Descrição de chapéu
Livros

Brigitte Bardot defende sua luta pelos animais em livro-testamento

Musa da nouvelle vague faz um balanço de seu ativismo, mas tenta fugir das polêmicas políticas

A atriz francesa Brigitte Bardot durante as gravações do filme 'O Desprezo', de Jean-Luc Godard, em 1963

A atriz francesa Brigitte Bardot durante as gravações do filme 'O Desprezo', de Jean-Luc Godard, em 1963 Marcello Geppetti/Divulgação

Tony Goes

Lágrimas de Combate

  • Preço R$ 39,90 (244 págs.)
  • Autor Brigitte Bardot
  • Editora ed. Globo Livros
  • Tradução Andreia Manfrin

Brigitte Bardot foi a maior estrela do cinema francês de todos os tempos. Sua carreira na tela durou apenas 21 anos, de 1952 a 1973. Mas sua imagem de sex symbol persiste até hoje, influenciando a moda e os costumes.

No entanto, não é por filmes como “E Deus Criou a Mulher” (1956) que B.B. (as iniciais pelas quais ficou mundialmente conhecida) prefere ser lembrada. É pela defesa dos direitos dos animais, causa a que vem se dedicando desde que abandonou os sets de filmagem.

A ex-atriz foi uma pioneira da causa. Quarenta e cinco anos atrás, pouca gente era vegetariana. Casacos de pele eram considerados o ápice da elegância e a caça aos animais selvagens sofria poucas restrições. Se a nossa percepção desses temas mudou, foi muito graças a Brigitte Bardot.

Aos 84 anos, B.B. acaba de publicar o que diz ser seu último livro. “Lágrimas de Combate”, escrito em parceria com a jornalista Anne-Cécile Huprelle, é um balanço de seu quase meio século na luta pela proteção dos bichos.

Mesmo tendo tornado sua causa uma das mais populares do mundo, Bardot não se sente vitoriosa. O que emerge das páginas é uma mulher cansada, quase amarga. Ela não se arrepende de nada nem renega seu passado como uma espécie de deusa da cultura pop. Mas a leitura, em alguns trechos, se torna enfadonha, tantas vezes B.B. repisa seu amor pelos animais e sua dor ao vê-los sofrer.

Há alguns momentos autobiográficos, aqui e ali. Bardot conta que finalmente resolveu sua relação com o filho Nicolas, hoje com 58 anos e vivendo na Noruega. Ela admite que o teve quando estava despreparada para ser mãe; o menino foi criado pelo pai, o ator Jacques Charrier. É irresistível pensar que a devoção absoluta de B.B. aos animais é uma forma de compensar sua ausência durante a infância do filho.

Mas as páginas mais interessantes de “Lágrimas de Combate” são as que falam dos atritos da ex-atriz com as comunidades judaica e muçulmana da França. Para uma carne ser considerada própria para o consumo humano —kosher no judaísmo, halal no islã— essas religiões exigem que o animal seja abatido de forma a sangrar até a morte. Já que não pode simplesmente pregar a proibição da prática, o que infringiria a liberdade religiosa, Bardot insiste há décadas que os bichos sejam, pelo menos, anestesiados antes do abate.

O texto transmite a ideia de que B.B. está apenas preocupada com o bem-estar dos animais. Mas ela própria já se declarou contra o que julga ser a “islamização” da França. Seu livro anterior, “Un Cri dans le Silence” (um grito no silêncio, inédito no Brasil), de 2003, é um libelo anti-imigração. Também é notória a simpatia de Bardot pela extrema direita.

Nada disso está em “Lágrimas de Combate”. Bardot passa ao largo das controvérsias políticas em que se meteu nos últimos 20 anos, como se quisesse pôr uma pedra sobre o assunto. Tem todo o direito, é claro. Mas a sensação que deixa é a de que seu livro-testamento ficou incompleto.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.