Descrição de chapéu
Filmes

'Tá Rindo de Quê?' exibe gargalhadas que a ditadura não conseguiu conter

Documentário traz série de depoimentos para falar do humor no Brasil entre 1964 e 1985

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tá Rindo de Quê?

  • Classificação 12 anos
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Claudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga

O documentário “Tá Rindo de Quê?” parte de um tema amplo, o humor feito ao longo da ditadura militar. 
Trata-se de um período razoavelmente longo, que vai de 1964 a 1985. Além disso, o humor abriga nessa fase expressões múltiplas, como as comédias no cinema (pornochanchadas e diversões familiares), os programas de TV, o teatro cômico e o stand-up, as charges, os cartuns.

Diante de um assunto tão abrangente, não era pequena a chance de naufrágio. Mas o documentário se sai bem na maior parte do tempo. 

Os diretores Cláudio Manoel ("Casseta & Planeta"), Álvaro Campos e Alê Braga acertam ao apresentar um painel do humor nessas duas décadas sem arriscar uma hierarquia entre as expressões. 

Afinal, como comparar o refinamento dos desenhos e aforismos de Millôr Fernandes com a comédia física dos Trapalhões? Ou o humor de tipos de Jô Soares e Chico Anysio com o teatro anárquico do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone? 

Pode soar contraditório, mas outro mérito do filme é justamente uma certa falta de ambição. A trinca de diretores não pretende alcançar uma tese ou algo que o valha.

Os melhores humoristas enfrentaram as restrições impostas pelos censores, uma gente obtusa que decidia o que o brasileiro poderia ler, ouvir, assistir. Mas cada artista ou grupo lidaram de modo diferente com a censura, não há um resultado homogêneo. 

Arrancar uma tese desse conjunto de tamanha diversidade soaria artificial. 

Por outro lado, fica a dúvida: por que recorrer à participação de Paulo César Pereio? Ator relevante do cinema brasileiro entre os anos 1960 e 1990, ele se tornou caricatura de si mesmo e não consegue (talvez não queira) escapar do estereótipo.  

Outro problema é o excesso de depoimentos, uma marca de boa parte da produção documental do país. 
Houve um garimpo cuidadoso de cenas, das quais destacam-se interpretações de Jô e Chico Anysio, cujas criações tendem a ganhar relevância com o passar do tempo. Mussum também aparece em passagens hilárias.

O filme cresceria se apostasse com mais convicção nessa seleção afiada dos arquivos da TV, do cinema, da imprensa. E são poucas as reflexões realmente valiosas ao longo do filme, como as de Jaguar. 

“Tá Rindo do quê?” poderia ter dedicado mais espaço aos risos, sorrisos e gargalhadas que a censura não conseguiu conter. De qualquer modo, esse é um documentário necessário, de inegável relevância histórica.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.