Mamba Negra faz cinco anos virando noites em fábricas desativadas de SP

Brás e Barra Funda sediam festa eletrônica que se estabelece como polo criativo da vida noturna

Amanda Lemos
São Paulo

Em alguma fábrica abandonada no Brás ou na Barra Funda, na madrugada de um final de semana por mês, notívagos de preto e óculos escuros dançam ao som de house e techno misturados com batidas brasileiras.

"Vou construindo meu set com a energia da galera que está ali", afirma a DJ Cashu, que segura quase quatro horas de apresentação acompanhada de uma garrafa de água e de uma lata de cerveja.

O séquito da festa Mamba Negra vira a noite e, por volta das 10h do dia seguinte, mata a fome nas barraquinhas de cachorro-quente que ficam em frente ao evento. Enquanto uns vão embora de transporte público ou táxi, outros aproveitam para emendar uma after party em outro lugar.

Criada por Carolina Schutzer —a DJ Cashu— e Laura Diaz em 2013, a Mamba Negra é um dos redutos de música eletrônica em São Paulo.

Com público fiel, é conhecida pelo seu ambiente inclusivo, onde trans e drags não pagam. Atualmente, a equipe —formada por cinco mulheres— engloba a organização das festas, selo de produções musicais independentes e geração de conteúdo.

A Mamba Negra tem como símbolo uma justaposição da boca da serpente com a genitália feminina. A inspiração veio da capa de "Às Próprias Custas S.A.", disco do paulista Itamar Assumpção lançado em 1981. Já a adaptação da arte foi feita por Alexandre Lindenberg, um amigo do estúdio paulistano Margem.

A mais recente fase da cena eletrônica paulistana começou com a Voodoohop, festa criada em 2009 pelo produtor alemão Thomas Haferlach, que há quatro anos trocou as ruas de São Paulo pela Europa e pelas cachoeiras do interior do Brasil.

Nesta última década, muitas festas migraram dos clubes tradicionais para ruas e fábricas abandonadas.

Foi no ano da cobra, em 2013 —daí o nome—, que Cashu e Laura se conheceram e fizeram a primeira Mamba Negra. "Em 2009 rolou muita coisa na rua, começou a ter uma efervescência. De alguma maneira, havia uma resposta cultural mais expressiva —pelo menos no centro da cidade", afirma Laura Diaz.

Cashu, parceira de Laura, diz que, naquele ponto, não havia a dimensão do que a Mamba poderia vir a ser. "Não começamos colocando uma grana própria e falando: 'É um investimento, vamos abrir um negócio'. Fomos fazendo festas que se autofinanciavam".

Laura se lembra de que faltava um pouco de acidez na cena. "Para você conseguir ser mulher e ser artista, qualquer coisa, você tem que se produzir desde o zero e com muito tapa na cara", conta.

A Mamba deu continuidade ao fluxo da Voodoohop, de reocupação do espaço público, adicionando um toque de militância ao pacote. Um exemplo é que Laura e Cashu sempre procuram incluir artistas negras e DJs mulheres nos eventos.

"Toda essa galera que vem junto é essencial, ganhamos muito com essas junções. Foi importantíssimo para criar uma ponte para rompermos a bolha de uma maneira real", contam.

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