R. Kelly e Michael Jackson são acusados de abuso em filmes

Documentários ouvem menores de idade que teriam sido vítimas dos músicos

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O cantor R. Kelly em novembro 2013
O cantor R. Kelly em novembro 2013 - Mario Anzuoni/Reuters
São Paulo

“Você gosta de meninas adolescentes?”

“Quando você diz adolescentes, de quantos anos de idade nós estamos falando?”

A pergunta e a resposta acima são de uma entrevista feita em 2008 pelo jornalista-americano Touré com o cantor R. Kelly.

A entrevista foi realizada pouco tempo depois de Kelly ter sido inocentado de 14 acusações de pornografia infantil contra menores de idade. A principal peça da promotoria naquele caso era um vídeo de 27 minutos que mostra um homem, supostamente R. Kelly, tendo relações sexuais com uma menina que teria 14 anos. 

A gravação foi descoberta e entregue à polícia pelo jornalista Jim DeRogatis, do Chicago Sun-Times. Ela data de 2001, quando o cantor tinha 34 anos.

Em julho de 2017, o mesmo DeRogatis publicou no Buzzfeed uma enorme reportagem em que acusa Kelly de comandar uma espécie de seita sexual em que ele mantinha seis meninas longe de suas famílias e controlava o que elas comiam, como se vestiam e com quem falavam ao telefone. O cantor nega todas as acusações.

Um dos principais nomes da música pop americana (com mais de 30 milhões de cópias de discos vendidos; três troféus no Grammy; colaborações com Lady Gaga, Jay-Z, Céline Dion, Whitney Houston, Justin Bieber, entre muitos outros), R. Kelly é alvo de denúncias de abuso sexual contra menores desde o final dos anos 1990. 

A partir de entrevistas com dançarinas, cantoras de apoio, empresários e assessores que foram próximos ao cantor, o documentário “Surviving R. Kelly” esmiúça as acusações contra o autor de hits como “I Believe I Can Fly”.

Com roteiro e direção de Nigel Bellis e Astral Finnie, o filme tem cerca de seis horas, divididas em seis episódios que foram exibidos nos Estados Unidos pelo canal Lifetime entre 3 e 5 de janeiro —ainda não há exibidor no Brasil.

Com média de quase 2 milhões de espectadores por episódio, o documentário praticamente monopolizou o noticiário pop neste início de ano, principalmente nos Estados Unidos. Lady Gaga soltou um comunicado em que se diz arrependida por ter chamado R. Kelly para participar da música “Do What You Want”, de 2013, e que tiraria a canção das plataformas de streaming.

“O que estou ouvindo sobre as acusações contra R. Kelly é absolutamente assustador e indefensável. Sinto muito, tanto pela minha má atitude de quando era mais jovem quanto por não ter falado nada mais cedo”, escreveu a cantora no Twitter.

Outros que também trabalharam com Kelly e pediram desculpas foram o rapper Chance the Rapper e a banda francesa Phoenix.

Um dos depoimentos mais fortes do documentário é o da cantora de apoio Jovante Cunningham, que excursionava com R. Kelly.

Ela afirma que, em um ônibus utilizado em turnês, viu o cantor fazendo sexo com a então novata Aaliyah.

“Nós passamos por muita coisa, vimos muita coisa. Ele destruiu muita gente, não sei dizer o quanto as pessoas ainda sofrem por coisas que aconteceram 20 anos atrás.”

O episódio no ônibus teria ocorrido pouco antes de Kelly e Aaliyah se casarem, em 1994. Ele tinha 27 anos. Ela, 15. A cantora teve documentos que falsificavam sua idade para 18 anos. A pedido da família dela, o casamento foi anulado seis meses depois. Talentosa cantora, Aaliyah morreu em um acidente de avião em 2001.

Em 1996, Kelly se casou com Andrea Lee, que era uma dançarina de seus shows. O casamento durou até 2009. Lee acusa Kelly de ter sido várias vezes agredida por ele.

Uma das três filhas do casal, a cantora Buku Abi (cujo nome real é Joann Kelly), escreveu na semana passada em sua conta no Instagram: “Rezo por todas as famílias e mulheres que foram afetadas pelas ações do meu pai. Acreditem, eu fui profundamente afetada por tudo isso. O mesmo monstro que vocês estão enfrentando é o meu pai. E sei muito bem quem e o que ele é. Eu cresci naquela casa”.

Em meio ao movimento #MeToo, que procura revelar e combater o abuso sexual, outro documentário aponta a câmera para uma celebridade pop acusada de abuso sexual contra menores.

Além de elencar as principais denúncias contra Michael Jackson, “Leaving Neverland” joga luz principalmente sobre a relação entre o cantor e dois meninos —hoje homens na faixa dos 30 anos. Os dois afirmam que foram molestados sexualmente pelo cantor quando tinham sete e dez anos de idade.

Em junho de 2005, Jackson foi inocentado de dez acusações, entre elas a de ter molestado sexualmente um menino de 13 anos.

“Leaving Neverland” será exibido pela primeira vez no Festival Sundance, que será realizado nos EUA entre 24 de janeiro e 3 de fevereiro. Já foi comprado pelo britânico Channel 4 e pela HBO.

Os representantes do espólio do cantor disseram em comunicado que o documentário é “mais uma produção ultrajante e patética que tenta explorar e lucrar com Michael Jackson”.

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