Morre João Sattamini, um dos mais importantes colecionadores do país

Ele tinha 83 anos e teve um infarto; seu acervo está em comodato com o MAC, em Niterói

João Perassolo
São Paulo

Morreu na manhã desta terça-feira (20) o colecionador de arte e economista João Sattamini, aos 83 anos. Ele estava internado havia dois meses no hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, e sofreu uma parada cardíaca.

O velório será nesta quarta-feira (21), às 12h, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, bairro da zona oeste do Rio. O enterro será às 14h, no mesmo cemitério.

O pintor Antônio Dias (à esq.) e o colecionador João Sattamini durante a exposição "Arte e Ousadia - o Brasil na Coleção Sattamini", no Masp. - João Sal/Folhapress

O economista era dono de uma das maiores coleções de arte do país, com cerca de 1.200 obras, cedidas em comodato para o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, construído especialmente para recebê-las. 

A cessão das obras aconteceu em 1991, ano do início do projeto do museu, que foi inaugurado em setembro de 1996. A instituição, projetada por Oscar Niemeyer, virou cartão-postal da cidade em função da fachada futurista, à beira da baía de Guanabara. 

A coleção Sattamini tem ênfase em artistas contemporâneos brasileiros, com especial destaque para a pintura. Estão representados tanto clássicos como Hélio Oiticica, Lygia Clark, Milton Dacosta e Alfredo Volpi, como nomes da chamada geração 80 (Daniel Senise) e do grupo paulistano conhecido como Casa Sete (Rodrigo Andrade, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa). 

"O João sempre dizia que uma coleção era para ser vista, comparada e entendida. Ele sempre foi muito presente, se preocupava com o acervo", afirma o diretor do MAC, Marcelo Velloso.

Velloso, que assumiu a chefia do museu de Niterói no início do ano passado, tinha contato frequente com Sattamini. Ele confirma que o acervo permanece no MAC, já que o contrato do comodato foi renovado há dois meses por um período de quatro anos.

​Sattamini começou sua coleção quando morava em Milão, em meados dos anos 1960, época em que era funcionário do Instituto Brasileiro do Café. Era próximo do artista Antonio Dias --morto neste ano, o paraibano também vivia na cidade italiana à época e tem 27 obras na coleção do amigo. 

No acervo, um dos mais importantes de arte brasileira ao lado do de Gilberto Chateaubriand, do MAM do Rio de Janeiro, há também esculturas de Frans Krajcberg, Ivens Machado e João Goldberg.

"A perda dele é uma lástima e seu olhar como colecionador era bem afiado. Cabe ao museu agora resguardar as obras e fazer jus à sua importância", afirma o curador do MAC, Raphael Fonseca.

Numa entrevista em 2013, Sattamini disse que não gostava de ver os artistas produzindo. "Não gosto de ir aos ateliês, porque, se você não gosta do que vê, tem que dizer na cara do sujeito, é cruel." Também disse que comprava em galerias por não gostar de negociar: "Pechincha é para mercado de tapete. Mas fiquei amigo de muitos artistas".

Sattamini deixa a mulher, Elisângela, além de quatro filhas de outros casamentos: Paula, Julia, Valéria e Vanessa

 

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