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MoMA, de Nova York, compra primeiro quadro de Tarsila do Amaral

'A Lua' foi comprado por valor não divulgado e pertence à fase antropofágica da artista

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Nova York

O MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) adquiriu sua primeira pintura da brasileira Tarsila do Amaral. O quadro é “A Lua” (1928), um dos quadros favoritos do escritor Oswald de Andrade, com quem foi casada, em uma operação que deve agregar mais valor à obra da artista, na avaliação de especialistas.

A obra faz parte da fase antropofágica de Tarsila (1928-1930) e foi pintada depois de uma das produções mais famosas da pintora, “Abaporu” (1928), vendida em 1995 ao colecionador argentino Eduardo Constantini por US$ 1,3 milhão (cerca de US$ 2,2 milhões em valores corrigidos pela inflação).

Reprodução de “A Lua”, obra de Tarsila do Amaral, adquirida pelo MoMA
Quadro “A Lua”, de Tarsila do Amaral, adquirido pelo MoMA - Divulgação

A transação envolvendo “A Lua” não tem valores confirmados por nenhum dos que participaram da venda do quadro, que pertencia à coleção Fanny Feffer. Para Tarsila do Amaral, sobrinha-neta da artista e que é mais conhecida como Tarsilinha, a cifra que circula no mercado, de US$ 20 milhões (aproximadamente R$ 75 milhões), não estaria distante da realidade.

“Ouvi valores maiores, mas dá para confiar nesse”, diz. “O mais importante é o valor que minha tia adquire na arte mundial, ter uma obra dela em um museu tão importante reflete a relevância dela.”

Ann Temkin, curadora de pintura e escultura no MoMA, conta que tomou conhecimento da pintura a partir de informações de Luis Pérez-Oramas e Stephanie D’Alessandro, que organizaram a exposição com obras da modernista no museu nova-iorquino, realizada no primeiro semestre do ano passado.

Na época, “A Lua” não pôde fazer parte da mostra por causa de brigas na família Feffer, segundo o galerista Paulo Kuczynski, que intermediou a venda. Alguns meses atrás, porém, Pérez-Oramas ficou sabendo que a obra estava disponível e informou Temkin, que foi ao Brasil ver o quadro.

“É uma composição muito poderosa e tem um impacto forte que, talvez, seja maior que a dimensão do quadro pode sugerir”, afirma. “Tem um poder, a alma de um grande trabalho, junto a qualidades incríveis em termos das cores e formas.”

O MoMA já tem um desenho de Tarsila, “Estudo de Composição [Figura só] III”, de 1930. A partir de março, o público já poderá conferir “A Lua” no museu.

“Quando compramos algo tão importante, nós queremos mostrar logo a nosso público”, afirma Temkin. “A pintura evidencia que a arte moderna não é algo que pode ser colocado em categorias rígidas, e isso nos interessa muito.”

Os quadros de Tarsila disponíveis para venda são raros. Por isso, Temkin reconhece que, no curto prazo, dificilmente o museu vai conseguir ampliar sua coleção da artista.

Kuczynski qualifica como magistral a obra, que foi mostrada pela primeira vez em Paris em 1928. “A Tarsila nesse período antropofágico retrata essa natureza botânica. Os cactos têm uma imagem humana, viram gente”, diz.

Para ele, a aquisição de uma obra do modernismo brasileiro coloca o país no mesmo patamar de outros cânones do modernismo mundial. “Não venderia ‘A Lua’ se não fosse para um museu de indiscutível importância. A obra vai adquirir uma visibilidade que nunca teve, porque ficou quase 60 anos fechada numa sala. Agora vai ser vista por milhões. Isso é a real importância”, afirmou.

“Tenho certeza de que isso vai começar a reverberar”, concorda Tarsilinha do Amaral, que diz estar conversando com outros museus para organizar outras exposições da artista. “Tomara que a gente consiga que as obras dela estejam nesses grandes museus”, afirma.

A partir de 5 de abril, a modernista ganha também uma mostra no Masp, em São Paulo: “Tarsila Popular”

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