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Moda

Celebra-se diversidade de corpos, mas cultuá-los nunca foi tão importante

Arquétipo de beleza greco-romana predomina e 70% das pessoas se declaram mais altas do que são

A top Renata Sozzi veste body Alexandrine por Dinho Batista; pulseiras Lazara Design, Silvia Doring e Rinca Wesky; e brincos, Ana Rocha & Appolinario

A top Renata Sozzi veste body Alexandrine por Dinho Batista; pulseiras Lazara Design, Silvia Doring e Rinca Wesky; e brincos, Ana Rocha & Appolinario Hudson Rennan/Folhapress

Lilian Pacce
São Paulo

Sugestões de presentes para o Natal e de como perder 5 kg para o verão sempre foram pautas obrigatórias para a mídia em época de final do ano, sendo que a segunda sugestão trazia implícito o desejo, e a frustração, de conquistar aquele corpo que você nunca teve mas, já que é verão, você tem que desfilar pela areia como se fosse a sereia mais gostosa do mar.

É o tal “corpo de praia”, que ocupou chamadas de capa por décadas e hoje virou palavra “non grata”, com direito a memes e hashtags, pois dá a entender que o corpo que te dá vida ao longo do ano todo não é o corpo ideal para ser exposto num biquíni –mesmo que seja uma “hot pant” ou um maiô. (Como você deve ter notado, isso sempre foi direcionado às mulheres apenas).

Com a conscientização de que é melhor incluir do que excluir, hoje se celebra a liberdade de corpos de tamanhos diversos, do PP ao GG. Nomes como Fluvia Lacerda, Ashley Graham e Crystal Renn ganharam status de top model com suas medidas generosas que estão mais para as mulheres curvilíneas de Botero do que as longilíneas de Giacometti.

Ao mesmo tempo, o culto ao corpo musculoso, bem torneado, nunca foi tão propagado, criando inclusive a categoria (e profissão) “musa fitness” nas redes sociais. Cada treino é uma selfie, de preferência com top exibindo a barriga tanquinho —mesmo que tudo não passe do uso e abuso de altas doses de hormônios, esteroides e outros recursos que superam exaustivas séries de abdominais e têm resultado mais imediato.

Mas essa barriguinha não é nada se não vier acompanhada de seios redondos e empinados. 
Um peito minguado ou reprovado no teste do lápis (coloque um lápis sob o peito —se o lápis cair, você passou no teste) requer uma turbinada imediata com próteses de silicone, cada vez mais aperfeiçoadas pela indústria para parecer o mais natural possível.

E não é só o peso que importa. A altura faz parte do nosso imaginário de beleza. O bonito é alto, o poderoso é alto, seja homem ou mulher. Altura dá status —historicamente, na maioria das eleições para presidente nos Estados Unidos, o candidato mais alto sempre ganhou. 

Estudos mostram que mais de 70% das pessoas se declaram mais altas do que a medida que elas realmente têm. Aqui nas Américas, mulheres medem 1,62m de altura e pesam 62 kg em média, enquanto tops têm (ou tinham?) 1,75 m de altura e 50 kg...

Por fim, a simetria. Segundo Nancy Etcoff, no livro “A Lei do Mais Belo” (ed. Objetiva), as mulheres ficam mais simétricas no dia da ovulação, aumentando portanto seu poder de atração sexual. Tendemos a admirar mais homens e mulheres que têm perfeita simetria e proporção entre tronco, membros e cabeça, ou seja, o arquétipo da beleza clássica, greco-romana, ainda predomina, mesmo numa época que enaltece a diversidade e a inclusão estética e socialmente.

E o mais interessante é lembrar que a mania e o modismo das dietas milagrosas coincidem com grandes conquistas da mulher nos anos 1960, como a liberdade sexual, emancipação financeira e fortalecimento de movimentos feministas. 

A partir dali, é a própria mulher que passa a valorizar um corpo mais magro, desvinculado da imagem rechonchuda da maternidade. 

Ou seja, em busca de liberdade e independência nos tornamos nosso próprio algoz, criando um eterno ideal de beleza poucas vezes possível de ser alcançado. Um ideal que volta a berlinda 60 anos depois, questionado de todos os lados. 

Mas afinal, somos todos iguais ou cada um é um?

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