Ex-vocalista do The Smiths, Morrissey diz que músicos sofrem com 'controle feroz'

João Perassolo
São Paulo

“Os animais são a minha primeira preocupação, mas também me preocupo com a liberdade de expressão —que não existe mais na Inglaterra e está diminuindo ao redor da Europa”, afirma Morrissey.

Ex-vocalista do The Smiths, o cantor e compositor britânico segue com a mesma língua afiada que usou nas letras de “Meat Is Murder” (carne é assassinato, em português), clássico disco da banda no qual defendia o vegetarianismo e um dos álbuns mais importantes da década de 1980.

Ele falou com a Folha por email semanas antes de desembarcar no Brasil para dois shows: um na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, dia 30 de novembro, e outro em São Paulo, dia 2 de dezembro, no Espaço das Américas.

As apresentações fazem parte da turnê de “Low In High School”, seu último disco, lançado em 2017, trabalho que o cantor diz “sentir que é bonito”. O disco foi avaliado pela crítica estrangeira como um ponto mediano em uma carreira solo de três décadas e que traz na bagagem os elogiados “Your Arsenal” (1992) e “Vauxhall and I” (1994).

A capa de “Low in High School” é mais um exemplo da postura desafiadora do cantor, ao mostrar um pré-adolescente segurando um machado e um cartaz de protesto em frente ao que seria a entrada do Palácio de Buckingham, sede da monarquia britânica. No cartaz, lê-se “axe the monarchy” (dê uma machadada na monarquia).

“Não acho que músicas com mensagens políticas diretas tenham via livre e, pelo que sei, a maioria dos artistas modernos se comportam para serem lucrativos”, afirma Morrissey. “Em função disso, canções pop ou rock não podem hoje representar o povo de qualquer maneira útil.” 

O cantor diz que há um “controle feroz” sobre os músicos, nunca visto antes. “A censura está em todos os lugares. A indústria da música decide quem vai ser bem-sucedido e o que o público precisa ou demanda não é considerado.”

Mas as opiniões progressistas do músico, eleito pelo jornal The Guardian há alguns anos como o “maior inglês vivo”, parecem estar mudando de direção nos últimos meses. 

Em abril, ele publicou uma entrevista no site Morrissey Central declarando apoio ao For Britain (para a Grã-Bretanha), partido político que se define como defensor da cultura e dos valores “da decente maioria britânica”, fundado pela irlandesa Anne Marie Waters, notória islamofóbica.

Também disse que Hitler era de esquerda e que o prefeito de Londres, o muçulmano Sadiq Khan, não sabia falar corretamente. Questionado pela reportagem sobre suas declarações, o cantor preferiu não responder.

Steven Patrick Morrissey, 59, já veio diversas vezes ao país —a última foi em 2015, quando tocou em São Paulo, no Rio e em Brasília. Ele diz que segue voltando graças às pessoas, “tão inteligentes, tão sexies, tão cientes, tão cheias de vida e da realidade de viver —não o viver como uma ideia ou um plano futuro”. 

A julgar pelo repertório de seus últimos shows, a quase totalidade das faixas apresentadas no Brasil será de sua carreira solo, incluindo o hit “Suedehead”. Da banda The Smiths, deve tocar “How Soon Is Now”.

O público também pode esperar uma versão cover de “Back on the Chain Gang”, dos Pretenders, música que deve estar em seu próximo disco, anunciado para março de 2019. Batizado “California Son”, o álbum trará 12 canções escritas por um punhado de cantores e compositores americanos, entre ele Laura Pergolizzi, a LP.

 

MORRISSEY

Fundição Progresso, r. dos Arcos, 24 - Rio de Janeiro. 30 de novembro, 20h, 18 anos. De R$ 440 a R$ 670. Espaço das Américas, r. Tagipuru, 795 - São Paulo. 2 de dezembro, 19h. De R$ 350 a R$ 600. 18 anos

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