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Musical canta duelo emotivo de Nelson Gonçalves

Biografia do compositor conta a vida e a carreira do 'rei do rádio' por meio de extremos da sua personalidade

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São Paulo

Nelson Gonçalves deixou impresso no cancioneiro sofrido, no jeito boêmio e na fama de briguento todo seu turbilhão emotivo.

E é bem dessa personalidade turbulenta do cantor, cujo centenário é celebrado neste ano, que o musical "Nelson Gonçalves - O Amor e o Tempo", que estreia no Rio, pinça sua trama. Não se trata, assim, de uma narrativa tradicional de espetáculos biográficos, e a figura do cantor não é representada por um ator, que o mimetiza. O que está em cena é sua psique.

Por meio de um casal de atores, veem-se dois extremos: a emoção (Guilherme Logullo) e a razão (Jullie). "Eles representam quase que uma discussão interna de qualquer ser humano", explica a diretora Tânia Nardini. "E Nelson foi um desses seres humanos que teve muitos conflitos internos."

A dramaturgia de Gabriel Chalita alterna as dualidades do cantor, 33 músicas de seu repertório e dados biográficos. 

Por vezes, os atores ficam ao centro do palco, como se fizesse um show, noutras se colocam cada qual numa ponta do palco, como num camarim. Ali, conversam com o espelho, como se falassem com os próprios pensamentos.

Mas muito da dualidade fica nas canções. "Tudo o que é mais sofrido sai da boca dela [Jullie], o que é mais alegre, da minha", diz Logullo, que idealizou e produz a peça. "E, no caso de canções que nós dois interpretamos, eu canto de uma maneira apaixonada, ela vai para o lugar do sofrer."

Os altos e baixos permearam não só a vida de Nelson Gonçalves, mas também a sua carreira. Tido como um dos maiores cantores brasileiros, ganhando a alcunha de "rei do rádio", foi um dos maiores vendedores de discos do país —foram mais de 80 milhões.

Fez fama em especial entre os anos 1940 e 1950, quando gravou alguns de seus maiores sucessos, como "A Vida do Boêmio", "Êxtase" e "Mariposa".

Mas se viu envolto em polêmicas por seu consumo de drogas, que o tirou da cena musical. Até foi preso, em 1965, por porte de cocaína.

Muitas das histórias de valentia vieram do cárcere. "Cheguei à prisão e logo dei um soco na cara do preso que mandava no local. Disse que dali em diante nós dois seríamos os chefes, e todo mundo passou a me respeitar", contou.

Noutra declaração, afirmava já ter levado um tiro de traficante. "Mas dizia que era pedrada, porque nesse mundo ninguém entrega ninguém."

Não tinha problema em falar de seu vício, que disse ter largado nos anos 1970, nem das intrigas. "Ele foi talvez o primeiro a falar sobre o uso de drogas, foi muito corajoso", afirma Logullo, que em cena passa pelo declínio e o ressurgimento de Nelson, quando chegou a gravar rock e pop, como composições de Kid Abelha e Paralamas do Sucesso.

"Mas ele sempre gravava com a identidade dele", diz o ator. "Ele falava muito como a memória do brasileiro é curta, que tinha medo de ser esquecido." Tanto que o espetáculo abre com os versos de "Quando Eu me Chamar Saudade", na qual Nelson diz que será esquecido depois de morrer. E conclui, na sua filosofia boêmia: "Se alguém quiser fazer por mim/ Que faça agora". 

Nelson Gonçalves - O Amor e o Tempo

  • Quando Sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h30. Até 24/2
  • Onde Teatro Clara Nunes - shopping da Gávea, r. Marquês de São Vicente, 52, Rio
  • Preço R$ 50 a R$ 100
  • Classificação Livre
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