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Cinema Oscar 2019

'A Esposa' tem bela interpretação de Glenn Close e argumento óbvio

Filme segue princípios de uma nova era com a mudança radical do estatuto da mulher

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Cena de 'A Esposa'
Glenn Close interpreta Joan Castleman em 'A Esposa' - Divulgação

A Esposa

  • Quando Estreia nesta quinta (10)
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Glenn Close, Jonathan Pryce, Christian Slater
  • Produção Estados Unidos, Reino Unido, Suécia (2017)
  • Direção Björn Runge

Se um filme se chama “A Esposa” e gira em torno do famoso escritor Joe Castleman (Jonathan Pryce) que ganha o Nobel e vai até Estocolmo, em companhia da mulher, para a cerimônia de entrega do prêmio, já sabemos mais ou menos do que se trata.

Por trás de um grande homem existe sempre uma grande mulher —acreditávamos no passado. Mas mudaram os tempos, e o filme segue os princípios da nova era: Joan Castleman (Glenn Close) é bem mais que uma prendada senhora que, dia e noite, aguenta o marido para que ele chegue, finalmente, à glória.

E Joe Castleman, acredite, é de um narcisismo feroz. Isso é que vai se revelar ao longo da viagem. E através da longa, penosa, não raro ridícula cerimônia do Nobel que se realiza em Estocolmo. Talvez seja ela o centro do espetáculo, com aqueles senhores curvando-se que nem dobradiça (Céline escreveu), em reverência não se sabe se ao rei da Suécia, à glória ou ao cheque que virá.

Mas a ele deve se somar o drama: quanto mais o filme evolui, mais frágil parece a figura do escritor.  O aparecimento de Nathaniel Boone (Christian Slater) começa a embaralhar a coisa, ou seja, é por ele que começamos a saber algumas coisas a respeito do passado de Joe, como jovem professor de literatura. Se de início essas informações funcionam como esteio e explicação do amor entre Joe e Joan, assim como explicam a futura glória do escritor, aos poucos elas se tornam incômodas.

Sabemos que Joan era uma jovem aluna de Joe e uma escritora não desprovida de talento. Eis o primeiro sinal grave de sacrifício: a jovem assimila seu futuro ao do próprio marido e renuncia à própria carreira.

Impossível supor que tal comportamento não suscitará, mais cedo ou mais tarde, amargos ressentimentos. Sobretudo agora que o estatuto da mulher mudou tão radicalmente. Para completar o quadro, David, o filho do casal, é um jovem escritor que espera com ansiedade e amargor a aprovação paterna, que aliás nunca chega (Joe só pensa em si, sabemos).

O diretor sueco Björn Runge leva com medíocre honestidade esse argumento óbvio; Glenn Close consegue por momentos, e graças a si própria, tirar uma bela interpretação de seu personagem (parece haver sutilezas e não ditos em Joan que vêm mais da atriz do que da própria personagem). Ela consegue transmitir, e muito bem, uma ideia, também, do que seja o amor conjugal.

O que mais retém a atenção do espectador, no entanto, não é nem o drama dos Castleman nem o espetáculo do Nobel ou a interpretação de Close. O que de fato se nota é a investida da indústria do tabaco na tentativa de recuperar espaço nos corações, mentes e pulmões. Apenas um exemplo: depois de anos e anos sem fumar, por ordem do tirânico marido, ela consegue se livrar dele por um tempo e, ah, que prazer, fumar um cigarro.

É verdade que logo depois volta ao quarto do hotel e leva a maior bronca de Joe. Isso é o de menos: nessa hora já sabemos que Joe é o vilão da história.

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