Descrição de chapéu

'O Sétimo Guardião' ajuda noveleiro com trauma por Beto Falcão

Trama de Aguinaldo Silva que estreou na segunda adere a realismo fantástico e capricha na trilha

Alexandra Moraes
São Paulo

Depois de seis meses submetido ao “Axé Pelô” de Beto Falcão —o cantor vivo-morto de “O Segundo Sol”—, o telespectador noveleiro bem que merecia um alívio. E ele veio.

“O Sétimo Guardião” deu início à nova temporada das 21h da Globo com “The Chain”, clássico do Fleetwood Mac, numa bela abertura. Jefferson Airplane, Som Nosso de Cada Dia, Alexander Ebert e Greta Van Fleet são outros bons nomes cujas músicas permitem que se aumente ao menos um pouco o volume da novela.

A trama de Aguinaldo Silva retoma não apenas a estrutura de realismo fantástico explorada pelo autor ao longo da década de 1990 mas também pequenos detalhes de obras anteriores. “O Sétimo Guardião” é, portanto, irmão de títulos como “Pedra sobre Pedra” (1992, que empresta ao caçula “Entre a Serpente e a Estrela”, de Zé Ramalho), “Fera Ferida” (1993), “A Indomada” (1997) e “Porto dos Milagres” (2001).

Como nas antecessoras, a história de “O Sétimo Guardião” se desenrola numa cidade fictícia (Serro Azul, também presente nas tramas de 1997 e 2001) e em torno de mistérios sobrenaturais. Desta feita, o busílis está relacionado à sucessão de um dos sete guardiões de um tesouro: uma gruta e suas águas mágicas. 

O encanto, porém, tem menos a tara galhofeira de Jorge Tadeu (o fotógrafo defunto de “Pedra sobre Pedra” que aparecia para as mulheres que abocanhavam antúrios de seu túmulo) e mais pedaços de produções de terror bem-sucedidas que fizeram a festa das plataformas de streaming e da TV paga na última década —sangue, mortos-vivos e, ninguém é de ferro, palavrões. 

Metade destes, no primeiro capítulo, saíram da boca de Tony Ramos —isso sim digno de realismo fantástico. O ator interpreta o empresário Olavo, que vê a filha, Laura (Yanna Lavigne), ser abandonada no altar por Gabriel (Bruno Gagliasso), filho da vilã Valentina (Lília Cabral).

O não casamento arrastou grande parte do primeiro capítulo. O desinteresse do noivo pela cerimônia não seria capaz de causar comoção nem mesmo num galpão do Expo Noivas —menos ainda a um espectador que ainda tenta ligar os pontos de uma história que acaba de conhecer. 

Quando a noiva enfim fica sabendo que foi deixada, a trama começa a andar. O alívio de quem vê a novela só não parece maior que o da própria preterida, que sai da choradeira direto para uma viagem, antes mesmo que o pai desate o nó da gravata.

O rapaz interpretado por Gagliasso, por sua vez, vai atrás do gato preto Leon, que costura toda a história em torno dos guardiões. O destino é Serro Azul, mas um acidente na estrada põe em cena a mocinha e mais um vilão.

Capanga de Valentina, Sampaio (Marcello Novaes) persegue Gabriel, que capota o carro. Ao ouvir que o agora moribundo jovem saíra em busca de um tesouro, resolve enterrá-lo à beira da estrada e encarar a procura da preciosidade.

Mas Luz (Marina Ruy Barbosa), encarregada de prover boa parte da fantasia da novela—com premonições de estética “Walking Dead” e desfile noturno ao estilo noiva-cadáver—, aparece para tirar da lama aquele que será seu par. 

É cedo para dizer se a história vai funcionar. Se nada der certo, ao menos teremos direito a uns meses de boa trilha sonora pela frente.

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