Descrição de chapéu Artes Cênicas

Grupo une teatro, artes e literatura para mostrar engrenagens cênicas

Mundana Companhia usa textos de Clarice, Drummond e Machado em novo trabalho

Atores Roberto Áudio, Luah Guimarães e Wellington Duarte no espetáculo 'Máquinas do Mundo'

Atores Roberto Áudio, Luah Guimarães e Wellington Duarte no espetáculo 'Máquinas do Mundo' Lenise Pinheiro/Folhapress

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

​Uma voz computadorizada, como aquela do sistema de traduções do Google, dá as coordenadas: “Você chegou à área de serviço. À área de vir a ser. Vire-se”.

Pode soar um tanto artificial, ainda que poético, mas é exatamente a mistura que acontece em “Máquinas do Mundo”, novo trabalho da Mundana Companhia. 

Não se trata apenas de teatro, mas de uma mescla dele com literatura e artes plásticas. A ideia é pôr à mostra todas as engrenagens das artes cênicas, de atores à iluminação, da música à dramaturgia.

“Queríamos criar um trabalho em que as nossas áreas [mais técnicas] tivessem autonomia”, afirma a cenógrafa Laura Vinci, que teve a ideia inicial para o projeto. 

Trata-se de uma espécie de instalação, montada no espaço expositivo do Sesc Pinheiros. Durante o dia, fica aberta para visitas do público. 

Já nas noites de quinta a sábado, recebe sessões de um espetáculo, no qual dois atores (Luah Guimarãez e Roberto Áudio) e um bailarino (Wellington Duarte) dialogam com a cenografia, a iluminação e a dramaturgia, que parte de três obras da literatura nacional: 

“A Máquina do Mundo”, de Carlos Drummond de Andrade; um trecho de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis; e um capítulo de “A Paixão Segundo G.H.”, de Clarice Lispector.

“São três textos que trazem uma visão de mundo totalizante, que atravessa os tempos”, diz Vinci sobre a escolha.

Os trechos surgem em em áudio gravados pelos atores e pelo compositor e professor de literatura José Miguel Wisnik, que auxiliou na concepção de “Máquinas do Mundo”.

Acompanhado dos áudios, os intérpretes circulam pela instalação, criando novas formas e movimentos. Áudio, por exemplo, demora-se em construir uma estrutura contínua no chão do espaço, utilizando pedras retangulares, processo que lembra a construção sistemática de Lispector na escrita dos capítulos de “A Paixão Segundo G.H.”

Luah se alterna em momentos contemplativos, enquanto Duarte contorce-se ao longo do espaço, em movimentos ora curtos, ora explosivos.

Mas a proposta é que a instalação possa receber interferências dos atores, mesmo fora dos horários das sessões. “No fim, tudo é uma coisa só, tudo faz parte da mesma engrenagem”, afirma a iluminadora Alessandra Domingues.

A fluidez também está na direção do trabalho, que não é centralizada, mas diluída entre os integrantes do grupo. “Esse papel de diretor circula entre a gente, e não determinado quando um ou outro assume”, continua Domingues.

Além da instalação e do espetáculo, haverá ateliês e um encontro sobre literatura com Wisnik, no dia 1º de dezembro.

Em janeiro, o projeto estreia uma segunda parte, “MedeaMaterial”. Idealizado pelo ator Aury Porto, será um espetáculo que utilizará o mesmo espaço e terá participação do diretor Márcio Aurélio. 

Máquinas do Mundo
Sesc Pinheiros - espaço expositivo (2º andar). Espetáculo: qui. a sáb., às 20h30; até 8/12; R$ 7,50 a R$ 25; 16 anos. Instalação: ter. e qua., das 10h30 às 21h30, e qui. a dom., das 10h30 às 18h; até 9/12; grátis; livre.

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