Descrição de chapéu Artes Cênicas

Monólogo investiga a imortalidade de Borges

'O Imortal', adaptado de conto homônimo e de outros escritos do argentino, discute a perenidade da criação artística

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

Nada é exatamente novo ou velho em "O Imortal", tampouco há linhas bem definidas no conto de Jorge Luis Borges. O argentino bebe em Homero, cria uma aventura fabular, transita para um debate filosófico e discute a perenidade das artes. Por fim, conclui: talvez nada seja de fato novo e toda novidade seja apenas fruto do esquecimento.

É também entre fronteiras que trafega o espetáculo "O Imortal", uma adaptação do conto e de outros escritos do argentino sobre a imortalidade, como algumas palestras reunidas nas coletâneas "Borges Oral" e "Sete Noites".

Não fica bem claro quando começa ou termina a peça, quando se trata de atuação ou apenas uma conversa com o público. A atriz Gisele Fróes entra em cena de forma despojada, falando com os espectadores. Logo inicia sua história —como os rapsodos gregos, que narravam de cor as epopeias— e transita daquela atuação informal para um personagem concreto.

Vive uma mulher que recebe os seis volumes da "Ilíada" de Homero. No meio de um deles, descobre um manuscrito de Marco Flamínio Rufo, tribuno militar do Império Romano. E, agora na pele dele, a atriz inicia uma aventura em busca da cidade dos imortais, cujo rio teria poderes de purificar o homem da morte.

Mas a fábula é apenas ponto de partida para discutir desde a falência do homem em sua ambição por controlar a vida até a longevidade do pensamento e da criação artística.

"Borges não está falando da imortalidade pessoal, mas da imortalidade cósmica", diz Fróes. "Quando alguém repete um gesto de outra pessoa, o torna imortal. Na literatura, a obra se torna imortal também por ser repassada de um em um ou quando um outro autor cita a obra na sua criação."

Como o argentino, que em sua escrita não se prende a um único gênero, a atriz passa da narração à performance, numa transição fluida. "Não nos interessava abandonar o conto e a linguagem literária contida nele", diz Adriano Guimarães, que, além de dirigir o espetáculo, assina a dramaturgia com Patrick Pessoa.

O trânsito é também sugerido pelo cenário, uma instalação composta de caixas de papelão e livros, que envolvem a atriz em sua narração. E ainda está na inclusão de uma música, "A Machine for Loving", na qual Iggy Pop canta a perda do cachorro —a letra conecta-se à trama borgiana no momento em que o argentino fala de Argos, cão de Homero.

Fróes fala sobre a canção e logo sai de cena, deixando o público por minutos a contemplar espaço e música, como se nos deixasse perceber a perenidade daquilo tudo.

O Imortal

  • Quando Qui. a sáb., às 21h, dom. e feriado, às 18h (sessão extra em 17/11, às 19h). Até 18/11
  • Onde Sesc Avenida Paulista, av. Paulista, 119
  • Preço R$ 9 a R$ 30
  • Classificação 14 anos
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