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Novo 'Dumbo' difere do original e consolida nova fase da Disney

Dirigido por Tim Burton, longa toma liberdades e critica estúdio do Mickey

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Cena de 'Dumbo', de Tim Burton

Cena de 'Dumbo', de Tim Burton Divulgação

Los Angeles

Em um determinado momento do novo “Dumbo”, o pequeno elefante de orelhas grandes é levado para um parque temático megalômano que não esconde a intenção de lucrar com a exploração das suas atrações, vivas ou mecânicas.

A alusão à Disney é clara, mas a crítica ao sistema lucrativo da empresa é algo raramente visto em um filme da própria Disney.

“Tenho escrito no meu cartão de visitas: ‘Manchando o nome da Disney desde 1980’”, diverte-se o diretor Tim Burton, lembrando dos altos e baixos que passa com o estúdio do Mickey desde quando era um jovem animador —ele foi demitido por ser sombrio demais. 

“Não tinha percebido que ‘Dumbo’ era minha história dentro da Disney. Um menino estranho e deslocado que vai trabalhar para uma grande companhia. Sim, tive meus altos e baixos com ela, mas a vida é assim. Conheço bem as entradas e saídas daquele lugar.”

Burton hoje é um criador venerado pelo estúdio. Foi atrás dele que a Disney correu quando decidiu organizar um plano de refilmar seus desenhos animados em versões carne e osso, começando por “Alice no País das Maravilhas”, em 2010.

Agora, o sujeito responsável por “Os Fantasmas se Divertem” (1988), “Batman” (1989) e “Edward Mãos de Tesoura” (1990) empresta sua visão gótica a “Dumbo”, uma mistura de refilmagem e sequência do clássico de 1941 que estreia nesta quinta-feira (28) no Brasil.

O filme estreia em um novo momento para o estúdio, hoje o mais poderoso de Hollywood. “Alice no País das Maravilhas” faturou cerca de US$ 1 bilhão e fez a Disney olhar com mais carinho para o próprio catálogo, povoado por animações clássicas. É uma fórmula compreensível, já que refilmar essas animações não apenas traz os fãs que cresceram com os originais, mas também as novas gerações.

Bob Iger, presidente do estúdio, sabe que nada garante tanto a estabilidade quanto uma franquia. Ele liderou os esforços para comprar a Lucasfilm (“Star Wars”, “Indiana Jones”) e a Marvel. 

Mas os desenhos são ainda mais rentáveis por já fazerem parte da família, sem custos adicionais de direitos autorais. Assim, ele deu sinal verde para projetos como “Malévola” (2014), um ponto de vista diferente de “A Bela Adormecida” que rendeu US$ 758 milhões; “Cinderela” (2015), que faturou US$ 543 milhões, e o maior sucesso de todos, “A Bela e a Fera” (2017), dono da bilheteria de US$ 1,2 bilhão.

Os seis longas baseados em animações antigas que vieram depois de “Alice” renderam um total de US$ 3,8 bilhões, cerca de R$ 14,7 bilhões, aos cofres da Disney. Com isso, pelo menos mais 17 projetos semelhantes ganharam força e estão em diferentes estágios de produção.

Essa onda deve se intensificar com a chegada do Disney+, serviço de streaming com previsão de estrear no segundo semestre deste ano.

“Não penso muito sobre essa moda e me sinto sortudo de ter entrado nela quando ainda era muito cedo”, diz Burton à Folha. “Há uma razão dos filmes da Disney ultrapassarem as barreiras do tempo. Eles são contos de fadas, podem ser contados várias vezes e de maneiras diferentes.”

“Dumbo” é um exemplo disso. A espinha dramática é a mesma do original, contando a história do pequeno elefante ridicularizado por todos no circo até tornar-se a principal atração do picadeiro ao descobrir que pode voar com suas orelhas desproporcionais.

“Amo o personagem, a ideia de um elefantinho voador e como ele usa a seu favor o que chamam de deficiência”, conta o simpático cineasta, que gesticula como se caçasse uma borboleta que somente ele enxerga. "Somos considerados dois estranhos."

O longa, contudo, toma alguns desvios radicais ao situar a trama em um mundo mais realista, tendo  uma família quebrada como núcleo: Colin Farrell faz um veterano da Primeira Guerra Mundial que retorna sem um braço ao circo comandado por Max Medici (Danny DeVito) e lar dos filhos (Nico Parker e Finley Hobbins), ambos ainda se recuperando da morte da mãe.

Não há animais falantes e boa parte da ação logo se move para o parque ultratecnológico do empresário de Michael Keaton e da trapezista de Eva Green.

“Não gosto de circos”, confessa o diretor. “Mas foi um estranho desafio recriar 'Dumbo', que ele existe em uma realidade somente dele, como uma fábula. Não queria fazer um filme óbvio, mas algo que as pessoas se surpreendam mesmo que ainda encontrem as mensagens sobre famílias disfuncionais.”

Outra mudança radical diz respeito ao polêmico fim do longa original, criticado por organizações de defesa dos animais por manter o filhote em cativeiro. O roteiro de Ehren Kruger (“O Chamado”) se antecipa aos protestos, adaptando a história a um novo pensamento mais consciente. 

“‘Dumbo’ é um desenho animado diferente e que não pode ser repetido. Há coisas de que gosto no original, como a sequência do elefantinho bêbado e tendo alucinações. Mas o mundo de hoje é diferente”, explica Burton sobre a famosa sequência dos elefantes cor-de-rosa, que foi levemente alterada. 

Nada que se compare ao que já sofre o diretor Guy Ritchie com o próximo remake da Disney, “Aladdin”, previsto para maio. A cada novo trailer que mostra Will Smith como o gênio azul que tinha a voz de Robin Williams no desenho de 1992, o projeto é bombardeado por memes nas redes sociais.

“Há uma razão para cada filme existir. Não escolho quem faz os outros filmes da Disney”, brinca Tim Burton. “Sou apenas um simples funcionário.”

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