Diretor de 'Mogli' defende Oscar para atuação do ator-bicho Christian Bale

Andy Serkis elogia pantera Bagheera, que foi interpretada via sensores de movimento

Mogli e seus irmãos lobos se preparam para largada da corrida que garante a iniciação na alcateia, em cena do filme de Andy Serkis

Mogli e seus irmãos lobos se preparam para largada da corrida que garante a iniciação na alcateia, em cena do filme de Andy Serkis Divulgação

Thales de Menezes
São Paulo

Quando a Netflix anunciou sua produção original "Mogli: Entre Dois Mundos", a primeira reação de muita gente foi questionar qual a razão de mostrar mais uma versão da história do menino criado por lobos.

Baseado no romance "O Livro da Selva", de Rudyard Kipling, britânico nascido na Índia, o desenho da Disney "Mogli, o Menino Lobo" foi sucesso mundial em 1967.

Depois de inúmeras e desinteressantes versões de outros produtores, em animação ou com atores, a própria Disney retomou a história há dois anos. Deu toques mais sombrios numa versão em que um único ator, que faz o garoto Mogli, contracena com animais gerados por computador.

Cercada de desconfiança, a produção da Netflix, com elenco de atores e animais virtuais, já está disponível ao público. E chega com a visão mais adulta e violenta de Mogli, num filme arrebatador.

O ator Andy Serkis, que dirige o filme, explica à Folha que foi atraído por um lado da história que nenhuma versão anterior tinha abordado.

"O que mais importava para mim era a jornada pessoal do menino. A reintegração de Mogli ao convívio com os homens, depois de anos criado na selva, não poderia ser calma ou festiva como já foi tratada."

Na selva, Mogli (papel do garoto americano Rohan Chand) sofre bullying violento dos irmãos lobos e o tigre Shere Khan quer matá-lo. Entre os humanos, é apedrejado pelas crianças e fica aterrorizado pelo caçador que tenta adotá-lo.

Não há lugar para músicas alegres ou bichos fofos. Os animais trazem as marcas da vida na selva. São velhos, grisalhos, sujos, carregam cicatrizes e feridas abertas pelo corpo.

A gigantesca cobra Kaa é uma das criaturas mais repugnantes que o cinema já exibiu. "Ela é a voz da própria selva. É mesquinha e maldosa. Mesmo quando ela ajuda Mogli num momento da trama, não é bondade. Ela sabe que a sobrevivência dele pode garantir a dela, ameaçada por Shere Khan e pelos caçadores", explica Serkis.

Famoso como ator que mais se destacou na tarefa de captura de imagens e expressões faciais para a criação de personagens virtuais, Serkis, 54, é o rosto e o corpo por trás de tipos muito famosos.

Ele é o Gollum da trilogia "O Senhor dos Anéis", o chimpanzé César de "O Planeta dos Macacos" e o gorilão da versão de 2005 de "King Kong", entre várias outras caracterizações. Por isso, foi um dos convidados mais festejados do recente evento nerd CCXP, que terminou São Paulo no último dia 9.

Em "Mogli", chamou uma constelação de Hollywood para experimentar esse método de atuação.

Entre os atores que foram filmados em fundo azul, com vários sensores de movimentos grudados em seus rostos, estão Christian Bale (a pantera Bagheera), Cate Blanchett (Kaa) e Benedict Cumberbatch (Shere Khan). O próprio Serkis dá voz e movimento ao urso Baloo. Quem se destaca é Bale, que defende o personagem mais complexo da trama. Como Mogli, Bagheera também passou parte da vida entre os homens, enjaulado.

"Eu gostaria de um dia ver uma atuação como essa de Christian Bale ganhar um Oscar ou outros prêmios importantes, mas não numa categoria especial. Deveria concorrer com outros atores. É um legítimo trabalho de ator, tão intenso como o convencional."

Serkis acredita que todo ator quer se ver como outra pessoa na tela, e é isso que essa tecnologia permite. "Peter Jackson me chamou para interpretar Gollum, uma figura diminuta e esquálida, e depois me convidou para ser um gorila de 30 metros de altura. Isso é dar ao ator liberdade total para fazer o que quiser!"

Usando a mesma técnica, Serkis se prepara para dirigir uma versão do livro "A Revolução dos Bichos", lançado em 1945 por George Orwell.

Mogli: Entre Dois Mundos

EUA, 2018. Direção: Andy Serkis. Elenco: Christian Bale, Benedict Cumberbatch, Cate Blanchett, Naomie Harris. 12 anos. Disponível na Netflix

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