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Stephen King se queixa de fim de resenhas literárias e jornal pede ajuda

Em crise, diário americano que não publicaria mais críticas fez apelo ao renomado autor

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Stephen King em Nova York, em 2018 - Krista Schlueter/The New York Times
Sarah Mervosh

Quando o maior jornal diário do estado americano do Maine decidiu deixar de publicar resenhas de livros regionais, a reação foi de indignação entre os escritores locais —especialmente um deles.

O renomado autor Stephen King, residente em Bangor, Maine, protestou no Twitter, dizendo que o jornal estava acabando com a divulgação da qual os escritores locais dependem "para poder comprar leite e pão" e incentivando seus mais de 5 milhões de seguidores a tomar medidas.

"Reproduza este tuíte se você é do estado (ou mesmo que não seja)", ele tuitou há duas semanas. "Diga ao jornal para NÃO FAZER ISSO."

O jornal em questão, The Portland Press Herald, reagiu imediatamente, lançando um desafio: se King conseguisse convencer seus seguidores a adquirir cem assinaturas digitais, as resenhas voltariam a ser publicadas.

A discussão se disseminou rapidamente nas redes sociais, enquanto o Press Herald liderava uma campanha para angariar assinaturas. "Apostamos que um retuíte de @StephenKing nos faria alcançar nosso objetivo", escreveu o jornal no Twitter na manhã do dia 12 de janeiro.

"Apresentação de vendas? Chantagem?", King escreveu de volta. "Seja como for, 71 pessoas assinaram o jornal até agora. Será que há mais 29 tuiteiros aí fora dispostos a pagar? Estou só perguntando."

Pessoas de todo o país se apressaram a assinar o jornal.

No domingo o Press Herald já havia conseguido o dobro de sua meta, com 200 assinaturas novas em menos de 48 horas, conforme informou Lisa DeSisto, executiva-chefe da MaineTodayMedia, que publica o Press Herald. O jornal se comprometeu a continuar a publicar as resenhas de livros sobre o Maine ou de autores do Maine.

"É uma história de Stephen King com final feliz", disse DeSisto, ecoando a reação expressa nas redes sociais após um post amplamente compartilhado no Twitter de King, conhecido por seus livros de horror.

Mas o incidente também chamou a atenção para as pressões financeiras sofridas por jornais locais, que têm sido fortemente atingidos por cortes de despesas.

De acordo com o Pew Research Center, o número de jornalistas que trabalham para jornais em todo o país caiu quase 50% entre 2008 e 2017. Na semana passada o Dallas Morning News demitiu 20 jornalistas, e o East Bay Express, jornal semanal alternativo da região da baía de San Francisco aclamado nacionalmente em 2016 por ter exposto um escândalo sexual na polícia, demitiu quase toda sua equipe editorial.

Quando o Press Herald avaliou suas finanças para 2019, um editor escreveu aos jornalistas freelancers que escrevem as resenhas de livros regionais para lhes informar que o jornal não poderia mais pagar pelo trabalho deles.

"Como muitos outros jornais, tivemos que tomar algumas decisões difíceis quanto a quem poderíamos continuar pagando", explicou DeSisto.

Mas escritores locais lamentaram a decisão imediatamente —e publicamente.

"A cobertura local pelo jornal de maior circulação no estado é crucial para os escritores e suas editoras", disse Joshua Bodwell, diretor executivo da Aliança de Escritores e Editoras do Maine. Sua organização lançou uma petição pedindo que o jornal revisse sua decisão e também entrou em contato com Stephen King.

DeSisto contou que funcionários do Press Herald viram o post de King no Twitter minutos depois de ser publicado e rapidamente montaram uma promoção oferecendo uma assinatura de 12 semanas por apenas US$ 15, ou R$ 56. Os códigos da promoção —"King" e "Carrie"— são uma homenagem ao escritor e ao romance de horror que o tornou conhecido.

"Esta oferta é assustadoramente boa", escreveu DeSisto no Twitter.

Algumas pessoas criticaram o jornal por ter oferecido trazer as resenhas de livros de volta apenas em troca de assinaturas —"a palavra 'chantagem' foi empregada", disse Bodwell—, mas DeSisto elogiou seus funcionários por terem pedido à comunidade que pagasse pelo jornalismo que ela deseja.

"Nós tampouco queríamos tirar as resenhas", ela explicou. "Precisávamos expor com mais franqueza as dificuldades que estamos enfrentando e explicar que precisamos do apoio dos leitores."

Tradução de Clara Allain

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