Nelson Motta fala dos artistas de quem é íntimo em novo programa

'Em Casa com Nelson Motta' nasce de entrevistas em seu apartamento, no Rio

Thales de Menezes
Rio de Janeiro

Jornalista, escritor, roteirista, produtor musical e compositor de mais de 300 canções, em parcerias com Lulu Santos, Rita Lee, Guilherme Arantes e Erasmo Carlos, entre tantos, Nelson Motta, 74, tem muitas histórias para contar.

E elas agora passam para a TV a partir deste sábado (23), com a estreia de “Em Casa com Nelson Motta”. Em uma primeira temporada de dez episódios, gravada em seu apartamento em Ipanema, Nelson conversa com a jornalista Cristina Aragão, supervisora de programação da GloboNews, e elenca relatos protagonizados por ele e por alguns dos maiores nomes da MPB.

“Eu tenho de repartir com todo mundo essas coisas que tive o privilégio de viver”, diz. “É uma forma de pagar minha conta com a sorte.”

Nelson Motta e Marisa Monte em 1988
Nelson Motta e Marisa Monte, em 1988 - Divulgação

Ele concorda com Caetano Veloso, para quem Nelson é o único crítico musical que se firmou sem esculhambar ninguém. “É verdade. Eu tenho temperamento delicado, respeito as pessoas.” Nelson escrevia a respeito do que mais gostava. “O que eu fazia, já naquela época, era curtir e compartilhar. Eu era um Facebook humano!”

Na série, ele escolhe falar dos artistas com os quais teve mais intimidade. “Tom Jobim. Lulu Santos, que é meu parceiro da vida. Marisa Monte, que tinha 19 anos quando começamos a trabalhar em seu primeiro show e em seu primeiro disco. E Rita Lee, minha amiga desde sempre.”

Rita é destaque no primeiro programa, quando Nelson conta como surgiu uma parceria que foi sucesso, “Perigosa”, gravada pelas Frenéticas.

“A letra que mandei para a Rita terminava ‘eu vou fazer você ficar louco/ muito louco’, e ponto. Acabava ali. Quando ela me mandou a música gravada, estava lá ‘eu vou fazer você ficar louco/ muito louco/ dentro de mim’.”

A música estourou rapidamente. “O Brasil todo cantava ‘eu sei que eu sou/ bonita e gostosa’. No Carnaval foi um sucesso total”, lembra. “Um marco, numa época de muita repressão. Foi um drible na censura, do qual me orgulho muito, e devo isso à Rita.”

Nelson Motta e Rita Lee
Nelson Motta e Rita Lee, em foto de 1989 - Divulgação

Entre os gigantes com os quais teve oportunidade de conviver, alguns nomes estão fora da área musical. Nos episódios, fala de Nelson Rodrigues, com quem chegou a frequentar redações e também as arquibancadas nos jogos do Fluminense.

Ao comentar que não tem muita disposição para escutar artistas novos, diz que sua longa vivência com mestres faz seu padrão de exigência ser muito alto. E, para ilustrar, recorre a uma tirada de Glauber Rocha.
Lembrou que o cineasta baiano, quando desafiado por Nelson a conhecer um escritor novato, disse: “É melhor que James Joyce?”. Não, não era. “Então não me interessa”, disparou Glauber.

Na série, Nelson ainda abre algum espaço para ídolos que não conheceu pessoalmente. “Apesar de tudo, tenho uma memória fabulosa. Por isso, me pedem para falar sobre muitas coisas.” Esse assédio por seus comentários gerou um dos episódios mais inusitados da série, dedicado ao “ator de documentários”.

Quando percebeu que quase todos os documentários musicais recentes tinham depoimentos seus, encontrou nesse exagero uma desculpa para recusar boa parte dos novos convites. “Decidi só falar sobre coisas com as quais tive mesmo um contato pessoal.” Com certeza, já é muita coisa.

Em Casa com Nelson Motta

  • Quando Sábado (24), às 20h30
  • Onde Globonews
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