Descrição de chapéu

Livro sobre feminismo mostra a importância de escrever como uma garota

Autoras discordam de opiniões expressas no volume e editora fará alterações em novas versões

Marcella Franco

EXPLOSÃO FEMINISTA

  • Autor Heloisa Buarque de Hollanda
  • Editora Companhia das Letras
  • Preço R$ 69,90 (536 págs.); R$ 39,90 (ebook)

Em seu novo livro, a escritora e professora Heloisa Buarque de Hollanda, uma das vozes brasileiras mais ativas nas lutas das mulheres, conta ter descoberto seu feminismo no início da década de 1980. São, no entanto, pouquíssimos os detalhes que a autora compartilha sobre si mesma na recém-lançada publicação —é que “Explosão Feminista” (Companhia das Letras) não trata de uma feminista, mas, sim, de todas, e tampouco é sobre um feminismo apenas. 

Apresentado como um “livro-ocupação”, ele abre espaço para quase 30 mulheres assinarem, junto com suas colaboradoras, textos a respeito da chamada quarta onda feminista, que, no Brasil, teve início após as manifestações de 2013, e que, no mundo, já se desenhava havia cerca de dois anos, apoiada na força da internet e das redes sociais.

 Exemplos marcantes da quarta onda foram, por exemplo, a criação da Marcha das Vadias em 2011, no Canadá, e, em caráter nacional, a veloz mobilização após a aprovação, em 2015, do projeto de lei de Eduardo Cunha que dificultava o acesso de vítimas de estupro a cuidados médicos.

 

Na primeira das quatro partes, três subcapítulos cuidam justamente de contextualizar o movimento. No comandado por Cristiane Costa, professora da Escola de Comunicação da UFRJ, surge a conexão com a tecnologia, exemplificada por meio do poder de hashtags como #PrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto.  

A segunda parte aponta o curso atual nas artes, poesia, cinema, teatro, música e na academia. Aparecem temas como o pós-pornô consequente das porn wars (embates entre militantes pró-sexo e antipornografia) dos anos 1980, o levante em Hollywood e no audiovisual brasileiro, e os casos de assédio no ambiente acadêmico.

Antes de abrir espaço para as “veteranas”, na parte final, o livro cumpre o que talvez seja seu mais importante papel ao enumerar os feminismos das minorias. Junto com análises dos grupos indígena, asiático, trans e lésbico, um profundo ensaio do feminismo negro joga luz sobre a opressão do próprio movimento ao insistir no conceito universal de mulher baseado na mulher branca.

A escritora Heloisa Buarque de Hollanda durante debate na Flip, em 2016
A escritora Heloisa Buarque de Hollanda durante debate na Flip, em 2016 - Keiny Andrade/Folhapress
A obra ressalta que nenhum fluxo da humanidade é construído sozinho, e sim com o acúmulo de experiências e aprimoramento constante. É uma publicação rica e que, embora não tenha sido escrita com esse propósito, tem potencial para se transformar em uma obra de referência, além de demonstrar a importância não só de se lutar como uma garota, mas também de se escrever como uma.
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