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Morre o estilista alemão Karl Lagerfeld, diretor artístico da Chanel

Ele havia sido hospitalizado na segunda nos arredores de Paris; ele não revelava a idade, mas acredita-se que tivesse 85 anos

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Karl Lagerfeld durante visita ao museu Folkwang em Essen, no oeste alemão Caroline Seidel/DPA/AFP

Paris

​Morreu nesta terça-feira (19), em Paris, o estilista alemão Karl Lagerfeld, diretor criativo da grife Chanel desde 1983 e um dos ícones da moda mundial nas últimas décadas.

O designer nunca quis revelar sua idade, mas acredita-se que tenha nascido em setembro de 1933, ou seja, que tivesse hoje 85 anos.

Ele havia sido hospitalizado na noite de segunda, em Neuilly sur Seine, nos arredores de Paris, mas a causa da morte não foi informada. Segundo a revista Paris Match, Lagerfeld estava com a saúde debilitada havia algumas semanas. Nem chegou a aparecer na passarela logo após o desfile da coleção primavera-verão 2019 da Chanel, algo que fazia desde que estreou na grife, em 1983.

Natural de Hamburgo, origem que lhe renderia o epíteto de “kaiser da moda”, ele chegou à capital francesa no começo dos anos 1950, com a mãe, e logo começou a trabalhar para o estilista Pierre Balmain. Passou em seguida pelas grifes Jean Patou e Chloé, antes de aportar na italiana Fendi, cujo comando ele acumulava até hoje com o da Chanel. 

Conhecido pela cabeleira branca lisa amarrada num rabo de cavalo, pelas luvas de couro com os dedos à mostra e pelos óculos escuros dos quais parecia nunca desgrudar, Lagerfeld criou sua própria maison de alta-costura em 1984, mas esta nunca prosperou como suas outras empreitadas. 

Trabalhador compulsivo (“sou uma espécie de ninfomaníaco da moda que nunca atinge o orgasmo”, disse certa vez), também se aventurou na fotografia —clicando editoriais, campanhas da Chanel e até da Coca-Cola— e na edição de livros (era dono de uma editora e, segundo a imprensa francesa, de uma biblioteca particular dotada de mais de 300 mil títulos).

Além disso, assinou curtas-metragens para a marca dos dois cês entrelaçados. Mas foi mesmo graças à capacidade de conceber “happenings” fashion, desfiles com cenografia e ambiência exuberantes, que o alemão conseguiu recuperar o lustro da vetusta casa Chanel, “bela adormecida” da indústria francesa da moda até sua chegada, no começo dos anos 1980.
 
Em 2014, por exemplo, Lagerfeld transformou a nave do Grand Palais, espaço expositivo no coração de Paris, em um imenso supermercado no qual as gôndolas faziam as vezes de passarela.
 
Três anos depois, fez decolar do mesmo local um foguete, a poucos metros de onde modelos apresentavam sua mais recente coleção de prêt-à-porter, conceito que, décadas antes, ele ajudara a disseminar. Segundo o jornal Le Monde, as peças da coleção desenhada por ele para a varejista H&M em 2004 se esgotaram em menos de meia hora.
 
Longe das passarelas, o estilista criou figurinos de palco para Madonna, Kylie Minogue, Lily Allen e Cat Power, entre outras. No circuito da moda stricto sensu, impulsionou a carreira de sua compatriota Claudia Schiffer nos anos 1990.
 
Na mesma época, envolveu-se em um escândalo envolvendo sua situação fiscal. O ministro das Finanças da época interveio para dividir por cinco o passivo de impostos devidos por Lagerfeld, em um “toma lá dá cá” que teria envolvido a entrega, por seu advogado, de uma gravação comprometedora para a direita francesa —o ministro era socialista.

 
Passado o alarido e quitada a dívida, o alemão consolidaria na década seguinte sua imagem pública de elegância austera depois de emagrecer mais de 40 kg para, segundo ele, caber nos modelos longilíneos desenhados pelo amigo Hedi Slimane, então na Dior.
 
Frasista acerbo, destilava boutades e alfinetadas que ora faziam gargalhar, ora chocavam. “Detesto ter conversas intelectuais. Só a minha própria opinião me interessa”, afirmou certa vez. “Calças de moletom são um sinal de derrota. Você perdeu o controle da sua vida se comprou uma”, dispararia em outra ocasião.
 
Em uma terceira entrevista, descreveu o luxo como “a liberdade de espírito, a independência, em suma, o politicamente incorreto”. Território que ele não tinha medo de adentrar, como ao dizer que “ninguém quer ver mulheres redondas nas passarelas” ou ao lembrar/inventar a anedota de uma estilista que teria dito que as criações dela só eram vestidas por mulheres inteligentes. “Evidentemente, foi à falência.”
 
Lagerfeld não poupava nem a Chanel. “Você deve tratar uma instituição como uma prostituta —assim consegue obter algo dela.”
 
O anúncio de sua morte causou comoção no mundo da moda. “Karl, seu gênio tocou as vidas de muitos, especialmente as de Gianni [Versace] e a minha”, escreveu em uma rede social a estilista Donatella Versace. “Nunca esqueceremos seu talento incrível e sua inspiração interminável. Sempre aprendíamos com você.”
 
Solteiro, o alemão não deixa filhos. Teve uma relação de quase 20 anos com o dândi Jacques de Bascher, até a morte deste, em 1989. Depois, não foi mais visto em público com nenhum outro companheiro declarado.
 
“Luto para ficar sozinho”, afirmou uma vez. "Nunca dividi um teto com ninguém. Isso é um ataque à liberdade.”

 

CRONOLOGIA

  • 1933 Ele nunca revelava a idade e dava datas desencontradas aos jornalistas, mas especula-se que este foi o ano de seu nascimento, em Hamburgo
  • 1954 Muda-se para Paris onde vence concurso de moda e ganha um estágio na Pierra Balmain
  • 1958 Inicia porjeto de colaboração junto a Jean Patou
  • 1963 Começa a desenhar para a Chloé, marca francesa da qual só sai em 1982
  • 1965 Inicia na grife italiana Fendi, para a qual desenhou até o fim da vida. Na marca romana elevou a pele de bicho ao status de fashion. Vários acessórios tinham feições animais. Criou o Karlito, um boneco de pele que reproduzia a si próprio.
  • 1973 Estrela “L’Amour”, filme experimental de Andy Warhol e Paul Morrissey. No final da década rompe amizade com Yves Saint-Laurent por causa das investidas do estilista com seu então namorado Jacques de Bascher. O caso foi um escândalo à época e definiu a briga entre Saint-Lauret e Lagerfeld, que competiam pelo título de gênio da moda
  • 1983 Entra na Chanel
  • Anos 1990 Entre as diversas criações do estilista para a marca francesa, ele recriou o tailleur com jeans, em 1991, e passou a abusar de pérolas. Encurtou o vestido preto da grife, assim como a jaqueta do tailleur. Pérolas, camélias e bordados suntuosos passaram a ser referências da Chanel
  • 2002 Após perder 42 quilos para caber em roupas de Hedi Slimane, fundador do estilo skinny na Dior, lança “The Karl Lagerfeld Diet”, com dicas para perder peso
  • 2009 Para apresentação do inverno 2010 da Chanel, leva um iceberg verdadeiro para o meio do Grand Palais, durante a semana de moda de Paris
  • 2011 Nasce Choupette, gata sagrada da Birmânia de Lagerfeld que chamou a atenção do mundo pela vida de mimos milionários dados pelo dono. Ela é uma das beneficiárias do espólio do estilista
  • 2014 A boneca Barbie que leva seu look esgota em menos de uma hora. No mesmo ano, faz o emblemático desfile em que monta um supermercado. Coloca de vez o estilo “normcore” no universo do luxo, abrindo portas para o “streetwear” que até hoje corre pelas passarelas
  • 2016 Leva um desfile da Chanel a Havana, em Cuba, logo após o fim do embargo à ilha
  • 2017 Constrói estação espacial para lançar um foguete em seu desfile de inverno para a Chanel
  • 2018 Faz seu último show na temporada parisiense, reproduzindo uma praia da riviera em dias de sol. Já com barba cheia e fora de forma, acena de longe em um púlpito
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