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'Tá no Ar' mantém vigor e provoca na reta final

Humorístico de Marcelo Adnet e Marcius Melhem estreia última temporada com mistura de política e memória

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Tá no Ar

  • Quando Às terças, na faixa das 23h
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George Costanza, o mesquinho personagem vivido por Jason Alexander em “Seinfeld” , ensina que é melhor sair no auge de uma piada do que se arriscar a prolongar o momento de glória e receber de volta sorrisos amarelos. A regra é vital na comédia: está dando certo? Não force. Você conseguiu o que queria, encerre aqui.

Marcelo Adnet, Marcius Melhem e Maurício Farias levaram a premissa a sério e, após seis temporadas, decidiram matar o melhor programa de humor da TV brasileira nesta década, o “Tá no Ar”. E o fazem em ótima forma, ao menos pelo que promete o primeiro episódio deste ano derradeiro, exibido pela Globo na noite de terça (15).

A síntese perfeita desses seis anos do programa vem no quadro que mistura o seriado mexicano “Chaves”, grande sucesso da emissora concorrente, com o governo do presidente Jair Bolsonaro (elogiado, aliás, pelo dono do SBT).

Cena da esquete 'Vila Militar do Chaves' no programa 'Tá No Ar'
Cena da esquete 'Vila Militar do Chaves' no programa Tá No Ar - Reprodução/TV Globo

Em “Vila Militar do Chaves”, vê-se a crítica política ferina e bem dosada, as referências amplas à própria TV, capazes de alcançar quase qualquer público, e um roteiro coalhado de falas tão bem escritas que o riso vem por reflexo.

Ao juntar referências emocionais e bom texto a uma caricatura ácida da realidade, o trio consegue atingir o que só pode ser o objetivo máximo do humor: aliviar com riso o fardo da vida real ao mesmo tempo que nos convida a refletir sobre o ridículo de tudo.

O pacote fica especialmente bom porque “Chaves” sempre se amparou na comédia ingênua —e o elenco consegue emular as interpretações originais perfeitamente, sobretudo Maurício Rizzo, que faz o Quico—, enquanto “Tá no Ar” tem alta voltagem de política e provocação. 

Cabe a Adnet o personagem que faz a ponte para o noticiário, um capitão que compra a vila onde vivem os personagens e cujos trejeitos e jargão remetem aos do presidente (a quem ele já imitara na série sobre os presidenciáveis para o jornal O Globo de forma memorável).

A ver se Bolsonaro aceitará a homenagem ou reagirá como seu homólogo americano, Donald Trump, que critica ferozmente a imitação feita pelo ator Alec Baldwin no humorístico “Saturday Night Live”. A ver, também, se o programa terá substituto à altura, pois não há nada no horizonte com o mesmo potencial.

Marcelo Adnet e Veronica Debom em esquete da sexta e última temporada do Tá no Ar
Marcelo Adnet e Veronica Debom em esquete da sexta e última temporada do Tá no Ar - Estevam Avellar/Globo/Divulgação

Aos que temiam uma pasteurização de Adnet e companhia ao migrar da finada MTV para a grande TV aberta, às vezes refém de anunciantes, é possível celebrar que seu humor resistiu intacto.

Ainda revigoraram o gênero para o grande público, algo que não acontecia desde “TV Pirata”, que também satirizava a própria TV.

Nos últimos anos, porém, os hábitos têm mudado e a própria forma de ver TV e consumir entretenimento se tornou difusa, com múltiplas telas, plataformas e canais.

Os roteiristas de “Tá no Ar” mostram que entenderam isso ao fazer piadas a partir de um programa antigo, ou com “influencers” de redes sociais viciados em jabás (outro esquete hilário do show) e pseudocomerciais com mensagens politicamente corretas.

Principalmente, adaptam os esquetes para tempos mínimos, com alguns não sendo mais do que duas frases em uma simulada mudança de canal, de forma a se adequar a cérebros cuja capacidade de atenção se dissipa. 

É a linguagem que vem do besteirol e se sedimentou com os geniais esquetes de “Monty Python’s Flying Circus”, do grupo britânico homônimo. Serve bem aos dias de hoje, mas já tem seus 50 anos.

Humor que funciona, afinal, precisa de três coisas: cara de pau, timing preciso e amplo repertório de referências. 

“Tá no Ar” se supera nas três.

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