Descrição de chapéu Oscar 2019

'No Portal da Eternidade' é bem-sucedido ao valorizar obra de Van Gogh

Folha e Espaço Itaú Frei Caneca promoveram debate após exibição do filme nesta quarta

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São Paulo

Cinebiografar um pintor que já esteve tantas vezes no cinema pode ser difícil. Fugir do roteiro quase obrigatório de retratá-lo como um louco incompreendido, então, é ainda mais desafiador. Nesse sentido, a experiência pregressa do diretor Julian Schnabel como artista plástico foi crucial para um retrato original de Vincent Van Gogh em “No Portal da Eternidade”, filme que chegou aos cinemas nesta quinta (7).

Os apontamentos foram feitos após sessão especial do filme nesta quarta-feira (6). O debate, promovido pela Folha em parceria com o Espaço Itaú Frei Caneca, contou com a mediação do editor da Ilustrada, Silas Martí. Mais de 200 pessoas participaram da exibição.

Para Magnólia Costa, professora de história da arte do MAM-SP, a obra é feliz ao diminuir o peso da vida e valorizar a obra do artista. “Outros filmes que falam do Van Gogh enfatizam muito a sua inadequação, o seu desajuste. Romantizam a ideia de um artista estranho, anômalo, muito confundida com a ideia de genialidade." Willem Dafoe, que interpreta o pintor, concorre ao Oscar de melhor ator neste ano pelo papel.

A professora reconheceu, no entanto, que Schnabel comprou uma grande briga ao escolher o personagem. “É um dos poucos casos na história da arte no qual não há como descolar a vida da obra, inclusive porque esse lugar-comum foi reforçado pela própria família do artista, proprietária do museu que leva o nome dele e que faz dessas pinturas guarda-chuva, calendário, camiseta e um sem-número de bens de consumo. O filme explicita isso", disse.

Ao dizer que Van Gogh, em números de cinebiografia, só perde para o ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln e para Jesus Cristo, o crítico de cinema Cássio Starling Carlos afirmou que o filme conta com algumas liberdades biográficas."

É vantajoso o afastamento do personagem oficial para poder reinventá-lo e se libertar do peso dessa figura muito carismática, mas muito estereotipada do artista maldito”, afirmou ao destacar que biografias são processos de recriação. “Está se fazendo cinema, não um docudrama.”

O crítico destaca que Van Gogh é um personagem clássico hollywoodiano que sofre do início ao final de sua narrativa e é punido por sua grandeza. O primeiro filme a consolidá-lo dessa maneira foi “Sede de Viver”, de Vincente Minnelli, lançado em 1956.

Há pelo menos outros sete longas-metragens que contam a vida de Van Gogh. A lista de curtas-metragens, documentários e programas para a TV vai ainda mais longe —entre eles, está o trabalho de Alain Resnais, de 1948, considerado primeiro registro cinematográfico sobre o artista e que levou o Oscar de melhor curta-metragem na edição de 1950.

Magnólia Costa afirmou ter sentido o olhar de um artista plástico no uso intenso de cores, na presença constante de uma câmera objetiva e de distorções visuais. “São traços estilísticos dele [Schnabel] como diretor, que aparecem em ‘O Escafandro e a Borboleta’, e soluções muito incríveis para trazer o sentimento de perturbação mental.”

Na avaliação dos debatedores, o tempo todo se ouvem passos, som do vento e a textura da tinta na tela, elementos que preenchem o filme de sensorialidade.

“Talvez essa seja a obra cinematográfica mais feliz do Schnabel no sentido de ele, vindo das artes plásticas, conseguir fazer um filme sobre o fazer arte. Ele consegue traduzir, de forma plástica, o segredo e o mistério por trás da potência da criação”, disse Starling Carlos.

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