Chiwetel Ejiofor faz estreia na direção com história de superação na África

Filme da Netflix sobre garoto que leva água a vilarejo tem diretor de arte de Cidade de Deus

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Berlim

A história do longa "O Menino que Descobriu o Vento" é tão impressionante que é de se estranhar que o livro em que se baseia, de William Kamkwamba, tenha demorado nove anos para ser transformado em filme.

O longa estreou neste mês na Netflix e mostra a trajetória do próprio autor, que aos 13 anos superou a fome e a seca em sua comunidade na África usando seus conhecimentos autodidatas de física.

Foi no Maláui, em 2001, que o garoto percebeu que era possível canalizar água de outra região para aquela onde morava, criando uma engenhoca com restos de ferro velho.

Sufocado por problemas ambientais, sociais e políticos, o país vivia na época uma verdadeira calamidade, marcada por êxodo migratório e falta de alimentos. Ao menos em sua região, Kamkwamba minimizou a tragédia, graças a certa teimosia.

O filme é a estreia na direção do ator Chiwetel Ejiofor, protagonista do oscarizado "12 Anos de Escravidão". Britânico de nascimento, mas filho de nigerianos, ele se sentiu estimulado a se lançar como cineasta ao se comover com a história de Kamkwamba, mas não só —o fato de ser uma trama africana pesou muito.

"Já tinha algum conhecimento [sobre a África] por causa da minha família, que teve uma vida rural na Nigéria. É um país diferente [do Maláui], mas em muitos aspectos ambos têm fortes similaridades", afirmou Ejiofor a este repórter no Festival de Berlim, no qual o filme passou fora de competição.

"Há elementos que acho serem importantes para o contexto africano, mas também para o ocidental. Foi o que me fez querer fazer esse filme."

Ejiofor, que vive o pai de Kamkwamba no filme, fala dos temas centrais: a perseverança, a solidariedade, a questão ecológica e a importância do estímulo à educação.

"É importante manter uma relação que permita que africanos desenvolvam o próprio potencial. O filme é sobre todos trabalharem juntos, ao lado dos Williams do mundo, e ajudá-los a achar soluções para suas comunidades."

Filmar na África não foi simples. "Nunca tinha havido uma produção de escala tão grande no Maláui antes. Desde o início a ideia era fazer uma representação autêntica do local e de todas as circunstâncias por que William passou."

Apesar da preocupação de dar ao filme a cara do Maláui, importantes aspectos visuais e sonoros são contribuições brasileiras. Foi a paixão por "Cidade de Deus" (2002) que fez Ejiofor contratar o diretor de arte paulista Tulé Peake e o compositor carioca Antonio Pinto, que trabalharam na obra de Fernando Meirelles.

"'Cidade de Deus' foi o filme que abraçou o aspecto épico da vida em termos de cinema, mas que também se manteve preso a uma realidade autêntica. A primeira pessoa que chamei foi Tulé Peake, ele foi quem primeiro pisou no Maláui comigo para a parte criativa. Ele trouxe [a figurinista de 'Cidade'] Bia Salgado, de forma que trabalhassem mais uma vez na mesma equipe", explica o diretor.

"Mais adiante, entrou o Antonio Pinto, também porque a música dele traz algo de épico e é muito rica emocionalmente. Dar esse aspecto brasileiro ao filme gerou uma combinação forte", conta o cineasta.

Embora seja um trabalho com grande ênfase no visual —as imagens captadas pelo aclamado diretor de fotografia Dick Pope são extasiantes—, o longa só poderá ser visto no streaming no Brasil.

Na África, onde Ejiofor faz questão de que o filme seja conferido, o alcance do serviço sob demanda não é tão alto. "Uma das grandes vantagens da Netflix é alcançar mais gente, mas mesmo assim é preciso ter banda larga. Estamos investigando meios de levá-lo para várias comunidades africanas", diz.

"Uma coisa é pensar no impacto de um filme como esse no Ocidente, como uma história certamente encorajadora. Mas já pensou no efeito que será mostrar para pessoas em comunidades com questões parecidas com as do filme?"

O Menino que Descobriu o Vento
Disponível na Netflix

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