L7 volta ao país 25 anos após shows no Hollywood Rock que inspiraram gerações

Grupo que pregava 'poder da xoxota' foi destaque em festival com Nirvana, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers

Rafael Gregorio
São Paulo

Priscilla ainda se lembra do impacto que sentiu ao ver na TV as quatro garotas empunhando instrumentos e gritando “pussy power!” (poder da xoxota) diante de um público enlouquecido.

Era 1993. Então aos 16 anos, a jovem já tocava bateria em uma banda, mas sentia falta de referências que não fossem homens:

“Ver um grupo só de mulheres tocando de forma tão visceral foi extremamente importante para meu futuro na música.”

Já Gabriel foi à praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, para ver Nirvana, Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers, àquela altura recém-alçados ao panteão do rock.

Mesmo em meio à estrelada escalação do festival, ele ainda recorda a “paulada” que sentiu frente àquelas garotas até então desconhecidas no Brasil:

“Guardei por anos e anos na parede do meu quarto um recorte de jornal com a foto delas mostrando a bunda no ônibus da turnê.”

Priscilla virou a cantora Pitty, 41, ícone do rock brasileiro, meio em que Gabriel Thomaz, 44, ascendeu como guitarrista do grupo Autoramas.

Como eles, incontáveis músicos de rock, punk e hardcore no Brasil se inspiraram na histórica última visita do L7, há um quarto de século, na quarta edição do Hollywood Rock.

Fazia poucos anos que o primeiro e o segundo Rock in Rio, em 1985 e 1991, haviam inserido o país na rota do showbiz; visitas de bandas badaladas ainda eram tão inusitadas que ganhavam transmissão na TV aberta.

Daí que aqueles shows tenham impactado gerações de jovens que, na pista ou em casa, sonhavam tocar como a banda de Donita Sparks, então divulgando seu terceiro e mais famoso disco, “Bricks Are Heavy” (1992), do hit “Pretend You're Dead”.

De volta ao país após 25 anos, o grupo toca no Rio, neste sábado (1º/12), e em São Paulo, no domingo (2), em turnê que incluirá passagens por Porto Alegre, Curitiba e Belo Horizonte.

“Lembro que nos divertimos muito, principalmente pela energia dos fãs e pela relação com outros músicos, como Kurt Cobain”, diz Sparks, 55, vocalista e guitarrista do L7, citando o líder do Nirvana, morto em 1994.

Ele e a mulher, Courtney Love, assistiram do palco aos shows das garotas, hoje considerados marcos históricos.

Era o auge do quarteto formado em 1985, em Los Angeles, por Sparks e pela também guitarrista e cantora Suzi Gardner, acrescidas da baixista Jennifer Finch e da baterista Demetra Plakas.

O grupo lançou mais três álbuns e sofreu diversas mudanças na formação até 2001, quando deu um tempo.

Em 2014, a banda voltou aos palcos com a escalação clássica. Dois anos depois, foi lançado um documentário sobre a história do grupo (“L7: Pretend We’re Dead”) e, no início de 2019, será lançado um novo disco, produzido com recursos angariados junto aos fãs, via financiamento coletivo.

Músicas dessa nova safra, como “I Came Back to Bitch”, deste ano, podem aparecer no Brasil —em São Paulo, a abertura terá as bandas Soul Asylum, Pin Ups e Deb and the Mentals.

“Ouvimos coisas novas o tempo todo, mas hoje em dia o que nos influencia somos nós mesmas”, diz Sparks.

Já a principal motivação da banda, ela diz, segue a mesma: dar voz a quem não tem.

“Não foi algo que planejamos, simplesmente aconteceu: nosso público são as pessoas marginalizadas pela sociedade e que estão envolvidas em lutas por direitos, sejam os seus ou os de outras pessoas.”

E o que Sparks, ícone feminista à frente de seu tempo, pensa sobre a representatividade feminina após as últimas décadas e, em particular, acontecimentos recentes, como o movimento #MeToo e a eleição de Donald Trump nos EUA?

“Esse sujeito nem é político, é uma celebridade nojenta; para mim é todo dia um choque lembrar que ele está no poder. Com relação às mulheres no showbiz, certamente há mais, mas ainda enfrentam os mesmos percalços: sempre tivemos que lutar por nós mesmas.

​Lutar tem sido uma constate para o L7. À época em que o grupo ganhou fama, dizia-se que o rock estava morto, combalido pela ascensão do pop.

Nos anos seguintes, Sparks e suas colegas batalharam espaço no meio alternativo, antecipando o modelo independente de gestão que marcaria a produção musical pós-internet.

Para ela, há semelhanças com o contexto atual, em que o rock vê a juventude descolar e abraçar o hip-hop.

“É um ótimo momento para surgirem atrações rebeldes. Os jovens precisam de inspiração, insurreição e arte que os ajudem a expressar frustrações, isolamento e raiva.”

Para ela, essa é missão a ser cumprida por fãs e contratantes, inclusive —e principalmente— os de grandes festivais.

“Por que não estamos na escalação do Lollapalooza Brasil em 2019? Você pode perguntar isso a eles?”

L7

  • Onde Circo Voador - r. dos Arcos, s/n, Lapa, Rio de Janeiro. Sáb. (1º/12), 19h. Ingr.: R$ 90 a R$ 180, pelo site tudus.com.br. Tropical Butantã - av. Valdemar Ferreira, 93, Butantã, São Paulo. Dom. (2): 17h. Ingr.: R$ 130 a R$ 200, pelo site clubedoingresso.com. Bar Opinião - r. José do Patrocínio, 834, Cidade Baixa, Porto Alegre (RS). Ter. (4): 19h. Ingr.: R$ 100 a R$ 200, pelo site blueticket.com.br. Hermes Bar - r. Engenheiros Rebouças, 1.645, Curitiba (PR). Qua. (5): 19h. Ingr.: R$ 150 a R$ 300, pelo site diskingressos.com.br. Music Hall - av. do Contorno, 3.239, Belo Horizonte (MG). Qui. (6): 20h. Ingr.: R$ 70, pelo site queremos.com.br
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