Descrição de chapéu Moda

Grifes tradicionais apostam em artistas urbanos nas criações de suas coleções

Personagem Riquinho emoldura relógios de R$ 18 mil da suíça Tag Heuer

Pedro Diniz
São Paulo

​​​Há uma mudança em curso na imagem das grifes de luxo internacionais. Ainda que vinculadas a roupas e acessórios consumidas por uma elite vista como tradicionalista nos costumes, marcas estão abrindo seus processos criativos para ilustradores e designers reconhecidos pela estética urbana grafitada pelos muros das grandes cidades e na tela do Instagram.

O ambiente político dos Estados Unidos e o clima de ebulição econômica pós-crise de 2008 são motes para esses artistas, que ora retratam personagens famosos da cultura pop ou criam seres híbridos para emular, de forma bem-humorada, características da psique humana em seus desenhos.

​É o caso de Alec Monopoly, apelido do grafiteiro nova-iorquino Alec Andon, famoso por interpretar em pichações o personagem Mr. Monopoly, inspirado no operador da bolsa Bernie Madoff, preso em 2008 em um escândalo de fraude que levou à bancarrota diversos milionários num esquema de quase US$ 65 bilhões.

 

A grife suíça Tag Heuer encomendou uma série de grafites ao americano para ilustrar relógios que custam cerca de R$ 18 mil, sem taxas, e integram uma coleção especial. O personagem Riquinho, lançado em 1950, emoldura parte das criações com a mesma crítica ao capitalismo.

“Estar na América durante a quebra e ver Madoff ser preso me inspirou a grafitar, mas dou a essa metanarrativa uma conotação feliz. Para mim, arte é um escape de todas as notícias ruins que vemos na TV e na internet. Então, a ideia é fazer as pessoas olharem para esses desenhos e rirem”, explica o artista.

O humor norteia também as intervenções do designer escocês Hey Reilly, famoso no Instagram por intervenções em logos famosas. A grife italiana Fendi o contratou após ver seu logo FF cruzado ser reproduzido por cima de esculturas como Davi, de Michelangelo, e sua fonte impressa no nome da marca esportiva Fila.

As primeiras colaborações foram apresentadas na coleção masculina de outono-inverno 2018-2019 da Fendi, em Milão. “Esse trabalho evolui meu fascínio contínuo de perturbar o imaginário cultural aceito para, dessa forma, reapresentá-lo de um jeito acessível”, diz Reilly. Ele usa o Instagram como tela de suas peripécias, que já atingiram Chanel, Louis Vuitton e Burberry, por exemplo.

Essa ressignificação também inspirou o ilustrador australiano Jeremyville. Criador de personagens híbridos entre homens e animais, cuja ideia de existir é “procurar a verdade do espírito humano” e conectá-lo à essência primária dos homens por meio dos bichos, ele assinou uma parceria com a grife alemã Hugo Boss para uma coleção limitada de roupas, mochilas, sapatos e decoração.

Os traços que ilustram muros de Nova York e produtos de design ao redor do mundo recriam situações de festas de fim de ano vividas por personagens que parecem porcos, coelhos e cegonhas, embebidos do verniz sociológico que caracteriza as criações do designer.

“Sinto que o momento político [dos EUA] deu início a um novo pensamento na arte, necessário para plantar sementes importantes de consciência social. Estamos vivendo tempos desafiadores, mas emocionantes”, diz Jeremyville.

E acrescenta: “Entramos em um renascimento, no qual marcas tradicionais buscam artistas para manter a evolução da grife tornando-a social e culturalmente relevante para a próxima geração”.

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