Mesa na ABL destaca a pluralidade como marca de Otavio Frias Filho

Membros da academia debatem a obra literária e a carreira jornalística do diretor de Redação da Folha morto em agosto

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Rio de Janeiro

A mesa-redonda em homenagem a Otavio Frias Filho (1957-2018), diretor de Redação da Folha morto em 21 de agosto, realizada nesta terça-feira (13), na Academia Brasileira de Letras, destacou o respeito ao contraditório e à pluralidade de ideias como uma das marcas de sua complexidade intelectual no jornalismo.

Os debatedores evidenciaram sua diversa obra literária e teatral —e de que forma a amplitude dessas atividades se refletiam na condução da Folha, que assumiu como diretor em maio de 1984.

“Otavio detestava notícia sóbria. Orquestrava as infinitas melodias, a harmonia e desarmonia do cotidiano, que ele chamava de eterno presente. Não se trata de oferecer ao leitor apenas o debate fragmentado ou a posição explicitada e argumentada”, afirmou o advogado e escritor Joaquim Falcão, eleito em 2018 para integrar a ABL e responsável por um dos discursos mais emocionantes da noite.

 
Joaquim Falcão, Marcos Vinicios Vilaça, Ana Maria Machado, Cícero Sandroni e Sérgio Dávila em mesa-redonda na ABL, no Rio, nesta terça (13) - Ricardo Borges/Folhapress

Formado em direito com pós-graduação em ciências sociais, Otavio escreveu, entre outros livros, “De Ponta-Cabeça”, “Queda Livre”, “Seleção Natural”, “Cinco Peças e uma Farsa” e o infantil “Livro da 1ª Vez”.

Como dramaturgo, teve peças encenadas em São Paulo, entre elas “Típico Romântico”, “Rancor” e “Don Juan”. Uma versão teatral de “O Terceiro Sinal”, texto em que narra sua experiência como ator, esteve no Teatro Oficina até maio.

Falcão citou as experiências de Otavio em “Queda Livre” como a matéria-prima do “ilimite” presente em seus ensaios “dionisíacos”. “A história o fez vencedor e construiu para nós, seus amigos, colaboradores e admiradores, um exemplar a favor da liberdade de imprensa a se repetir sempre que necessário”, afirmou Falcão.

O acadêmico, jornalista e escritor Cícero Sandroni citou um texto de Otavio para exemplificar “o repórter consciente” que ele era. Diz o texto, publicado na apresentação de um dos livros que reúne as primeiras páginas do jornal: “A legitimidade dos jornais se concentra cada vez mais na sua pretensão, ainda quando vã, de imprimir certa ordem ao caos e deduzir, do turbilhão de informações fervilhantes, alguma síntese”.

“Texto límpido e sintético, a demonstrar não só o repórter consciente de sua profissão, mas também a reflexão sobre a maneira de fazer jornalismo”, afirmou Sandroni.

“Otavio Frias Filho deixou não só seus entes queridos, mas também a ausência de uma força modernizadora e rebelde na imprensa brasileira”, declarou o jornalista.

O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, falou de sua convivência com Otavio. Lembrou-se das diversas recomendações de leitura que recebeu, citando “Como Morrem os Pobres e Outros Ensaios”, de George Orwell, e “O Mundo em Desordem” e “O Leviatã Desafiado”, ambos de Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa.

“Obras que ele chamava de operação de catarata, citando uma frase de seu pai, Octavio Frias de Oliveira, para definir um texto cristalino sobre um assunto extremamente complexo”, disse Dávila.

Segundo o editor-executivo, “Otavio dava livro por um motivo prático. Além de ajudar na formação do receptor, ele passava dicas”.

O presidente da ABL, Marco Lucchesi, teve uma carta lida pela também acadêmica e escritora Ana Maria Machado —ele se ausentou em razão de compromissos de última hora em Brasília.

Lucchesi afirmou que Otavio deixou uma “obra marcada pela ousadia e transversalidade, uma inteligência inquieta e altiva, sem perder a sintonia com o Brasil, na exata medida de seu cosmopolitismo”.

“Otavio deixou em tudo que fez sua digital. Criou um jornal moderno, polifônico, sem deixar de acolher as vozes que porventura não reverberassem integralmente uma determinada linha editorial. Não temeu a dissonância. Ao contrário, foi um apaixonado da dialética e do contraditório”, afirmou ele, em carta.

Já o advogado e poeta Marcos Vinicios Vilaça destacou “sua postura como um homem dedicado à harmonização dos contrários”.

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