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Sem editoras, Amazon negocia direto com agentes e lança coleção brasileira de contos inéditos

Seleção traz em e-book textos de 30 autores, como Vanessa Barbara e Míriam Leitão, a R$ 1,99 cada um; editores veem 'momento de repactuação' do mercado

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São Paulo

A Amazon lançou nesta terça (4) a coleção de contos Identidade, com 30 obras inéditas em formato e-book.

Em parceria com Lucia Riff, Luciana Villas-Boas e Marianna Teixeira, três das principais agentes literárias do país, a iniciativa reúne 30 autores brasileiros contemporâneos.

A lista inclui Vanessa Barbara, Míriam Leitão e Edney Silvestre, além de nomes como Aline Bei, André de Leones, Cíntia Moscovich, Carlos Eduardo Pereira, Marcelo Moutinho, Sérgio Abranches, Luize Valente e Adriana Lunardi.

Os contos podem ser adquiridos individualmente, a R$ 1,99 cada um, ou em três antologias temáticas, cada uma com dez textos, por R$ 9,90 no site amazon.com.br/colecaoidentidade: “Selvageria”, com obras de autores da Agência Riff; “Pessoas Bacanas”, com criações da MTS Agência de Autores, e “Histórias para Tempos de Crise”, da Agência Villas-Boas & Moss.

Assinantes do Kindle Unlimited têm acesso às obras sem pagar nada, e todos os dias até 4 de janeiro de 2019 um dos títulos estará em destaque no site da Amazon, vendido ao preço promocional de R$ 0,90 cada um.

Nascida em maio, a partir de contato entre as agentes literárias e Talita Taliberti, gerente do Kindle Direct Publishing da Amazon, a iniciativa ganha pertinência no contexto de crise do mercado de livrarias, delineado pelas quedas da Cultura e da Saraiva —a última pediu recuperação judicial há duas semanas.

“Embora a dimensão da tragédia ainda não estivesse tão clara, já achávamos que seria interessante para valorizar o gênero conto e bons autores brasileiros aos quais falta espaço de publicação”, diz a agente literária Luciana Villas-Boas.

Para ela, o projeto pode ajudar a abrir ainda mais o universo digital à ficção, à semelhança do que já acontece com outros gêneros, como o jovem adulto, de títulos como “Harry Potter”, e o erótico.

“Reunimos nomes premiados e promissores em uma seleção com curadoria de qualidade e preço baixo”, afirma Ricardo Garrido, gerente de aquisição do Kindle, da Amazon.

Ele lembra outras ações de fomento da empresa, como o Prêmio Kindle de Literatura, parceria com a editora Nova Fronteira que chegou à terceira edição, e afirma que a ideia da gigante virtual é fomentar a exposição de toda a obra dos escritores envolvidos —no site da coleção, é possível conhecer os perfis dos autores e acessar outros livros que eles publicaram.

Projeto vem em momento de 'repactuação geral' do mercado de livros

A novidade chama a atenção por excluir as editoras do processo, possibilitando a publicação de obras literárias por meio de uma espécie de ligação direta entre autores/agentes e a maior rede varejista do mundo no setor.

Para um editor de uma grande casa nacional que preferiu não se identificar, a novidade se encaixa no contexto de “um momento de repactuação geral”, em que a crise do mercado “impulsiona os atores tradicionais do meio a inventar novos formatos”.

Recentemente, a demanda por repensar e inovar foi manifestada por Luiz Schwarcz, presidente do Grupo Companhia das Letras.

“Aos que, como eu, têm no afeto aos livros sua razão de viver, peço que espalhem o desejo de comprar livros neste final de ano, dos seus autores preferidos, de novos escritores, em livrarias que sobrevivem heroicamente”, escreveu em carta aberta publicada na semana passada.

Na mesma lógica de experimentação, algumas editoras têm investido em modelos de venda direta, sem a intermediação das lojas.

Em jogo está uma revisão do modelo financeiro. Enquanto no formato tradicional autores e agentes literários recebem das editoras entre 10% e 25% do valor do livro, na coleção Identidade eles ganham da Amazon cerca de 70% do preço de venda —que, por outro lado, é significativamente menor do que o valor de um livro.

Agentes literários minimizam o conflito com as editoras. Segundo profissionais ouvidos pela Folha, a coleção não foca autores consagrados ou contos canônicos.

Além disso, dizem, a publicidade sobre os autores envolvidos no projeto poderá estimular também a venda de obras deles que foram —ou serão— publicadas por editoras.

Especialistas veem ganho também para a Amazon, principalmente pela elevação do nível da ficção que fomenta —a plataforma tem uma ferramenta de autopublicação para novos autores, mas críticos apontam baixa qualidade desse conteúdo.

Para os escritores dedicados aos contos, a novidade minimiza a escassez de holofote —ao contrário dos Estados Unidos, onde revistas e coletâneas publicam textos de novos autores, no Brasil esse é um mercado escasso.

Críticos literários também veem uma valorização dos contos, que nas últimas décadas teriam perdido espaço no país, com exemplos inclusive de autores afeitos ao gênero que passam a escrever romances para terem mais chances de consolidar a carreira.

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