A imprensa e as artes, duas das forças que estão no centro das guerras culturais, que ganharam evidência com a ascensão conservadora, terão papel de destaque na próxima edição do É Tudo Verdade, principal festival de documentários do país.
A mostra, que começa em abril em São Paulo e no Rio de Janeiro, abrirá nas duas cidades com filmes que fazem um aceno ao jornalismo ou à cultura, hoje emparedados por governos de direita e extrema-direita mundo afora.
Na capital paulista, a abertura se dará em 3 de abril com "Mike Wallace Está Aqui", de Avi Belkin, que reconstitui a carreira do jornalista americano, apresentador do programa 60 Minutes e notório por fazer perguntas contundentes a algumas das principais figuras de seu tempo.
Já os cariocas terão a possibilidade de ir à estreia mundial, no próximo dia 8, de "Memórias do Grupo Opinião", de Paulo Thiago, obra que rememora a atuação engajada do coletivo teatral e musical que enfrentou a ditadura militar com uma resistência de caráter artístico.
Após a estreia, ambos os filmes estarão em cartaz nas duas cidades.
Neste ano, o É Tudo Verdade é composto de 66 documentários (11 a mais do que em 2018), entre curtas e longas-metragens que exploram os humores do mundo contemporâneo.
Entre os eixos temáticos que percorrem as várias seções do evento (competição brasileira, competição internacional, competição latino-americana e mostra O Estado das Coisas), há destaque para um retrato das grandes figuras da política atual.
"A Beira", de Alison Klayman, centra fogo na figura de Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump e um dos mentores da atual onda conservadora. "Hungria 2018" perpassa a campanha presidencial que elegeu o presidente Viktor Orbán, defensor de políticas tidas como xenófobas.
"Testemunhas de Putin" faz um apanhado crítico do governo do atual líder russo. E o alemão Werner Herzog, em pparceria com Andre Singer, apresenta "Encontrando Gorbachev", que compila longas entrevistas com o último dirigente da União Soviética.
Fora da política, outras grandes figuras serão esmiuçadas, como o multi-instrumentista nigeriano Fela Kuti ("Meu Amigo Fela", de Joel Zito Araújo), o compositor argentino Astor Piazzolla ("Piazzolla", de Daniel Rosenfeld) e Stanley Kubrick (no curta "2001: Faíscas na Escuridão", de Pedro González Bermúdez).
Também há espaço para uma discussão sobre o mundo do trabalho. Em "Estou me Guardando para Quando o Carnaval Chegar", que estreou no Festival de Berlim, o pernambucano Marcelo Gomes analisa o cotidiano de uma cidade industrial que produz mais de 20 milhões de pares de jeans por ano. O curta "Planeta Fábrica" acompanha os momentos derradeiros de uma fábrica que cria chapéus em Campinas.
Mortos no ano passado, os cineastas Nelson Pereira dos Santos e Claude Lanzmann serão alvo de homenagens.
Do diretor paulista, o festival selecionou a produção documental dos últimos anos de sua vida, como a série feita para a TV "Casa Grande & Senzala", sobre Gilberto Freyre, e o díptico "Raízes do Brasil", sobre Sérgio Buarque de Hollanda.
O legado do francês Lanzmann, de "Shoah", é revisitado na tetralogia "As Quatro Irmãs", que acompanha a vida de mulheres que sobreviveram ao Holocausto.
Um dos mais importantes eventos de documentários no mundo, o É Tudo Verdade habilita o vencedor da competição internacional a ser pré-selecionado para o Oscar. Sua programação vai de 4 a 14 de abril em São Paulo, e de 8 a 14 de abril, no Rio de Janeiro.
Informações completas podem ser acessadas no site do evento.
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