Desde que a linha de brinquedos Transformers chegou os cinemas, em 2007, os robôs gigantes que se transformam em veículos ganharam exageros: dinossauros metálicos, cavaleiros medievais robóticos e até gigantes de ferro com genitais.
Mas os excessos caminharam inversamente aos números de bilheteria. “Transformers: O Último Cavaleiro” (2017), o quinto filme da franquia dirigida por Michael Bay, custou US$ 216 milhões e rendeu apenas US$ 130 milhões nos Estados Unidos, sendo salvo do prejuízo pela China, responsável por boa parte dos US$ 400 milhões angariados no mercado internacional.
A performance acendeu um alerta nos estúdios Paramount, que, em 2016, havia anunciado os planos ambiciosos para um universo Transformers nos moldes da Marvel no cinema.
“Bumblebee”, que estreia nesta terça-feira (25), é o resultado de um passo mais cauteloso: o primeiro derivado da franquia bilionária traz um novo diretor (Travis Knight, da animação “Kubo e as Cordas Mágicas”), um orçamento menor (US$ 135 milhões) e o foco na personagem feminina.
“O que me atraiu ao projeto foi esse mundo diferente”, diz à Folha a atriz e cantora Hailee Steinfeld (“A Escolha Perfeita 2”), dona do papel principal, da adolescente Charlie Watson, que perde o pai cedo e tenta se reencontrar ao descobrir que seu Fusca amarelo é, na verdade, um robô.
“Ela é uma garota normal, sem poderes. É jovem, esperta e capaz de conseguir tudo o que deseja, mas luta contra uma perda impactante nos seus anos de formação.”
O redimensionamento de uma franquia conhecida pelos exageros foi uma escolha inteligente do estúdio, mas arriscada. Knight nunca trabalhou em uma megaprodução em live-action e mesmo suas animações foram trabalhos independentes.
“Quando recebi o telefonema, perguntei se não tinham errado o número”, brinca o cineasta, que teve duas incumbências ao assumir o projeto. “O filme precisava ser sobre Bumblebee e ambientado nos anos 1980. Sou uma criança daquela época, então topei na hora.”
“Bumblebee” não apenas recorre às músicas e roupas da época, mas bebe diretamente dos filmes de Steven Spielberg —que age como produtor executivo da série. “’E.T. - O Extraterrestre’ foi meu guia nesse projeto”, afirma Knight.
“As obras de Steven daquela época são responsáveis por minha decisão de virar cineasta. Tanto ele quanto Michael [Bay] me abençoaram, entenderam meu ângulo do longa e me deram liberdade para trabalhar.”
A liberdade, inicialmente, deu certo. O filme foi recebido com elogios pelos críticos americanos, que exaltaram a simplicidade da trama e os efeitos discretos —apesar da abertura no planeta natal dos robôs em uma batalha épica e repleta de aparições para os fãs não reclamarem.
Glenn Kenny, do The New York Times, escreveu: “Finalmente um filme dos Transformers que é bom”. Kristen Page-Kirby, do The Washington Post, ressaltou que o longa “surpreende pela alma”.
“Não posso controlar a recepção do filme, apenas contar a melhor história. As pessoas têm em mente algo quando leem o nome Transformers, e tentamos homenagear isso”, conta Travis Knight.
“Queira mostrar que poderíamos ser totalmente diferentes. Isso causa uma sensação de desconforto, principalmente para o estúdio. Mas as respostas têm sido ótimas.”
O diretor admite que as filmagens andaram sob “constante pressão”, mas que “se alimentou dessa energia”. “Animação é uma maratona, mas ‘Bumblebee’ foi uma corrida de 100 metros. Terminamos a fotografia principal em um mês e ao lado de uma equipe com a qual nunca havia trabalhado”, relembra Knight, que dividiu o fardo com uma atriz jovem, mas indicada ao Oscar aos 14 anos por “Bravura Indômita” (2010).
“Adoro fazer filmes que me desafiam como atriz e me fazem evoluir”, conta Hailee Steinfeld. “É uma loucura estar envolvida numa franquia gigante e ver meu rosto pelas ruas de várias cidades. Me sinto bem, não consigo sentir pressão.”
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