Computadores jamais serão capazes de produzir arte, diz matemático austríaco

Segundo ele, o máximo que máquinas podem fazer são objetos decorativos; arte é expressão humana

Eduardo Moura
São Paulo

Quase duas décadas após a virada do milênio, algoritmos pintam réplicas de Rembrandt, softwares de inteligência artificial auxiliam escritores, máquinas compõem música clássica.

Mas um computador pode, de fato, criar arte? Uma pergunta mais sensata seria: “você aceitaria que um computador fosse capaz de criar arte?’’, diz Michael Resch, diretor do Centro de Computação de Alta Performance de Stuttgart (HLRS), na Alemanha.

Se "arte" é entendida como algo apenas decorativo, com o intuito de “fazer as coisas parecerem mais bonitas”, diz Resch, então é bem provável que artistas humanos sejam substituídos por máquinas. 

“Os computadores são superiores aos humanos em selecionar paletas de cor, ou em compor músicas padronizadas”, diz o matemático.

“Se você enxerga arte como uma exploração, uma tentativa de transmitir seu entendimento do mundo”, então o trabalho artístico só pode ser entendido como algo necessariamente humano.

“Eu não acho que computadores podem ser criativos. O que eles podem fazer é ajudar [um humano] a expressar sua própria criatividade”, diz o matemático.

Obra 'La Comtesse de Belamy' (2018) criada pelo Generative Adversarial Network (GAN), algoritmo que aprende a gerar novas imagens  ao ser alimentado pela base de dados de pinturas
Obra 'La Comtesse de Belamy' (2018) criada pelo Generative Adversarial Network (GAN), algoritmo que aprende a gerar novas imagens ao ser alimentado pela base de dados de pinturas - Christian Hartmann/Reuters

Para que um computador fosse capaz de produzir arte, seria necessário ensinar à máquina o que é e como fazer arte. Isso implicaria num processo que consistiria em padronizar e normalizar “a arte”, que em seguida teria de ser descrita e colocada num método matemático trivial. Uma vez que isso é feito, “não se trata mais de arte”, diz Resch.

Isso não quer dizer que os artistas não devam se empenhar em entender mais de matemática e programação.

“Se eles querem fazer um bom uso do computador, [os artistas] devem entender o que algoritmos fazem e como sistemas de computadores funcionam”, diz.

Esse temor de que as máquinas poderiam, num futuro próximo, ocupar o lugar dos humanos é justificável. Afinal, eles são infinitamente superiores em algumas de nossas habilidades cognitivas —são capazes de fazer contas gigantescas em instantes e armazenar grandes quantidades de dados, por exemplo.

Resch descreve esse tipo de inteligência como “a capacidade de entender e prever perfeitamente um sistema baseado em regras”. Essa aptidão é muito útil, por exemplo, num jogo de xadrez, em que as regras são simples e há um objetivo bem definido, mas as possibilidades de movimento são infinitas.

Na arte, estão em jogo equações mais complexas, em que o questionamento é fator comum. Réplicas de mictórios de porcelana ou pedaços de papel picotado podem se transformar em milhões de dólares em casas de leilões. Trata-se de um mundo em que as regras não são simples —se é que existem.

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