Exposição recorda irreverência criativa de Fernando Zarif

Com cerca de 50 peças, mostra exibe séries pouco ou nunca exibidas do artista autodidata

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São Paulo

Os anos 1980 já passam longe, mas assim como a obra de Jac Leirner ou a de Lenora de Barros, alguns artistas ajudam a recuperar certa efervescência daquele momento, marcado pela influência do ready-made e por uma abordagem lúdica dos materiais.

Fernando Zarif era personagem dessa festa. Criador múltiplo, foi o dono de uma personalidade irônica que circulou do teatro à música, passando pelo rádio, pelas artes gráficas e pela escrita. Ao circular tanto, acabou um pouco à margem do circuito, mas sua morte precoce em 2010, aos 50 anos, deixou uma legião de amigos e admiradores que vão da dramaturga Bia Lessa à jornalista Barbara Gancia, passando pelos Titãs, para quem produziu a capa de "Tudo ao Mesmo Tempo Agora " (1991) e "Titanomaquia" (1993).

As obras expostas a partir deste sábado (2) na galeria Luciana Brito são uma nova etapa do processo de catalogação e revisão de seu trabalho empreendido a partir de 2011. Formada por cerca de 50 peças, a exposição tira do acervo familiar séries pouco ou nunca exibidas. Ajuda também a mostrar às gerações mais jovens um artista pouco exibido nas grandes instituições.

"Ele escrevia compulsivamente, e uma parte importante tem sido olhar para os cadernos com anotações ", diz Yuri Oliveira, um dos diretores da galeria. "As obras raramente tem data ou título. Vamos trabalhando para organizar."

No térreo há cinco pinturas maiores feitas com tinta acrílica aplicada em bisnagas e cinco esculturas verticais de metal. Uma delas, "Auto-retrato (Time Is Money)", tem a altura que tinha Zarif, 1,82 metro. Uma sala separada no primeiro andar abriga um conjunto de 39 colagens sobre tela em pequeno formato, com elementos tão díspares quanto cadeados, chaves, pedaços de vidro e soldadinhos em plástico.

Autodidata, Fernando Zarif interrompeu a faculdade de arquitetura para seguir o próprio caminho. Em 1982, fez sua primeira exposição com fotografias de Polaroid SX-70. No ano seguinte, criou uma performance na avenida Paulista em que ele e mais oito pessoas pintadas de cinza se sentaram em volta de uma mesa com flores, frutas, pratos e talheres cinza. Uma bailarina e um garçom rondavam o lugar, servindo os performers durante as cinco horas de duração do ato.

"O Zara consumiu o que pode e viveu o que quis", cravou carinhosamente a atriz Fernanda Torres num dos relatos reunidos no livro "Fernando Zarif: Uma Obra a Contrapelo" (org. José Resende, Metalivros). Que sua irreverência in memoriam nos sirva de fuga e contraponto, referência e inspiração.


Fernando Zarif

Luciana Brito - av. Nove de Julho, 5.162, São Paulo. Ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 18h; até 9/3. Grátis

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