Banda sensação do punk pós-brexit desponta no SXSW

Fontaines DC, de Dublin, integra movimento que resgatou o rock político no Reino Unido

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Lúcio Ribeiro
Nova York

Grian Chatten é uma espécie de novo Liam Gallagher na postura “bad boy”. Dois minutos vendo-o em ação levam à certeza de que ele é marrento tanto quanto o ex-vocalista do Oasis, inclusive por cantar com as mãos para trás. Mas não é só isso. 

O vocalista do Fontaines DC, banda que é uma das sensações do movimento que vem resgatando uma onda punk jovem no Reino Unido e que fez apresentações na programação do SXSW, é irrequieto no palco como foi Ian Curtis, do Joy Division, para não dizer que parece que ele pode ter uma pane nervosa diante da plateia a qualquer momento.

A banda irlandesa Fontaines DC
A banda irlandesa Fontaines DC - Richard Dumas/Divulgação

Mas é de se duvidar que Chatten, de 22 anos, já tenha toda essa referência antiga, pronta para exprimi-la com tanta felicidade em sua curtíssima carreira de artista, líder de uma banda que nem disco de estreia lançou ainda.

Talvez o vocalista e seus outros quatro companheiros não estejam tendo tempo de se espelhar em nomes carismáticos de outrora para chamar a atenção, já que desde que colocaram algumas músicas no Spotify e apareceram no palco de clubinhos na Europa, a vida deles virou de cabeça para baixo, no último ano e meio. 

“Eu nem sei mais onde estou. Quando acordo, levo uns minutos para perceber o que está acontecendo. Mas está tudo bem assim. Até pouco tempo atrás eu trabalhava numa livraria, com muito tempo para fingir que eu estava feliz. Para sentir raiva. Agora nem pensar em felicidade e ódio eu consigo. Sinto falta de sentir raiva, isso não é bom para um irlandês”, afirma Chatten, não sei se falando sério ou sendo irônico, momentos antes de encarar um segundo show. 

Na noite anterior, em que se pese o clube pequeno, o lugar estava abarrotada. Na seguinte, igualmente os ingressos estavam esgotados.

O Fontaines DC está inserido num movimento curiosamente batizado na Inglaterra de cena punk pós-brexit, ainda que eles sejam de Dublin, na Irlanda, que faz parte da União Europeia.

“Os jovens na Irlanda não estão muito preocupados com brexit, porque isso não é problema nosso. Temos nossas lutas e envolvimentos muito claros por lá. Tem muita coisa acontecendo agora na Irlanda, para escolhermos políticos melhores, brigarmos pelos direitos de as mulheres fazerem aborto. Brexit é um assunto que pode apenas nos desviar a atenção de nosso principal foco”, diz Chatten.

“Sobre fazer parte dessa cena pós-brexit, na real, não ligo. Não penso se isso é bom ou ruim”, completa.

Embora alheio ao brexit, o Fontaines DC foi musicalmente dragado para a nova cena punk que chacoalha o Reino Unido não só com uma energética música boa, mas também com o chamamento jovem bem contundente para questões como política, economia, imigração (contra e a favor), feminismo e machismo. Nada mais urgente. 

 

É o ressurgimento do rock político, dizem na Inglaterra. A cena punk pós-brexit faz as guitarras voltarem a respirar no mar de pop, hip-hop americano e trip que assola a música jovem na ilha da rainha. E bandas como Shame, Fat White Family e Slaves são consideradas as culpadas por isso. 

Grupos como Idles, Eyesore & The Jinx e Fontaines DC já são a segunda onda imediata, para levar isso a um público muito maior.

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