Yo-Yo Ma viaja pelo mundo e sonha com utopia global ao som de Bach

Bach Project é o trabalho mais ambicioso da carreira do premiado violoncelista, que negocia apresentação no Brasil

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músico tocando violoncelo

O músico Yo-Yo Ma Divulgação

São Paulo

​A música clássica passa longe dos videoclipes. Pelo menos dos modelos exuberantes disseminados pela MTV e pelo alcance do YouTube. Quando muito, artistas do gênero aparecem em registros simples, tocando em palcos ou dentro de um estúdio de gravação.

Por isso, surpreende encontrar agora na rede “Bach - Cello Suite No. 1 in G Major, Prélude”, do violoncelista americano Yo-Yo Ma, 63. O clipe alterna cenas do músico tocando em parques de Nova York, solitário, a outras de artistas captadas em vários lugares do planeta. Unindo as imagens, uma animação gráfica que lembra linhas de uma pauta musical.

O clipe foi criado pelo escritório paulistano da agência AKQA, presente em várias cidades do mundo. O braço brasileiro da empresa já produziu material para Lady Gaga, Elton John e Usher e foi escolhido como por Yo-Yo Ma para a identidade visual do trabalho mais ambicioso de sua carreira.

O Bach Project começou em um disco com as seis suítes para cello do compositor alemão. “Six Evolutions - Bach Cello Suites” veio aumentar uma discografia de mais de 90 álbuns que já rendeu a Yo-Yo Ma 19 prêmios Grammy.

O violoncelista partiu então para uma série de 36 apresentações em 36 cidades diferentes, de todos os continentes. Além dos concertos, em cada parada existe um “Day Action”, programação de atividades com artistas locais, estudantes e público interessado.

A forma como a cultura conecta as pessoas é a discussão proposta pelo artista. Integração global é muito mais do que retórica para ele, um americano de origem chinesa nascido na França.

“Em um mundo onde temos cada vez mais especialização, há menos coisas a nos unir. A música e, no meu caso, Bach, é um agente para convocar pessoas”, diz Yo-Yo Ma.

Iniciada no ano passado, a turnê é desenvolvida aos poucos. As apresentações seguem longos intervalos e locais e datas até o próximo ano ainda estão sendo agendados. Nesta temporada, já estão confirmados dois concertos nos Estados Unidos, um na Áustria, e três na Austrália. Uma data no Brasil está em negociação. 

“Minha maior esperança é que as conversas que estamos tendo em cada lugar possam ajudar [o mundo] a construir uma sociedade melhor. Não acredito em mudança de massa, mas acredito em movimentos de indivíduos, cada um fazendo alguma coisa.”

“É crucial que possamos voltar aos nossos valores fundamentais, para tirar o barulho e perguntar o que nos resta, o que nos dá propósito ou significado. É um momento em que as pessoas que trabalham com conhecimento e compreensão, com a cultura, devem participar plenamente da arena econômica e política.”

O compositor alemão faz parte da vida de Yo-Yo Ma desde quando ele começou a tocar em público, aos quatro anos. “Bach é um companheiro constante. [Mesmo] atravessando décadas de experiência de vida com ele, cada vez que eu volto para as suítes a música soa diferente.”

Alguém que é considerado por muitos críticos o maior violoncelista da história ainda tem preocupações técnicas sobre suas performances? Um mestre ainda questiona se tocou bem após uma apresentação?

“Sim. Eu acho que você nunca pode separar a teoria da prática. A única coisa que eu amo na música é o fato de que nós, todos os músicos, começamos e acabamos no mesmo lugar”, diz ele.

“Somos todos estudantes, uma escala é uma escala. Você quer transformar a escala ou anotações em pensamentos, ideias ou estruturas, mas há uma interdependência total entre a capacidade de executar uma ideia e a força da ideia em si. Sempre andam juntas.”"

Segundo o português Hugo Veiga, diretor executivo e de criação da AKQA São Paulo, Yo-Yo Ma queria uma conexão global —por isso, a agência gravou um vídeo no qual o músico pedia que as pessoas enviassem imagens de suas manifestações culturais. A resposta veio às centenas, mas foram privilegiados os vídeos sem produtores profissionais.

“Não é apenas uma pessoa simpática, mas alguém que tem uma dimensão espiritual. Yo-Yo Ma está sempre sorrindo, gosta de conversar o tempo todo. Faz perguntas sem parar, tem uma curiosidade quase infantil”, diz Veiga, que acompanhou as gravações em Nova York.

Quando alguém pergunta a Yo-Yo Ma qual de seus álbuns recomendaria a quem nunca ouviu sua música, ele diz não saber se as suítes de Bach são a melhor iniciação.

“Realmente não faço ideia, mas para você posso dizer que o disco ‘Obrigado, Brasil’, que gravei em 2003, serviria de introdução. O álbum viaja por diversas épocas da música brasileira. O Brasil engloba, para mim, todo o mundo.”

SIX EVOLUTIONS - BACH CELLO SUITES

  • Preço cerca de R$ 80 (CD duplo) e R$ 180 (vinil duplo)
  • Gravadora Sony Classical (importado)
  • Artista Yo-Yo Ma
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