Zé Manoel é comparado a Chico Buarque e se lança com os pés no chão

Pianista pernambucano se apresenta nesta quinta (20) no Teatro Itália

Marcella Franco
São Paulo

Em 2007, no Recife que ainda respirava o ar do manguebeat, um pianista de suspensórios desembarcou para estudar música. Zé Manoel, nascido a 700 km dali, em Petrolina, desejava se enturmar com os compositores que movimentavam Pernambuco, mas imaginava que não fosse ser bem recebido.

Tocava samba-canção e bossa nova, vinha de conservatório e morria de medo de ser considerado careta.

"Tive essa crise sobre quem eu era naquele movimento. Não queria o rótulo, mas sempre respeitei muito o que vinha de mim", relembra Zé Manoel, 37, que acabou aceito e construiu uma carreira fiel à sua base romântica.

Ele veio a São Paulo seguindo a sugestão da amiga Xênia França, que ofereceu um lugar para morar e ajuda para entrar no cenário musical local. "Aqui, sou preto e sou tratado como preto", avalia.

"Estou aproveitando para entrar mais nisso e falar mais de questões da negritude. Embora faça MPB, tenho ouvido muita coisa de música negra americana, autores novos."

Egresso do piano clássico, que estudou desde a infância as obras de Chiquinha Gonzaga, standards de jazz e Chopin, Zé Manoel ocupa um lugar raro para músicos negros fora do Sudeste. "Aos 19 anos eu me dei conta de que fazer o que eu fazia tinha um ponto social. Eu estava atrás de um piano. É massa quebrar esses paradigmas do que as pessoas esperam para você."

Foi trabalhando por três meses em um navio de turismo, há dez anos, que ele teve a ideia de gravar o primeiro EP. "Sempre fui muito envergonhado. Nos festivais era mais ou menos tranquilo, chegava, tocava minhas coisas e ia embora", conta. "No navio, perdi de vez o medo de cantar no palco, e ali pensei em construir uma carreira."

Gravou o EP "Zé Manoel" em 2009 e depois um CD de mesmo nome, em 2012, com participação de músicos como Adelson Silva, da SpokFrevo Orquestra. Em 2013, foi selecionado por um edital da Natura Musical e embarcou no disco "Canção e Silêncio", com produção de Carlos Eduardo Miranda, morto em março, e de Kassin, famoso por seu trabalho com os Los Hermanos.

Por vezes comparado a Chico Buarque ou a Tom Jobim, diz não se importar. "É normal, em um processo de busca de quem a gente é, se aproximar de quem gostaria de ser. Mantenho os pés no chão."

Zé Manoel e Diogo Strausz

Quinta (20), às 21h. Teatro Itália, av. Ipiranga, 344. R$ 40

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