Letrista de hits da MPB como 'Evidências' e 'Samba de Verão' conta carreira em livro

Paulo Sérgio Valle teve canções gravadas por Elis, Milton, Ivete e Chitãozinho e Xororó

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Os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle nos anos 1970
Os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle nos anos 1970 - Divulgação
São Paulo

​​​Autor de clássicos da bossa nova como “Samba de Verão” e “Ao Amigo Tom”, o letrista Paulo Sérgio Valle hoje é mais conhecido por ter composto “Evidências”, canção que estourou em 1990 na interpretação de Chitãozinho e Xororó e até hoje é uma das mais ouvidas do país.

“’Evidências’ é um fenômeno. É inacreditável, um sucesso há mais de 25 anos em todo o Brasil e em vários países da América do Sul”, conta Valle. Foi composta no final dos anos 1980 em parceria com o cantor popular José Augusto. “Fizemos várias canções românticas, mas quando a música encontra o intérprete ideal, ela acontece.”

 

Autor de quase 900 músicas gravadas, Paulo Sérgio, 78, vive hoje confortavelmente de seus direitos autorais. “Sou um cara organizado”, diz ele, que atua como presidente da União Brasileira dos Compositores. Em alguns meses, ele conta, “Evidências” fatura mais do que todas as outras juntas.

Histórias como essa estão agora reunidas no livro “Contos e Letras – Uma Passagem pelo Tempo”, que Valle lança nesta segunda (14) no Rio de Janeiro. É seu sétimo livro, entre romances, memórias e poesias, mas este é o único que abarca toda sua carreira musical (mas não só ela).

“Não é uma autobiografia porque não sou pretensioso”, brinca o músico. “A ideia é contar histórias dos amigos e parceiros, sem uma preocupação cronológica.” Desta forma, o livro vai e vem ao sabor de suas recordações, sem compromissos além de lembrar casos divertidos ou marcantes. A obra levou seis anos para ser escrita.

A carreira musical de Paulo Sérgio começou nos anos 1960, nas parcerias de bossa nova com seu irmão, Marcos Valle, que escrevia as melodias. Nos anos seguintes, teve diversos outros parceiros, e ele cita como uma de suas melhores uma música com Herbert Vianna, “Se Eu Não te Amasse Tanto Assim”, que virou hit na voz de Ivete Sangalo.

Outras preferidas são “Viola Enluarada”, sucesso com Milton Nascimento, e “Preciso Aprender a Ser Só”, na voz de Elis Regina.

A música, entretanto, é apenas parte das histórias que o letrista relata em sua nova obra. Com Herbert Vianna, por exemplo, a parceria aconteceu após uma amizade de anos que passava pela paixão de ambos pelos aviões. Valle dedica várias páginas ao amigo dos Paralamas do Sucesso, que quase morreu após um acidente com um ultraleve em 2001. Paulo Sérgio revela que foi ele quem introduziu o amigo ao universo dos ultraleves. Até então, Herbert pilotava helicópteros.

O avião é amigo de longa date de Valle. O livro começa relembrando sua carreira como piloto da companhia Cruzeiro do Sul. Ainda estudante de direito, o rapaz fez curso e voou por todo o Brasil em um DC-3 no início dos anos 1960. Muitos anos depois, chegou a ter uma pequena empresa de aviação agrícola para pulverizar plantações.

Valle também passou um bom tempo criando jingles para empresas e seu mais famoso é um para o fim de ano da Rede Globo, aquele “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, é de quem vier, quem quiser".

Mas poucos orgulhos se comparam a ser autor gravado por Roberto Carlos. A primeira canção foi em 1979, em parceria com o maestro Eduardo Lages, que comandava a orquestra do rei. Apesar de bastante próximos, Lages nunca tinha tudo uma música gravada pelo cantor. Recorreu, então, a Paulo Sérgio.

“Recebi um telefonema de Eduardo marcando um encontro. Não era simplesmente uma música que ele queria fazer comigo. Era um desafio: compor uma música para Roberto Carlos. Ora, todos os profissionais da indústria fonográfica sabem como é difícil entrar num disco do “Rei”. Todo mundo manda música para ele, e são poucas as faixas destinadas aos pretendentes. Afinal, Roberto e Erasmo são excelentes compositores e escreviam de cinco a seis temas para cada disco. Sobravam quatro faixas a serem preenchidas.”

Após algumas semanas, a dupla entregou uma fita com "Às Vezes Penso" ao rei. “Ansiosos, esperamos um longo tempo para que Roberto se manifestasse. Não tínhamos coragem de perguntar se ele havia gostado, até que o Eduardo ouviu a frase tão esperada: Bicho, que coisa bonita vocês fizeram! Sem dúvida, começava bem nossa parceria”.

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