Descrição de chapéu Moda

Brasileiros participam de temporada internacional com mostras e desfiles

Londres abraçará trabalho de jovens estilistas, e Nova York terá marcas com poder de distribuição

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Editorial de coleção da estilista Renata Brenha, que apresentará seu trabalho na semana de moda de Londres, em fevereiro de 2019

Editorial de coleção da estilista Renata Brenha, que apresentará seu trabalho na semana de moda de Londres, em fevereiro de 2019 Divulgação

São Paulo

Fazia tempo que o Brasil não ganhava os holofotes no circuito internacional de desfiles, que começa na sexta-feira (8), em Nova York, e se estende até os primeiros dias de março, em Paris. Quase cinco anos após a saída da Osklen do calendário nova-iorquino, o país estará representado mais uma vez, mas agora com sangue jovem e grifes de moda casual.

Londres, que já abriu portas para designers de roupas como Barbara Casasola ou de joias como Fernando Jorge, dá espaço para as roupas inspiradas nas culturas latino-americanas da paulistana Renata Brenha e para a desconstrução do guarda-roupa masculino do cearense David Lee.

Como se relacionasse a história de luta dos povos indígenas com a rejeição dos padrões estabelecidos pela moda, Brenha reinterpreta o papel da roupa, aplicando materiais reciclados e pedaços de fibras vegetais às criações.

Seu trabalho, que será apresentado no dia 15, se define pela improvisação, por um apreço pelos remendos que, unidos às tramas do tecido, formam estruturas artesanais. O “feito à mão”, aliás, é crucial para entender o interesse da capital inglesa pela moda brasileira.

Centro da vanguarda da moda europeia, Londres parece querer entender de que forma os meandros da confecção nacional podem contar histórias sobre um lugar.

Partiu daí o interesse do Conselho de Moda Britânico pelo crochê de David Lee, 27. Nome em ascensão do calendário de moda brasileiro e descoberto pelo Dragão Fashion Brasil, evento de moda que acontece anualmente em Fortaleza, ele transporta a aparente feminilidade embutida no crochê para o armário masculino.

A partir do dia 11, sete looks de Lee estarão expostos dentro no International Fashion Showcase, a plataforma de novos talentos da semana de Londres reconhecida por revelar novos olhares sobre a moda de países emergentes.

É a primeira vez que o Brasil é selecionado para expor um trabalho no programa, sediado na Somerset House e cuja curadoria inclui trabalhos de outros 15 artistas vindos de lugares tão diferentes quanto Quênia, Canadá e Vietnã.

Segundo Lee, seu trabalho se destaca pela tentativa de transformar em roupa os contrastes do estereótipo brasileiro sobre a masculinidade, misturando silhuetas e pesos característicos de força e fraqueza, repouso e rigidez.

“Minha ideia é desvirtuar o que se entende como roupa de homem, mas sem partir para o escopo do sem gênero, que rotula e limita a criação. A roupa é pensada para a ergonomia masculina, mas explora nuances de cor e confecção que o Brasil acredita só caber na moda feminina”, explica.

Chamada de Suspensão, a coleção é composta por uma combinação de cinco cores, do azul ao rosa-pink, com tecidos base em branco e preto. Ao mesmo tempo em que celebra a técnica manual, a partir de uma combinação de cinco fios de crochê, Lee a contrasta com o tecido plano, reproduzido em larga escala.

“Acho que esse trabalho é essencialmente brasileiro para o olhar estrangeiro por ser colorido e guardar uma estética solar. Os outros designers são mais preocupados com a forma e adotam cores mais sóbrias. Essas diferenças são muito perceptíveis e chamam a atenção para nossa criação”, afirma.

Essa mesma lógica de mesclar técnicas artesanais e cores vibrantes no design é o que conduz o trabalho de Espedito Seleiro, 79, natural de Nova Olinda, também no Ceará.

Se não o maior artesão de couro do país, sem dúvida é o mais incensado no meio artístico internacional, desde que assinou uma coleção de mobiliário em parceria com os Irmãos Campana, em 2015.

Mestre Espedito, como é conhecido, ganhará uma exposição na embaixada brasileira em Londres na próxima segunda —semanas antes de subir num carro alegórico na Sapucaí, no dia 4 de março, como um dos homenageados da escola de samba da liga carioca União da Ilha do Governador.

Organizada a partir do livro “Meu Coração Coroado” (2016), de Eduardo Motta, a mostra revelará o tesouro imagético do cangaço interpretado pelo artesão, filho de Raimundo Seleiro, conhecido por ter criado as sandálias de solado retangular usadas por Virgulino Ferreira, o Lampião.

Tanto a entrada de Lee quanto a mostra de Seleiro são apoiadas pelo Senac Ceará em parceria com a Fecomércio local. O diretor regional da instituição, Rodrigo Leite, que na mesma época também levará a Londres a exposição “A Hora do Brasil”, realizada pelo estilista Jum Nakao, afirma que a ideia é promover uma troca de conhecimentos entre as instituições brasileiras e inglesas.

“Além disso, é preciso reconhecer que moda não é apenas patrimônio cultural, mas também econômico. A partir do momento em que mostramos as particularidades do estado, agregamos valor ao que ele cria”, explica o executivo.

A busca eterna da moda brasileira por agregar valor à sua moda também motiva a participação das grifes Rosa Chá e John John nas passarelas nova-iorquinas, de cunho mais comercial do que o proposto pelo circuito europeu.

As marcas do grupo Restoque, o mesmo da Dudalina e da Le Lis Blanc, apresentam suas coleções de inverno 2019 nos dias 12 e 13 no Spring Studios, uma das sedes do calendário de desfiles americano.

Para ambas as apresentações têm caráter estratégico, já que a Rosa Chá inaugurou no ano passado sua primeira loja-conceito americana, em Los Angeles, e outro ponto físico no Faena Bazaar, localizado em Miami.

A John John, especializada em jeanswear, seguirá os passos da irmã mais velha e abrirá neste mês a primeira loja da marca em solo americano, também em Los Angeles.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.