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Cinema

Universal cancelou filme baseada no mercado, não na 'cura gay'

Decisão de que 'Boy Erased' não estreará nos cinemas gerou comoção na internet

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Lucas Hedges e Troye Sivan em cena de 'Boy Erased', de Joel Edgerton
Lucas Hedges e Troye Sivan em cena de 'Boy Erased', de Joel Edgerton - Divulgação
São Paulo

Depois de algum suspense, a Universal —distribuidora, não igreja— resolveu cancelar o lançamento nos cinemas de "Boy Erased - Uma Verdade Anulada". E começou o drama.

Muitos cinéfilos aguardavam a estreia do filme, cuja trama, baseada em uma história verídica, mostra um jovem gay de 19 anos, filho de um pastor batista, que é enviado a uma terapia para obter a cura contra a homossexualidade.

E para muitos dos internautas só havia uma explicação: a Universal aderiu à onda conservadora e não quis lançar o filme da "cura gay" no país de Bolsonaro. Não demorou para a teoria conspiratória espalhar. Até o autor do livro que inspirou o filme postou, chateado, sobre a "censura" neste país tão bonito.

Para tudo. Pura ingenuidade.

Tem outra explicação, tão simples que não podia ser verdade, mas é. A Universal voltou atrás no lançamento com receio de ter prejuízo financeiro com o título, simples assim.

"Boy Erased" foi um fiasco nas bilheterias americanas, rendendo menos de US$ 7 milhões —o que não paga nem o cachê de Russell Crowe ou Nicole Kidman, que interpretam os pais do protagonista. A salvação poderia vir na temporada de prêmios. É normal no mercado um filme ter seu lançamento ampliado ou reduzido diante de indicações e estatuetas. Não foi o caso com a produção dirigida por Joel Edgerton.

Indicado a melhor ator dramático (Lucas Hedges) e canção no Globo de Ouro, o filme saiu sem prêmios. Depois, não foi lembrado no Sindicato dos Atores ou no Oscar, nem mesmo Kidman, cotada para uma vaguinha de coadjuvante.

Sendo assim, a Universal tomou a decisão comercial, mercadológica, de cancelar seu lançamento. Essa ação seria inédita por aqui? Não, acontece o tempo todo. Todos os anos.

A própria Universal também programou para fevereiro a estreia de "Duas Rainhas", candidato a várias indicações, com duas atrizes jovens e recentemente indicadas (Margot Robbie e Saoirse Ronan) nos papéis de Mary Stuart e Elizabeth 1ª, em um filme sobre a briga pelo poder no trono inglês.

Tinha tudo para dar certo. Deu meio errado. Na bilheteria americana, arrecadou US$ 16 milhões (custou US$ 25 mi). Recebeu apenas nomeações para o Oscar de melhor maquiagem e cabelo e figurino. Foi o suficiente para a distribuidora adiá-lo para abril —e não será nenhuma surpresa se essa data for alterada de novo.

Ainda para continuar na Universal. Um exemplo ao contrário: "Corra!", um dos principais lançamentos de 2017, não tinha previsão de entrar no mercado brasileiro durante sua produção. Só após o sucesso nas bilheterias americanas é que o filme foi agendado para o Brasil.

Na mesma linha, a Sony não pretendia lançar por aqui "O Homem que Mudou o Jogo", apesar de ter Brad Pitt como protagonista. O fato de ser um filme sobre beisebol era o limitador. Mas surpreendentemente o longa teve seis indicações ao Oscar, incluindo melhor filme e ator (Pitt). As nomeações fizeram com que a distribuidora revisse a estratégia e ele foi incluído nos cinemas do país.

O cancelamento de "Boy Erased" está longe de ser movido por uma onda conservadora. É só a boa e velha lei do mercado, que não tem cura.

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