Saint Laurent sagra moda de boate com roupas para brilhar até no escuro

Anthony Vaccarello evoluiu o despudor da estação passada com mais transparências e decotes

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Paris

Pode-se conjecturar sobre as motivações políticas e os porquês de um estilista ter se inspirado em fulano de tal para criar uma coleção de moda.

Mas num tempo em que marcas buscam boas histórias para contar e, assim, ganhar a ribalta, ninguém pode questionar o valor de uma grife empenhada apenas em oferecer roupas bonitas. 

Ainda mais quando se trata da Saint Laurent, um signo da vanguarda francesa da segunda metade do século 20. Sem explicações mirabolante ou musas inspiradoras, o estilista belga Anthony Vaccarello rasgou panos luxuosos, da seda ao cashmere, do lurex à lã, para cortar uma coleção de alta voltagem sexual. 

Ele evoluiu o despudor da estação passada e colocou ainda mais transparências, decotes em “V” por toda a extensão do corpo e ombros marcados nos conjuntos de alfaiataria.

As pontas dos blazers, alguns deles combinados com minishorts e calças de couro, foram desenvolvidos durante meses nos ateliês da marca para alcançarem o enchimento e o cálculo certo que emulam o formato trapézio da silhueta.

Extremamente técnico, o estilista mostra um inverno mais suntuoso do que o verão passado, com brilhos por toda a extensão das peças.

É uma coleção que pode ser definida como um estudo sobre a luz e as formas como ela incide na roupa usada nas festas glamourosas frequentadas pela elite jovem de Paris.

As peças são construídas de tal forma que, quando iluminadas, refletem cores e feixes de formas variadas. São quase como ilusões de ótica vestíveis.

As coleções Opium (ópio) e Scandal (escândalo) que Yves Saint Laurent apresentou entre as décadas de 1960 e 1970 basearam as jaquetas, as cores acesas e a sisudez dos looks cinzas do período entreguerras.

Tudo era embalado, de fato, em uma viagem lisérgica de tons e proporções escandalosas, conjuntos em que a palavra curto soa até como eufemismo dada a enorme quantidade de pele exposta.

Nos pés, sapatos pesados, botas de brilho, sendo algumas delas envernizadas, e vários saltos altos. A roupa de boate nunca foi tão marcante como agora é para a Saint Laurent.

Desde que assumiu o estilo da Saint Laurent, Vaccarello imprime uma estética selvagem à marca que fundou o estilo safári, o “artsy” –baseado na arquitetura e nas pinceladas das artes visuais– e o Le Smoking feminino. Essas referências continuam vivas, mas coladas a tachas, rebites e plumas para jovens notívagos endinheirados.

O masculino da grife segue a mesma estética festeira da ala feminina, só que com muito mais calças skinny, blazers salpicados de cristais e listras, listras por todos os lados.

Também acopla-se ao guarda-roupa dos homens a veia folk que dá as caras no armário das garotas, com chapéus, botas e franjas pontuais.

Menos coloridos, embora não menos glamorosos, os rapazes se apoiam no brilho sobre bases neutras cair nessa festa estroboscópica. Atores de beleza e atitudes, digamos, exóticas, Ezra Miller (“Precisamos Falar Sobre Kevin”) e Lindsay Lohan (“Sexta-Feira Muito Louca”) acompanharam tudo da primeira fila.

Eles representam uma parcela afoita do showbiz que não veria problema em sair na rua com as roupas neon do desfile.

Numa das imagens mais fores dos últimos anos, o final do desfile virou uma marcha de vestidos e conjuntos que remetem às silhuetas de um ombro só, aos casacos suntuosos e às proporções maximizadas de Saint Laurent. Só que tudo néon e brilhando sob luz negra de boate.

Na enorme caixa espelhada montada em frente a Torre Eiffel para o desfile, havia uma estrutura de espelhos que produzia uma ilusão de sala infinita.

À medida que as modelos brilhantes passeavam, elas deixavam rastro de si mesmas, clones ópticos que, numa primeira leitura, soam como metáforas do efeito manada do mundo das tendências.

Alheio a elas, Anthony Vaccarello se consagra como estilista que melhor transporta o look da noite para a passarela, uma resposta forrada de paetês para essa época de hiperexposição nas redes sociais.

É uma forma de mostrar que mais do que boas histórias, a juventude procura nas roupas uma forma de se divertir.

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