Michael B. Jordan leva socos reais e encara fardo da fama em 'Creed 2'

Ator de 'Pantera Negra' reprisa papel de lutador de boxe treinado por Rocky Balboa

Michael B. Jordan em cena de 'Creed II'

Michael B. Jordan em cena de 'Creed II' Barry Wetcher/Metro Goldwyn Mayer Pictures/Warner Bros via AP

Guilherme Genestreti
São Paulo

Curvado na cadeira e com muitos quilos a menos, Michael B. Jordan nem de longe lembra a torre de músculos que ele interpreta em “Creed 2”, continuação do drama de boxe que o tem como protagonista. Discreto, o americano de 31 anos tampouco esbanja resquícios do “star power” de alguém que magnetiza a atenção em “Pantera Negra”, a maior bilheteria do ano. 

Vivendo o fardo da fama como campeão peso-pesado, seu personagem em tudo remete ao próprio Jordan, hoje um dos 60 nomes hollywoodianos mais populares, segundo o IMDb, principal banco de dados do cinema.

“Qualquer um que te disser que não é afetado por essa pressão e expectativa está mentindo, bro”, afirma o ator a este repórter em São Paulo, onde veio divulgar seu novo longa. “Consigo me identificar com todo o desconforto de Adonis Creed em relação ao sucesso, aos fãs e à mídia. Meus últimos anos tem sido loucos.”

Criado em Newark, cidade sem grandes atrativos e barra-pesada nos arredores de Nova York, Jordan começou a carreira como modelo infantil enquanto muitos de seus amigos vendiam droga ou roubavam carros. Aos 16, contou ao site Vulture, era parado pela polícia que não concebia um garoto negro dirigindo uma BMW. 

Despontou no cinema independente com “Fruitvale Station”, história real sobre um jovem assassinado pela polícia e que tinha muito a ver com o seu passado na empobrecida Newark. Foi seu primeiro contato com o diretor Ryan Coogler, também negro e também versado nas ruas. 

Convidado a dar novos ares à exaurida franquia de boxe “Rocky”, Coogler desenvolveu “Creed” e escalou Jordan para viver o papel principal. A história relata como um aposentado Rocky Balboa, vivido pela sétima vez por Sylvester Stallone, aceita treinar Adonis Creed, o jovem desajustado que é filho de seu ex-rival. 

Três anos depois, diretor e ator voltaram a trabalhar juntos no maior sucesso da carreira de ambos, “Pantera Negra”. O filme arejou um gênero tão engessado como o dos super-heróis injetando alta voltagem de debate racial. Ali, Jordan é o grande chamariz, vivendo o complexo vilão Killmonger. 

Coogler caiu fora da continuação de “Creed”, embora tenha permanecido uma espécie de consultor criativo. Quem assumiu a direção foi Steven Caple Jr.

“Os dois contam histórias pessoais e têm esse pé no indie, essa coisa muito Sundance”, diz Jordan. “Gostam de uma aprofundamento nos personagens.”

A trama do novo filme se volta para um episódio mostrado em “Rocky 4” (1985). O filme, feito no auge da década em que americanos e soviéticos voltaram a se estranhar, trazia Rocky Balboa tendo de enfrentar o russo Ivan Drago (Dolph Lundgren). 

Nos ringues, Drago havia nocauteado Apollo Creed, pai do personagem que Jordan viveria mais tarde, e o levado à morte. Ao final da história, o personagem de Stallone conseguia superar seu rival, vingar a morte do amigo, e lavar a alma americana.

Envelhecido, Drago volta em “Creed 2” para atormentar Balboa. E apresenta seu filho, Viktor, vivido pelo lutador romeno Florian Munteanu, como oponente a duelar com Adonis Creed, o protegido de seu antigo inimigo.

A disputa, como se verá, tem muito de revanche pessoal. Tanto Creed quanto Viktor Drago querem vingar seus pais. Para Jordan, contudo, há mais nesse caldo. 

“Meu personagem aprende que vingança é o motivo errado para se entrar no ringue. Queríamos mostrar Adonis cada vez mais saindo da sombra do pai dele”, diz.

Jordan, de 1,83 de altura, levou socos verdadeiros de Munteanu, uma muralha de mais de 2 metros que o faz parecer um franguinho. “Não dá para fingir numa cena em câmera lenta”, explica o ator, que ouviu histórias de Stallone contando como foi parar na UTI nos anos 1980 por lutar de verdade com Lundgren. 

“Eles nos olhavam no canto, e encarávamos que lutar para valer na frente deles era uma medalha de honra”, diz ele, que acabou indo parar no hospital após machucar o joelho nas lutas. 

“Tudo no filme é o mais real que dá para ser sem que nos matemos no ringue.”

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