Silva reivindica coautoria da novela 'O Sétimo Guardião'

Ele alega que surgiu dele a ideia para folhetim, que estreia nesta segunda; autor diz em petição que participação de alunos foi ínfima

Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa em cena da nova novela das nove, 'O Sétimo Guardião'

Bruno Gagliasso e Marina Ruy Barbosa em cena da nova novela das nove, 'O Sétimo Guardião' Globo/Divulgação

Guilherme Genestreti
Rio de Janeiro

Ex-aluno do dramaturgo Aguinaldo Silva, Silvio Cerceau pede na Justiça que seu nome seja incluído nos créditos da novela “O Sétimo Guardião”, que vai ao ar nesta segunda (12). Em caso de descumprimento, diz o pedido, a exibição da nova trama das nove teria de ser interrompida.

Até a publicação deste texto, a juíza da 33ª Vara Cível do Rio de Janeiro ainda não havia se manifestado sobre as alegações de Cerceau. A Folha teve acesso aos autos do processo —um calhamaço de mais de 900 páginas recheado de troca de acusações, ofensas e pedidos milionários.

De um lado está Aguinaldo, autor veterano da emissora, que terá em “O Sétimo Guardião” o seu retorno ao universo do realismo fantástico, o mesmo do qual pinçou suas histórias mais memoráveis, como “A Indomada”, “Fera Ferida” e “Pedra sobre Pedra”.

Do outro, Cerceau, um dos alunos de curso de roteiro que ele deu há três anos. Ele afirma ter sido responsável pelo argumento da nova novela e acusa o teledramaturgo de ter usado ideias dadas pelos estudantes durante as aulas sem lhes dar o devido crédito.

Quem acionou a Justiça, em outubro do ano passado, foi Aguinaldo, em conjunto com a Casa de Artes, na qual ele ministrou o curso. Na petição, dizem que uma masterclass foi dada em dezembro de 2015 para ensinar a 26 alunos o ofício de autor de novelas.

Segundo eles, os estudantes receberam nas aulas o texto de “O Sétimo Guardião”, que na época ainda estava sendo elaborada por Aguinaldo, “de modo que pudessem entender, na prática, como se opera a criação de uma telenovela”.

Dizem também que a participação dos alunos na elaboração de cenas “foi ínfima”, que os “pequeninos textos” foram reformulados pelo autor e que, mesmo se não tivesse sido o caso, todos os estudantes assinaram um termo de cessão de direitos autorais.

Dois anos depois de terminado o curso, enquanto o autor trabalhava solitário no texto, informa-se que Aguinaldo “foi tomado de surpresa” com uma notificação extrajudicial, vinda de Cerceau, reclamando direitos autorais.

O teledramaturgo e a Casa de Artes entraram na Justiça para pedir que se reconheça inexistência da relação jurídica entre eles e o ex-aluno, réu no processo. Por sua vez, Cerceau aproveitou a intimação para processar Aguinaldo e relatar outra história.

Na contestação, Cerceau diz que foi ele quem pediu a palavra, já na primeira aula do curso: “Aguinaldo, chega de novela com violência, com favela... Que tal fazermos uma novela surrealista como você fazia em [nos anos] 1990, uma novela suave, cheia de magia, aquele tipo que as pessoas, após chegarem de um dia pesado de trabalho, tenham prazer de se sentar e assistir.”

Ele acrescenta que a partir daí outros alunos começaram a dar palpites e sugerir os elementos que estariam na trama da próxima novela: a existência de uma fonte, a ambientação numa cidade fictícia etc.

De fato, a Globo anuncia que a trama girará em torno dessa tal fonte poderosa, mantida em segredo por sete guardiões, na cidadezinha de Serro Azul, lugar meio parado no tempo, sem sinal de celular ou internet. É ali que chegará Gabriel, personagem de Bruno Gagliasso, conduzido por um misterioso gato que guarda um segredo.

Fora dos autos, a versão de Cerceau de que foram os alunos que deram as principais ideias para a nova trama é endossada por Ryllberth Ribeiro e Ariella Massotti, que participaram do mesmo curso.

“Aguinaldo ficou empolgado e aprovou esse novo caminho apontado. Ao final do primeiro dia, já tínhamos a história principal estruturada”, afirma Ribeiro à reportagem, elencando elementos como o gato, os guardiões, a vilã dona de fábrica de cosméticos, o mocinho filho da vilã, a mocinha sensitiva...

Ryllberth, Ariella e outros quatro ex-alunos assinam uma carta aberta reivindicando autoria.

Já nos autos, Cerceau acrescenta cópias de postagens de Aguinaldo nas redes sociais na época do curso em que o autor comenta que ele e os discípulos estavam escrevendo uma novela. O ex-aluno diz ainda que no ano passado recebeu mensagens da Casa de Artes oferecendo reembolso dos R$ 4 mil pagos pelas aulas em troca da cessão dos direitos.

O dramaturgo Agnaldo Silva - Greg Salibian/Folhapress

Acrescenta ainda mais de 60 cenas detalhadas que teriam sido elaboradas pelos estudantes ao longo do curso e que avançam no desenvolvimento dos personagens.

Os autos prosseguem com troca de ataques dos dois lados. Cerceau pede indenização de R$ 1 milhão porque Aguinaldo compartilhou nas redes uma foto em que o rosto do ex-aluno é substituído por um palhaço —a postagem original é de outra ex-aluna, que apoia a versão do dramaturgo.

Além do milhão, ele exige 1/27 do total da venda da trama das nove à Globo (uma vez que eram 26 os alunos). Ouvido pela reportagem, um autor de novelas afirmou que dramaturgos recebem um bônus sobre o salário no começo e no final da execução dos folhetins, mas ele desconhece essa “venda” das novelas.

Cerceau pede que o Judiciário ouça como testemunhas dois autores da Globo —Walcyr Carrasco e Silvio de Abreu—para esclarecer as condições dessa suposta venda de um texto à emissora.

No último dia 29, com a ação já em curso na 33ª Vara Cível, Cerceau entrou com um pedido de tutela antecipada, isto é, requerendo que sua solicitação fosse atendida antes que o processo fosse julgado.

“A estreia e manutenção da exibição da obra sem os devidos créditos constituem verdadeiro perigo ao resultado útil do processo”, informa o pedido, que intima a Globo. A urgência se deve à estreia iminente da novela, que pode ir ao ar sem seu nome. Até a publicação deste texto, a juíza do caso não havia se manifestado.

Procurado pela reportagem, Aguinaldo afirmou que não comentará um caso pendente de avaliação pelo Judiciário. “Não é de bom tom que as partes se pronunciem ou alardeiem suas próprias opiniões, que são conflitantes, sobre ele. Quem tem que se pronunciar é a Justiça. E ela, no seu devido tempo, certamente assim o fará.”

A emissora tampouco comentou o caso. “A Globo não faz parte da ação judicial mencionada e não comenta casos pendentes de avaliação do Judiciário”, informa sua assessoria de imprensa.

Colaborou Cristina Padiglione

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.