Descrição de chapéu

Pepeu Gomes mostra em novo álbum sua alquimia inominável

Guitarrista, que lança 'Eterno Retorno', está alinhado entre fenômenos culturais que aparecem sem explicação

Thales de Menezes
São Paulo

Eterno Retorno

  • Autor Pepeu Gomes
  • Gravadora Independente, disponível nas plataformas digitais
  • Shows de lançamento Sesc 24 de Maio, sex. (4) e sáb. (5), às 21h; domingo (6), às 18h. De R$ 12 a R$ 40.


É difícil dizer que Pepeu Gomes, 66, é mesmo o melhor guitarrista brasileiro? Porque o que ele faz com o instrumento é algo tão diferente dos outros que fica complicado encontrar parâmetros para comparação.

Com nomes geniais da guitarra pop que fizeram história no Brasil, como Luis Sérgio Carlini, Nuno Mindelis ou Lulu Santos, escutá-los permite uma pesquisa imediata dos instrumentistas que os influenciaram. É como rastrear o DNA musical de cada um.

Pepeu Gomes não permite isso. Está alinhado entre fenômenos culturais que aparecem sem explicação. Seu som é fluido, orgânico, mistura natural de rock, pop, jazz e raízes brasileiras.

Ele lança agora o álbum “Eterno Retorno”, primeiro em 25 anos que traz canções inéditas. Entre letras fortes, de antigos e novos parceiros, nenhum estilo sobrevive intacto às desconstruções do guitarrista.

Neste novo trabalho, sons eletrônicos salpicados nas faixas buscariam uma tal modernidade, e é evidente que Pepeu teve intenção de enveredar por gêneros como o reggaeton e o trap. Mas o que pode ser escutado nas 11 músicas é a alquimia inominável que ele apresenta desde quando integrava os Novos Baianos, nos anos 1970.

A única não inédita do disco é “99 Vezes”, original do álbum “Farol da Barra”, o último de estúdio dos Novos Baianos. É uma balada singela, que não entraria em uma lista de canções memoráveis da banda, mas faz muito sentido escalada em “Eterno Retorno”.

Porque o álbum tem uma divisão bem clara entre faixas mais ambiciosas, com arranjos que demonstram o inegável virtuosismo do guitarrista, e outras que soam mais tranquilas, carregando nas letras e no instrumental elementos da alma hippie que os Novos Baianos injetaram em Pepeu.

No primeiro time, há uma opção divertida por sons “espaciais”, que aproximam músicas fortes e balançadas como “Sexo Frágil” e “A Paz Sonhada” de um certo jazz fusion setentista. Não chega a soar datado, por suas doses de ousadia musical. 

A inesgotável “baianidade” forma bloco com “Aos Poucos”, letra de Nando Reis, e “Amor em Construção”, com o grupo de rock baiano Vivendo do Ócio, que prova como o exímio guitarrista esconde um cantor vigoroso e afinado. É a faixa com mais jeitão de hit.

“Tempestades” tem letra de Arnaldo Antunes e é o momento mais relaxado do disco. Forma, na parte final do álbum, uma apoteose encantadora com “Não Move Nada” (parceria com Zélia Duncan) e “José”.

Inclassificável, Pepeu provavelmente é o grande guitarrista brasileiro. Quem assistir aos shows de lançamento do álbum em São Paulo, no primeiro final de semana de 2019, vai acabar concordando.

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