Descrição de chapéu Cinema Oscar 2019

Oscar marca triunfo da Netflix e dos heróis em meio a temporada de difamações

Cerimônia sinaliza desfecho de vários fenômenos cinematográficos da década

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Cena do filme 'Pantera Negra'

Cena do filme 'Pantera Negra' Divulgação

São Paulo

A próxima cerimônia do Oscar, marcada para 24 de fevereiro, terá sabor de desfecho. Para usar uma metáfora cinematográfica, será como se ela fosse o último filme de uma franquia e que tivesse como objetivo amarrar os fios soltos de uma trama.

No caso, os fiapos são os fenômenos que marcaram o horizonte do cinema nesta década. Da onipresença dos super-heróis à ascensão do streaming, passando pela pressão dos movimentos identitários, tudo de alguma forma deu as caras com o anúncio dos indicados, na manhã de terça (22).

O mais contundente dos feitos, claro, é o triunfo da Netflix, que há muito vinha preparando o terreno e conseguiu sua primeira indicação ao Oscar de melhor filme. "Roma", de Alfonso Cuarón, que concorre em dez categorias, é a cereja do bolo que o serviço sob demanda tanto almejava.

Esse status era o que faltava para a gigante do streaming criar estofo e fazer frente aos velhos estúdios de Hollywood. 

Não é coincidência que a empresa de internet esteja em "negociações avançadas", segundo o site Politico, para integrar a Motion Picture Association of America. Fundado há 97 anos, esse grupo de lobby reúne o "dinheiro velho" do setor: Disney, Warner, Fox etc.

Será curioso ver como um festival como o de Cannes, que tem se portado como guardião do cinema à moda antiga, continuará agindo em relação à força que, para o bem ou para o mal, mais revolucionou a indústria audiovisual nos últimos anos. 

As redes americanas AMC e Regal, que todo ano exibem as produções indicadas, informaram que "Roma" está vetado de seus complexos de salas.

O próprio Cuarón, em entrevista à Folha, minimizou o fato de que seu longa, tão bem lapidado, não fosse seguir o circuito nos cinemas.

"Um filme mexicano, em preto e branco e falado em espanhol jamais teria a distribuição que ele tem agora", disse.

O preto e branco solene da obra dá cor a uma Academia que, três anos atrás, foi fustigada por ser "branca demais". Nesta edição, os estrangeiros saem com enorme vantagem.

"A Favorita", que empata com "Roma" em dez indicações, tem um diretor grego, Yorgos Lanthimos. E na categoria de direção só dois dos indicados são americanos: Spike Lee ("Infiltrado na Klan") e Adam McKay ("Vice).

É um sinal, demagógico ou não, de que a Academia realmente quer ser vista como global.
Ainda assim, diretoras mulheres não foram contempladas nos prêmios principais, e só dois atores negros disputam as categorias possíveis; Mahershala Ali e Regina King.

A grita só não deve ser grande no último caso pelo fato de que três dos oito indicados à maior estatueta tratam de temas raciais, dois deles dirigidos por cineastas negros. Além de Spike Lee, há Ryan Coogler, de "Pantera Negra".

Este último, aliás, é a primeira história de super-herói indicada a melhor filme. 

Por um lado, é um reconhecimento ao gênero mais rentável dos últimos dez anos. Por outro, tem a ver com a maestria com que Coogler revirou uma fórmula pasteurizada embutindo questões que ressoam a condição da população negra nos Estados Unidos.

Outro feito inédito, e que diz respeito ao cenário do cinema na década, se deve às campanhas de difamação, cada vez mais frequentes, e que se desenrolam nos bastidores. Não seria um disparate dizer que esta seja a temporada de premiação mais "sangrenta". 

Praticamente todos os favoritos ao prêmio foram escaldados no tribunal das redes sociais por membros da própria indústria hollywoodiana.

O diretor e o roteirista de "Green Book" viram atitudes escusas de seus passados borbulharem. "Roma" foi chamado de "burguês". Spike Lee foi tachado de "policialesco". "Bohemian Rhapsody" foi chamado de "afronta" ao #MeToo devido às denúncias de assédio contra o diretor Bryan Singer.

Especialista em premiações da revista Variety, Kristopher Tapley notou que só "A Favorita" passou incólume. "Talvez os pecados da corte no século 18 já estejam prescritos", brincou, sobre o filme de época.

 

Veja a lista de indicados

Melhor filme
“Bohemian Rhapsody”
“A Favorita”
“Green Book: O Guia”
“Infiltrado na Klan”
“Nasce uma Estrela”
“Pantera Negra”
“Roma”
“Vice”

Melhor direção
Yorgos Lanthimos, “A Favorita”
Spike Lee, “Infiltrado na Klan”
Pawel Pawlikowski, “Guerra Fria”
Alfonso Cuarón, “Roma”
Adam McKay, “Vice”

Melhor atriz
Glenn Close, “A Esposa”
Lady Gaga, “Nasce uma Estrela”
Yalitza Aparicio, “Roma”
Olivia Colman, “A Favorita”
Melissa McCarthy, “Poderia Me Perdoar?”

Melhor ator
Rami Malek, “Bohemian Rhapsody”
Viggo Mortensen, “Green Book: O Guia”
Bradley Cooper, “Nasce uma Estrela”
Christian Bale, “Vice”
​Willem Dafoe, “No Portal da Eternidade” 

Melhor atriz coadjuvante
Regina King, “Se a Rua Beale Falasse”
Amy Adams, “Vice”
Emma Stone, “A Favorita”
Rachel Weisz, “A Favorita”
Marina de Tavira, “Roma”

Melhor ator coadjuvante
Mahershala Ali, “Green Book”
Richard E. Grant, “Poderia Me Perdoar?”
Sam Elliot, “Nasce uma Estrela”
Adam Driver, “Infiltrado na Klan”
Samwell Rockwell, “Vice”

Melhor filme estrangeiro
“Roma”, de Alfonso Cuarón (México)
“Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski (Polônia)
“Assunto de Família”, de Hirokazu Kore-Eda (Japão)
“Cafarnaum”, de Nadine Labaki (Líbano)
“Never Look Away”, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemanha)

Melhor animação
“Os Incríveis 2”
“Homem-Aranha no Aranhaverso”
“Mirai”
“Ilha dos Cachorros”
“WiFi Ralph: Quebrando a Internet”

Melhor documentário
“Free Solo", de Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi
“Hale County This Morning, This Evening", de  RaMell Ross
“Minding the Gap", de Bing Liu
“Of Fathers and Sons", de Talal Derki
“RBG", de Betsy West e  Julie Cohen

Melhor roteiro original
“A Favorita”
“Green Book: O Guia”
“Roma”
“Vice”
“First Reformed”

Melhor roteiro adaptado
“Infiltrado na Klan”
“Nasce uma Estrela”
“Poderia Me Perdoar?”
“Se a Rua Beale Falasse”
“A Balada de Buster Scruggs”

Melhor direção de fotografia
“Roma”
“Never Look Away”
“A Favorita”
“Nasce uma Estrela”
“Guerra Fria”

Melhor direção de arte
“A Favorita”
“Pantera Negra”
“O Retorno de Mary Poppins”
“O Primeiro Homem”
“Roma”

Melhor montagem
“Bohemian Rhapsody”
“Green Book” 
“A Favorita” 
“Vice” 
“Infiltrado na Klan”

Melhor trilha sonora
“Se a Rua Beale Falasse”
“Pantera Negra”
“O Retorno de Mary Poppins”
“Ilha dos Cachorros”
“Infiltrado na Klan”

Melhor canção original
“All The Stars”, de “Pantera Negra"
“I’ll Fight”, de “RBG”
“The Place Where Lost Things Go”, de “O Retorno de Mary Poppins”
“Shallow”, de “Nasce uma Estrela”
"When A Cowboy Trades His Spurs For Wings”, de  “A Balada de Buster Scruggs"

Melhor edição de som
“O Primeiro Homem”
“Pantera Negra”
“Um Lugar Silencioso”
“Bohemian Rhapsody”
“Roma”

Melhor mixagem de som
“O Primeiro Homem”
“Pantera Negra”
“Nasce uma Estrela”
“Bohemian Rhapsody”
“Roma”​

Melhor figurino
“A Favorita”
“Pantera Negra”
“O Retorno de Mary Poppins”
“Duas Rainhas”
“A Balada de Buster Scruggs”

Melhor maquiagem e penteado
"Border"
"Duas Rainhas"
"Vice"

Melhores efeitos visuais
“O Primeiro Homem”
“Vingadores: Guerra Infinita”
“Jogador Nº 1”
“Christopher Robbin: Um Reencontro Inesquecível”
“Han Solo: Uma História Star Wars”

Melhor curta-metragem
“Detainment", de Vincent Lambe
“Fauve", de Jeremy Comte
“Marguerite", de Marianne Farley
“Mother", de Rodrigo Sorogoyen
“Skin", de Guy Nattiv

Melhor curta documental
“Black Sheep", de Ed Perkins
“End Game", de Rob Epstein e Jeffrey Friedman
“Lifeboat", de Skye Fitzgerald
“A Night at the Garden", de Marshall Curry
“Period. End of Sentence.", de Rayka Zehtabchi

Melhor curta de animação 
"Animal Behaviour", de Alison Snowden e David Fine
“Bao", de Domee Shi
“Late Afternoon", de Louise Bagnall
“One Small Step", de Andrew Chesworth, Bobby Pontillas
“Weekends", de Trevor Jimenez

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