Descrição de chapéu The New York Times

Instalem cortinas, sugere juiz a vizinhos do museu londrino Tate Modern

Moradores de apartamentos visíveis a partir de plataforma panorâmica do museu entraram na Justiça

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Alex Marshall
Londres | The New York Times

Além da arte exposta na galeria, há alguns anos os visitantes do museu Tate Modern, em Londres, também podem contemplar um cenário menos comum: apartamentos do outro lado da rua.

Para irritação de alguns moradores, a plataforma panorâmica do 10º andar oferece vista privilegiada para os apartamentos de luxo com largas janelas em diversos edifícios residenciais vizinhos.

À esquerda, apartamentos luxuosos com largas janelas de vidro; à direita, o prédio Blavatnik do museu Tate Modern, que tem uma plataforma com vista panorâmica da cidade no seu 10º andar
À esquerda, apartamentos luxuosos com largas janelas de vidro; à direita, o prédio Blavatnik do museu Tate Modern, que tem uma plataforma com vista panorâmica da cidade no seu 10º andar - Andy Haslam/The New York Times

Em 2017, moradores de quatro desses apartamentos recorreram à Justiça para exigir que o Tate fechasse aquela parte da plataforma ou no mínimo instalasse telas de bloqueio, relatando a violação "incessante" de sua privacidade pelos visitantes.

Mas na terça-feira, a Alta Corte do Reino Unido decidiu contra eles.

"São imóveis impressionantes, e sem dúvida desfrutar de uma vista envidraçada tão extensa oferece grandes vantagens", afirmou o juiz Anthony Mann em sua decisão. "Mas esse efeito tem um custo em termos de privacidade."

Os moradores tinham diversas alternativas para contornar o problema, segundo a sentença. "Eles podem baixar suas persianas", escreveu Mann, ou "instalar cortinas".

O caso atraiu o interesse de muita gente no Reino Unido, especialmente em Londres, onde o aumento dos preços dos imóveis vem reduzindo a disponibilidade de moradias a preço acessível.

Isso significa que não havia grande simpatia pelas queixas dos moradores.

Em novembro, Max Siedentopf, um artista conceitual, amarrou 10 binóculos à plataforma em uma "instalação" não autorizada que ele intitulou "por favor respeitem a privacidade de nossos vizinhos" —a mesma mensagem que aparece em placas espalhadas pelo local.

A galeria rapidamente removeu os binóculos.

Binóculos vermelhos no parapeito do 10º, ponto de observação panorâmico da cidade
Binóculos de instalação não autorizada do artista conceitual Max Siedentopf; eles foram retirados pelo museu - Max Siedentopf/New York Times

A plataforma, com suas vistas panorâmicas para marcos da paisagem londrina como a catedral de São Paulo e a sede do Parlamento, recebe centenas de milhares de visitantes por ano.

Em sua queixa, os moradores informavam que o fato de que os apartamentos estavam expostos ao olhar dos visitantes da galeria fazia com que deixassem de ser "um lar seguro para crianças pequenas".

Um queixoso disse ter descoberto que uma foto dele havia sido postada no Instagram.

Outro afirmou que sentia viver em um zoológico, e acrescentou que não podia colocar roupas para secar e precisava estar "propriamente vestido" o tempo todo.

Uma moradora disse ao juiz que só havia visitado seu apartamento cinco ou seis vezes desde que a plataforma de observação foi inaugurada, porque as atenções dos visitantes a irritavam demais.

Advogados dos queixosos disseram ao juiz que seus clientes não queriam usar persianas porque isso obscureceria a vista oferecida pelos apartamentos, o que eles consideravam "uma das grandes vantagens de seus imóveis".

A Tate Modern apontou que os planos de construção da plataforma eram de conhecimento público quando os apartamentos foram vendidos.

O alvará para a plataforma foi concedido mais ou menos ao mesmo tempo que os alvarás para os apartamentos, acrescentou a instituição.

Em abril, a Tate Modern limitou o horário de funcionamento da plataforma, proibindo acesso público à seção que tem vista para os apartamentos depois das 17h30min, de domingo a quinta, e depois das 19h nas sextas-feiras e sábados.

Antes, a plataforma ficava aberta até as 22h às sextas e sábados, e até as 18h nos demais dias.

Seguranças foram instruídos a pedir que os visitantes não fotografem os imóveis.

Mann disse que sua decisão dependia de essas restrições serem mantidas.

Depois da decisão, um porta-voz da galeria disse que ela era "uma parte importante do que a Tate Modern oferece ao público, e estamos satisfeitos por ela continuar disponível para os nossos visitantes".

Natasha Rees, diretora de litígios imobiliários no escritório de advocacia Forsters, que representou os moradores, criticou a decisão.

"As medidas limitadas tomadas pela Tate para impedir que os visitantes vejam os apartamentos de meus clientes não foram efetivas e as famílias deles terão de continuar a viver diariamente com essa intrusão em sua privacidade", disse ela, acrescentando que os moradores estão considerando recorrer.

"Não farei críticas aos queixosos ou aos incorporadores dos imóveis; tampouco estou criticando o projeto arquitetônico", afirmou o juiz em sua decisão. Mas "o estilo arquitetônico, neste caso", ele acrescentou, "tem como consequência aumentar a exposição [dos imóveis] ao mundo exterior".

Tradução de Paulo Migliacci

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