Drama lésbico causa controvérsia em Berlim por ser produção da Netflix

Na briga pelo Urso de Ouro, 'Elisa y Marcela', da espanhola Isabel Coixet, foi vaiado

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Atrizes Natalia de Molina (esq.) e Greta Fernandez, de 'Elisa y Marcela', no Festival de Berlim, nesta quarta (13) - Fabrizio Bensch/Reuters
Berlim

Assim que o logotipo da Netflix pintou na telona, as vaias irromperam na sala do Berlinale Palast, onde os filmes do Festival de Berlim são exibidos.

“Elisa y Marcela”, drama de época da espanhola Isabel Coixet, é a cizânia da vez. Por ser uma produção da empresa americana de vídeo sob demanda, a sua escalação para competir ao Urso de Ouro é controversa.

Redes alemãs de cinema protestaram contra a presença da obra nesse que é um dos eventos mais importantes do mundo. Numa carta aberta enviada à organização e ao Ministério da Cultura alemão, 160 exibidores independentes exigiram que o filme de Coixet fosse retirado da disputa. “O festival defende a tela grande, a Netflix defende a tela pequena.”

A diretora disse que o documento é um “desrespeito” ao seu trabalho e ao da equipe de filmagem. “Entendo as razões das salas de cinema, mas não é justo dizer que o filme não mereceria estar aqui”, falou aos jornalistas. “O futuro passa pela convivência das várias plataformas.”

Diretor do festival, Dieter Kosslick se negou a retirar o longa da competição e afirmou que as grandes mostras cinematográficas precisam chegar a um entendimento comum sobre como lidar com a presença de produções do streaming em suas respectivas programações.

Cannes é inflexível e não permite produções que não passarão pelas telas dos cinemas. Veneza é bastante aberta a isso, tanto é que “Roma”, de Alfonso Cuarón, estreou por lá e saiu com o prêmio principal. Berlim adotou uma postura intermediária. Kosslick disse que permitiu a participação de “Elisa y Marcela” porque o filme será, ao menos, exibido nas salas espanholas.

“Se ele for bem na Espanha, espero que viaje para outros países e passe no Brasil, onde estão prestes a banir o casamento gay”, disse Coixet. Ela se refere possivelmente à onda conservadora na política nacional.

“Elisa y Marcela” empunha a bandeira da união entre pessoas do mesmo sexo. A história, baseada num caso real ocorrido no começo do século 20, acompanha a relação entre duas mulheres que desafiaram os tabus de um vilarejo na região da Galícia para ficarem juntas.

Rodado num solene preto e branco, o longa mostra como as duas protagonistas se conheceram numa escola católica e logo se apaixonaram. Para ficarem juntas, Elisa chega até a sair da cidade e voltar disfarçada de homem para conseguir se casar com Marcela. O truque, contudo, não ilude ninguém, e as duas passam a enfrentar ameaças crescentes.

"O que me interessava era mostrar como essas personagens se relacionavam e descobriam o que era o sexo num ano como 1901, antes de existir qualquer referência ‘queer’”, diz a cineasta.

Seu filme gerou algum burburinho por trazer uma cena em que as protagonistas se esfregam num polvo enquanto transam. Coixet riu quando o assunto foi trazido à tona. “Eu precisava de referências sexuais que não fossem masculinas. E eu adoro polvos. Só não os levo para cama.”

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