Descrição de chapéu Moda

Polêmica racial atinge Gucci e Adidas com 'blackface' e tênis branco para celebrar cultura negra

Após reclamações, italiana se desculpou e retirou suéter do mercado, assim como a marca esportiva

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Bastou um suéter preto com balaclava da mesma cor emoldurada por grossos lábios vermelhos para uma das maiores grifes do mundo virar alvo de uma polêmica racial que a obrigou a pedir desculpas publicamente nesta quinta-feira (7). 

Internautas viram na peça da italiana Gucci, lançada em versão reduzida no desfile de inverno 2019, em Milão, e só agora posta à venda no site, uma reverência ao personagem Sambo. 

Pouco conhecido no Brasil, ele tem origem no livro “A História do Pequeno Negro Sambo” (1898), da escritora Hellen Bannerman, absorvido pela cultura americana do início do século 20 como símbolo de malandragem, preguiça e escracho.

Um dia após a polêmica se instaurar nas redes sociais, a Gucci foi às suas contas na internet pedir “profundas desculpas pela ofensa” causada pela peça e que a retirou de suas lojas online e física. 

As balaclavas —acessórios que cobrem o rosto— viraram tendência em passarelas internacionais há um ano, quando apareceram nos desfiles da Calvin Klein, Alexander Wang e Dior, sempre dentro de um contexto, inclusive na apresentação da Gucci, de proteção em um mundo pós-apocalíptico.

No pedido de desculpas, a grife ainda afirma que considera a diversidade um valor fundamental a ser defendido, respeitado e prioritário em cada decisão da marca.

Os comentários, no entanto, não cessaram. Uma das questões levantadas pelos internautas é a sensibilidade da marca em colocar uma modelo branca vestida com uma roupa que remete aos “blackfaces” do século 19.

O termo surgiu para definir atores brancos que encenavam papéis de negros no teatro, ambiente proibido para essas pessoas até meados do século 20. Os lábios pintados de vermelho se assemelham aos contornos usados pela grife para a produção da peça.

A situação se agravou a partir do fato de a peça ter sido veiculada na época em que se comemora, nos Estados Unidos, o Mês da História Negra.

“Então @gucci lança um suéter que parece um blackface… no mês da história negra… E depois ensaia uma desculpa porque eles não sabiam que imagens assim são racistas”, ironizou uma internauta.

Este mês de fevereiro da consciência negra nos EUA também trouxe o mesmo problema para a grife alemã Adidas, que lançou uma peça “comemorativa” para a ocasião.

Trata-se de um modelo Ultraboost que faz parte de um pacote de três lançamentos com o logo “CBC” (em tradução livre, celebrando a cultura negra) colado à palmilha.

O problema da peça? Ela é toda branca e faz parte de uma linha “uncaged”, algo como “solto da jaula”. O jargão é usado pela marca para definir um tipo tênis que não leva um forro de plástico na parte externa.

Modelo branco de Adidas Ultraboost Uncaged, lançado em homenagem ao Mês da História Negra. A peça foi tirada de circulação após ser criticado por internautas
Modelo branco de Adidas Ultraboost Uncaged, lançado em homenagem ao Mês da História Negra. A peça foi tirada de circulação após ser criticado por internautas - Reprodução Instagram

“Adidas, vocês estão realmente ‘celebrando a cultura negra’ com um Ultraboost ‘solto da jaula’ todo BRANCO?!”, escreveu um internauta, também branco.

Após um período que chamou de “cuidadosa consideração”, a marca decidiu tirar o produto da coleção e explicou, em comunicado, que o problema aconteceu nos últimos ajustes para o lançamento.

“Adicionamos um tênis que mais tarde sentimos não refletir o espírito ou a filosofia de como a Adidas acredita que deve reconhecer e honrar o Mês da História Negra”.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.