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'Falo de sentimentos levados ao extremo', diz diretor de 'Gomorra' e 'Dogman'

Matteo Garrone tenta manter aura de fabulista contemporâneo com filme que estreia nesta quinta

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Milão

Matteo Garrone é um sujeito simpático, com um sorriso imenso. Sua aparência física em nada sugere a de um diretor de filmes violentos como “Gomorra” (2008), que lhe deu projeção internacional, ou o novo "Dogman", que estreia nesta quinta (21) no Brasil.

A estreia levou 12 anos para ser feita. “É uma fábula contemporânea, baseada em um fato real que eu reinterpretei livremente”, diz Garrone à Folha. “Eu ainda não era pai quando comecei a escrever. Agora sou, e isso mudou a maneira como entendo a relação do protagonista com sua filha”, afirma.

A ideia de uma fábula contemporânea de certa maneira perpassa toda a obra do cineasta e combina com a sua figura, que tem um quê contador de histórias. “Gosto de encarar gêneros diversos, mas, no fundo, sempre com o mesmo fio condutor: o homem, suas contradições e seus desejos”, conta. “Talvez o elemento fabuloso presente nos meus filmes se ligue ao fato de eu falar dos sentimentos humanos levados ao extremo.”

“Até “Gomorra” tem um pouco de mágico”, prossegue Garrone. “É uma fábula obscura sobre duas crianças vivendo em uma realidade que pode transformá-las para sempre”, finaliza. 

Em “Reality – A Grande Ilusão” (2012), uma sátira de programas como “Big Brother”, esse aspecto é ainda mais evidente. “O filme abre com uma carruagem indo para um castelo”, ri o diretor.

Mas a história se torna mesmo explícita em “O Conto dos Contos” (2015), baseado em uma compilação de narrativas populares escritas por Giambattista Basile no século 17. Contos que não eram voltados para crianças, mas que deram origem às historinhas de princesas que contamos hoje.

Garrone também produz seus próprios filmes, e foi ele quem decidiu rodar “O Conto dos Contos” em inglês. “Fiz assim por causa do orçamento, que era altíssimo, mas talvez tenha sido um erro”, lamenta. “O filme acabou sendo vendido para menos países do que meus longas em italiano.”

“O Conto dos Contos” também tem um elenco internacional –outra exceção na filmografia do diretor, em que despontam figuras pouco convencionais. Caso de Aniello Arena, o protagonista de “Reality”, que era presidiário quando atuou e que hoje está livre, depois de ter passado 24 anos na cadeia (e continua trabalhando como ator). 

Caso também de Marcello Fonte, de “Dogman”, que só tinha feito participações rápidas antes do personagem que lhe deu um prêmio de interpretação no Festival de Cannes do ano passado. 

Além dos longas de ficção, Garrone trabalha também com publicidade, em campanhas nas quais costuma imprimir sua linha fantástica. O curta mais mais recente é “Entering Red”, para a Campari, estrelada pela cubana Ana de Armas (“Blade Runner 2049”). “Quis mostrar uma viagem onírica por uma Milão noturna e misteriosa.”

As fábulas continuam no próximo filme: uma nova versão de “Pinóquio”, com Roberto Benigni (“A Vida É Bela”). O ator e diretor, que já interpretou o boneco de madeira em sua própria adaptação do romance de Carlo Collodi, em 2002, agora será o carpinteiro Gepetto.

Ele e Garrone são amigos há décadas. “Benigni foi a primeira pessoa com quem pensei fazer 'Dogman'. Enviei a primeira versão do roteiro, mas ele recusou o papel”, diz o diretor. “Ainda bem. 'Dogman' ainda não estava pronto, e teria se tornado um filme muito pior do que é hoje”.

O jornalista viajou a convite do Campari Group

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