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Verão terá odor cítrico, com limão e drinques como gim tônica

Perfumistas criam cheiros complexos com bergamota calábria, limão siciliano e até fumaça

SÃO PAULO, SP, BRASIL,--17/06/2011,18 h00 : Limões da Quitanda Natural da Terra.(Foto: Karime Xavier/ Folhapress.( COMIDA ).***EXCLUSIVO*** * Folhapress

Pedro Diniz
São Paulo

Após anos de uma intoxicação alimentar de glicose, propiciada pelos perfumes “gourmand”, tipo de fragrância baseada em notas comestíveis como baunilha, chocolate e caramelo, a perfumaria mundial tomou injeção de vitamina C ao transformar os cítricos no cheiro da vez.

O verão europeu deu a deixa para essa aparente super-safra de limões, sicilianos ou negros como os que a Hermès envasou no aclamado Eau de Citron Noir, e lançou ainda a bergamota da Calábria, o mais nobre dos cítricos, como nota surpresa dessa onda ácida.

Não é o que os perfumes cítricos um dia tenham saído das prateleiras, mas foi neste ano —e considerando os primeiros anúncios da indústria, também será em 2019 —que eles foram trabalhados pela “perfumaria de nicho”, um segmento da indústria calcado em matérias-primas luxuosas e misturas inusitadas.

No caso dessa colônia fresca da Hermès, a perfumista Christine Nagel misturou diversas espécies do limão com madeira, fumaça e até chá preto para chegar a um odor que não remete nem à marcante perfumaria masculina nem à adocicada feminina.

“É um bom exemplo dessa nova corrente de fazer cítricos que durem mais de duas horas na pele, porque é muito difícil fazer um cheiro como esse fixar por muito tempo”, explica a diretora de marca da Drom Fragrances, Renata Abelin.

Entre os lançamentos da casa alemã neste ano está o Zimbro, da Phebo. Inspirado no drinque gim tônica, ele foi confeccionado com álcool extra neutro e toques picantes, madeira e conhaque.

É como se, de forma bem humorada, as marcas estivessem regando seus perfumes em álcool etílico e fumaça, para fazer um verão que emule uma festa na praia, mas que também sirva para a noite.

Bom exemplo dessa relação de escape da cidade é o Biarritz, um dos três novos perfumes da linha Les Eaux de Chanel que a casa francesa vende como grandes apostas para os próximos meses.

Como se quisesse emular o cheiro da água salgada, o perfumista Olivier Polge uniu laranja, pomelo e toranja para emular uma espécie de mergulho. A fragrância meio aquosa, meio ácida remete a dias livres em regiões costeiras e dá uma persistente sensação de banho de mar.

Pode parecer que todas essas características não justificam essa explosão cítrica incrustada nas casas nobres de perfumaria, mas a alta-costura das fragrâncias percebeu que, pelo menos sob o sol, o “aroma de lastro”, persistente, combina mais do que as notas temperadas a conta gotas.

Principalmente para o Brasi, que, segundo Abelin,  não aceita cheiro se ele não persistir e seja sentido pelos outros.

“É uma herança do período colonial, quando os ex-escravos, para se integrar à sociedade, adotaram os cheiros trazidos pelos colonizadores, como a lavanda e o pinho, hoje muito vinculados no Brasil a produtos de limpeza, mas ainda nobres na Europa”, explica.

É dessa sina de estar sempre perfumado que o país é um dos maiores consumidores de perfumes do mundo, com as vendas de cosméticos, higiene e beleza batendo a casa dos R$ 101 bilhões, segundo levantamento feito em 2017 pela Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos.

Mas a especialista alerta que, para o país, limão demais não faz boa limonada, e exatamente pela herança olfativa do período colonial.

“Aqui, produtos de limpeza têm limão e laranja em sua composição, então, quando se cria aqui no país, os perfumistas têm o cuidado de que a fragrância não fique muito funcional, porque não vai vender”, explica Abelin.

“Infelizmente, por isso o brasileiro ainda não sabe reconhecer a beleza de um cítrico complexo. Mas caminhamos para um caminho mais fresco.” E ácido.

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