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Laís Bodanzky assume Spcine e diz que planeja ajudar cinemas de rua

Diretora quer ampliar circuito de salas populares e plataforma streaming da empresa pública

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Laís Bodanzky, 49, que assume a Spcine
Laís Bodanzky, 49, que assume a Spcine - Gabriel Cabral/Folhapress
São Paulo

Recém-nomeada para presidir a Spcine, empresa municipal que desenvolve o audiovisual na cidade de São Paulo, a cineasta paulistana Laís Bodanzky se equilibra em cordas bambas. 

A primeira é a da rotina. Com o novo cargo, sobra a ela apenas o fim de semana para a montagem de “Pedro”, cinebiografia sobre o primeiro imperador do Brasil independente, protagonizada por Cauã Reymond e filmada em 2018. 

A outra é mais delicada. Ela assume o posto em meio a uma crise do cultura no país. A área, que se colocou em peso contra a eleição de Bolsonaro, enfrenta cortes de patrocínios de estatais como a Petrobras, a Caixa Econômica e o BNDES que devem afetar festivais cinematográficos, cinemas de rua e até a produção de novos filmes.

Ela afirma, entretanto, que tem conseguido manter diálogo mesmo quando o alto escalão dispara farpas contra o mundo das artes.

“Na hora que a gente vem com a linguagem da economia do setor, eles estão abertos a ouvir”, diz.

A escolha de Bodanzky para tocar a Spcine, criada na gestão Fernando Haddad, faz parte de uma série de nomeações promovidas pelo atual secretário de Cultura, Alê Youssef, que tem substituído dirigentes de várias entidades, como o Theatro Municipal e a Biblioteca Mário de Andrade.

A cineasta assume com a bagagem de quem comandou, por 15 anos, o Tela Brasil. O projeto de ensino e cinema itinerante, tocado com Luiz Bolognesi, levou filmes para periferias e para ambientes como penitenciárias.

Na Spcine, Bodanzky afirma que suas principais metas serão ampliar o circuito de 20 salas populares de cinema da entidade, aprimorar o catálogo da plataforma de streaming Spcine e trabalhar para que a capital paulista continue sendo um dos principais cenários para o audiovisual na América Latina.

Convite para presidir

Quando Alê me chamou, imaginei que fosse para falar da minha experiência com o cinema itinerante, mas fiquei surpresa com o convite para dirigir a Spcine. Não tenho interesse em seguir carreira política, mas sempre me interessei por discutir política cinematográfica.

Circuito de salas públicas

O Circuito Spcine já é grande, com 20 espaços na cidade, sendo 15 nos CEUs. Desde a implantação [em março de 2016], fez mais de 1,2 milhão de espectadores e é contabilizado no sistema nacional de bilheterias. Tem um potencial e pode se fortalecer.

A ideia é ampliar, trazer mais áreas da sociedade para o cinema. Existe um acordo com a Secretaria da Educação, que traz muitos resultados, mas que ainda é tímido. Na França, cinema faz parte do currículo escolar, com os alunos saindo do espaço da escola e debatendo filmes

Plataforma de streaming

A Spcine Play é recente, mas de altíssima qualidade e com 60% de seu conteúdo gratuito. Tem lá filmografias de Hector Babenco, do Zé do Caixão, filmes da Mostra de São Paulo, clássicos.... 

Há possibilidades imensas que podem dialogar com o circuito e com as salas de aulas. Queremos aumentar catálogo, mas com curadoria específica, e fortalecer a parceria do streaming com festivais. A Spcine tem consciência da cauda longa de um filme: ou você está na plataforma ou não existe.

São Paulo como cenário

A SP Film Comission atua como facilitadora e centraliza todas as autorizações para se filmar aqui. A cidade de São Paulo se tornou mais amigável e virou ‘player’ no mundo. Grandes produções já estão olhando para cidade. 

O que falta? Impacto de comunicação para o cidadão entender a importância dela. Nova York deixou de ser uma cidade que ninguém conhecia para se tornar um lugar com o qual as pessoas têm intimidade mesmo sem ter estado lá graças ao audiovisual.

Produção paulista

São Paulo produz bastante e cada vez mais. Cerca de 30% das produtoras [de cinema] do Brasil estão aqui. O Rio de Janeiro é um polo importante, mas São Paulo está numa linha ascendente. Claro que o momento do audiovisual é delicado, mas para isso temos que fomentar o encontro do público com o privado, fazer parcerias.

Indefinição de patrocínios

Nossa ideia não é ocupar o vácuo [com o recuo de Petrobras e BNDES], mas é pensar junto. Minha visão é otimista. O setor audiovisual está assustado, mas a coisa é tão internacional, que não é simples interromper. 

E faz parte da comunicação reverter a imagem de que o setor é tímido. É sério e competente nas suas prestações de contas e formas de financiamento. Temos dados para nos portar como alto-falante para a sociedade e mostrar nosso tamanho e que não somos só o cinema, mas também TV, game e publicidade.

Games

Existe um mundo represado de artistas criativos sem acesso a recursos. Games também fazem parte do mundo da economia criativa. A Spcine pode dar vazão a iniciativas, como as que existem. O Spin é uma reunião mensal de desenvolvedores com discussão e apresentações. É um movimento que ganha força.

Cinemas de rua

Uma cidade do porte de São Paulo precisa ter seus cinemas de rua. Eles vão bem, mas têm uma desvantagem que é o aluguel e a manutenção do imóvel. Queremos ajudar na busca de patrocínio.  É um público que não pode ser excluído. 

Mulheres no audiovisual

A Spcine tem consciência que a desigualdade de gênero não corresponde à realidade e já contemplou em alguns editais a questão. É uma característica que eu faço questão de seguir. 

Cinema e polarização política

Minha contribuição na Spcine é com o diálogo. Me encontrei na semana passada com o secretário do audiovisual. Foi ótimo. A gente tem que sentar e conversar, apresentar os números, reverter a imagem ruim. O audiovisual tem um know-how de crise. O meu partido é o cinema, é por isso que estou aqui

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