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Direita derruba 'Marighella', esquerda contra-ataca e site americano retira avaliações

Sem assistir ao filme, mais de 15 mil pessoas deram nota ao longa no IMDb

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Cartaz do filme 'Marighella', de Wagner Moura

Cartaz do filme 'Marighella', de Wagner Moura Divulgação

São Paulo

A boçalidade da política nas redes sociais começou a fazer uma nova vítima no fim de semana e na segunda-feira (18). O alvo da vez é o filme “Marighella”, de Wagner Moura, que estreou sob aplausos no Festival de Berlim na quinta (14).

Moura, que se alinha com a esquerda e empunhou uma placa com o nome de Marielle Franco na exibição, havia antecipado o problema em entrevista aos jornalistas em Berlim. “Vamos enfrentar muita merda no Brasil”, disse, em referência à polarização política no país.

Pois, mesmo sem assistir ao filme, mais de 15 mil pessoas resolveram dar nota a “Marighella” no IMDb (Internet Movie Database). O site americano é a maior referência mundial para todo tipo de informações sobre cinema e produções de TV, trazendo por exemplo o elenco completo dos filmes, as músicas das trilhas sonoras, datas de estreias e também uma avaliação entre 1 e 10 dada pelos usuários.

Na manhã de segunda, segundo reportagem do site Teleguiado, a nota para o filme estava 2,9. Tratava-se uma guerra entre internautas. Os de direita querendo baixar a avaliação. Os de esquerda, aumentar. Para ter uma ideia, 119 pessoas haviam avaliado o vencedor do urso de Berlim, “Synonyms”, contra 15.426 de “Marighella”.

Aparentemente após perceber que se tratava de campanhas organizadas, o IMDb acabou com a brincadeira tirando do ar o sistema de avaliação para “Marighella”, ainda na tarde de segunda (18). Também apagou as resenhas feitas pelos usuários. Nenhum porta-voz do site foi encontrado para comentar.

Às 17h, uma única crítica restava na página do filme, e ela começava assim, em inglês: “Minha primeira resenha foi apagada pelo IMDb, e não só a minha, mas a de todo mundo!”.

Em seguida, o usuário ricardopthomaz reescreve suas opiniões: “Eu havia dito que o filme é uma mentira monstruosa sobre um psicopata, um assassino homicida chamado Carlos Marighella. Eu também havia dito que os brasileiros não gostam do cara e que ele não tem pele negra nem é um herói. Ele é um criminoso, assassino e uma pessoa muito ruim. Ele é comuna [commie]”.

O linchamento na internet foi logo percebido pelo outro lado ainda na noite de domingo. Esquerdistas e simpatizantes se uniram no Facebook para, de forma igualmente boçal, contra-atacar. “Estão fazendo boicote ao filme ‘Marighella’, não podemos deixar. Estão indo ao site IMDb e dando nota 1 ao filme. Precisamos reverter isso!”, conclamou uma usuária.

Ou seja, as avaliações e as resenhas feitas a “Marighella” no IMDb não tinham nenhuma relação com o filme em si. E sim com a ousadia de um artista por ter lançado uma produção sobre um personagem de esquerda em 2019.

Como disse o filósofo italiano Umberto Eco (1932-2016) pouco antes de morrer, as redes sociais deram o direito à palavra a uma "legião de imbecis". Ou duas.

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