Exposição no Itaú Cultural faz passeio por seis séculos de história com gravuras

Mostra apresenta 167 obras do acervo do banqueiro Olavo Setubal

João Perassolo
São Paulo

Três garotas observam, a partir de uma ponte, uma paisagem bucólica, no que parece ser um lago junto a campos onde pastam bois.

No fundo da cena, duas casas simples, como fazendas, aparecem entre montanhas —provavelmente fiordes da Noruega. A imagem tem uma estética rústica, característica que lhe é conferida pelos entalhes deixados na chapa de madeira que serviu de matriz para a impressão do desenho.

Trata-se de "The Girls on the Bridge", xilogravura de Edvard Munch —autor do célebre "O Grito"— gravada pelo próprio artista em 1918. O trabalho é um dos pontos altos da exposição "Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural", em cartaz no espaço da avenida Paulista.

A mostra, um recorte de 167 obras de um acervo de gravuras do banqueiro Olavo Setubal que tem 453 trabalhos no total, é um passeio por seis séculos da história dessa técnica artística na Europa.

Há desde modernos como Munch e Pablo Picasso, representando o século 20, até aquele que é considerado o primeiro grande gravador, Martin Schongauer, no século 15.

O mestre alemão está presente com uma bela imagem de 1475 que mostra Jesus Cristo a caminho do Gólgota (calvário), na qual os detalhes dos personagens da tela, feitos com um buril, têm "precisão de ourivesaria", nas palavras do curador, Marcos Moraes.

O percurso histórico da exposição apresenta outros importantes nomes da gravura: há obras do germânico Albrecht Dürer (século 15), retratos em água-forte de Rembrandt, e paisagens, nessa mesma técnica, de Jacques Callot (ambos do século 17).

Mas a mostra não traz apenas a gravura como materialização de uma obra de arte única, como no caso da peça de Munch. O conjunto em exposição também propõe que se veja a técnica a partir de suas outras finalidades, "em toda a sua dimensão gráfica", diz o curador.

A gravura serviu também para reproduzir pinturas, a exemplo de uma imagem de 1765 do gravador Francesco Bartolozzi feita a partir de uma tela do pintor barroco Annibale Carracci; ou para ser replicada nos cartazes do francês Henri de Toulouse-Lautrec, um século mais tarde.

Há ainda um terceiro uso, o de ilustração de periódicos, fazendo com que a linguagem gráfica chegue ao grande público. Estão expostas uma série de páginas do jornal francês Le Charivari com litogravuras de Honoré-Victorin Daumier. As imagens retratam, de maneira ácida, os costumes dos parisienses no século 19, à época se acostumando com um novo meio de transporte: o trem.

"Imagens Impressas" é parte de uma coleção adquirida pelo fundador do Itaú Cultural há pouco mais de uma década do historiador Pedro Correa do Lago. O curador Marcos Moraes conta que Olavo Setubal comprou o acervo de maneira fechada, como se fosse um pacote, e que "havia muito pouca informação" disponível sobre as gravuras.

As obras ficaram guardadas até que Moraes foi chamado para identificá-las e, em seguida, montar a mostra. O processo de identificação contou com a ajuda do professor de gravura Luiz Cláudio Mubarac e consultas a pesquisadores da Universidade Harvard e do Museu Metropolitan, de Nova York. No decorrer dos anos, novas gravuras compradas em leilões foram acrescentadas à coleção.

"Imagens Impressas" chega a São Paulo depois de ter passado por outras sete cidades nos últimos dois anos.

Imagens Impressas

Itaú Cultural - av. Paulista, 149. Até 3/2. De ter. à sex., das 9h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h. Livre. Grátis

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