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Artes Cênicas

Peça de Felipe Hirsch debate democracia na América Latina

Espetáculo inspirado em livro do chileno Alejandro Zambra chega à MITsp

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Democracia

  • Quando 18 a 20/3, às 21h
  • Onde Teatro Faap
  • Preço R$ 40
  • Classificação 12 anos
  • Elenco Trinidad González, Manuela Martelli, Rafael Contreras, Moisés Ângulo e Matteo Citarell
  • Direção Felipe Hirsch

Com "Democracia", Felipe Hirsch buscou transpor para o palco o instigante livro ​"Facsímil", de Alejandro Zambra.

O escritor chileno criou uma obra que reproduz em sua forma o exame de admissão nas universidades no Chile. O teste vigorou de 1967 a 2002. 

No livro, o resultado é uma estrutura ao mesmo tempo irônica, melancólica e fascinante. Cria-se um efeito de estranhamento que convida a uma atitude ativa do leitor. Somos obrigados a retornar ao que já lemos, duvidar de sentidos que se contradizem, refazer percursos.

Narrativas, sentenças e mesmo o significado das palavras oscilam como num pêndulo. Tudo é e não é, ainda que a forma mimetize o saber exato de testes de múltipla escolha.

 

Mas parte da força literária que Alejandro Zambra criou para enfrentar a realidade do Chile é diluída nesta transposição de linguagem para o teatro. A encenação de Felipe Hirsch cria um ambiente de confinamento, no qual cinco “competidores” participam de uma espécie de jogo absurdo.

Eles respondem perguntas de uma voz enigmática vinda de fora da cena, como se fossem ratos em um grande laboratório. A forma provocativa e experimental da obra do escritor chileno se transforma numa imagem congelada e repetitiva de seres presos numa vida sem sentido, batalhando por algo que não se explica.

Porém, ao mesmo tempo, o grupo apresenta uma discussão de alta densidade crítica a partir do livro. A cenografia desenvolvida por Daniela Thomas e Felipe Tessara, parceiros de longa data do diretor, cria um grande letreiro que ocupa o fundo do palco com a palavra “democracia” reluzindo em vermelho.

A proposta traz para a cena a ideia genérica de democracia —o bom paradigma de qualquer reflexão política na atualidade— só que conjugada ao hipnótico mundo de letreiros luminosos, show business e mercadoria.

O cenário espelha o tratamento ambivalente dado ao conceito “democracia” ao longo da montagem. Em cena, os atores movem-se de maneira frenética e repetitiva, representam seres que competem de forma irracional até a exaustão, em busca de algo que não se sabe o quê.

“O Chile é uma grande sala de espera”, diz uma das mulheres. Das narrativas e frases soltas que aparecem ao longo do jogo emanam perguntas como: superamos mesmo nosso passado? Qual caminho tomamos? É um avanço ou só uma nova roupagem da mesma vida extenuante, solitária e opressiva em que vivemos?

Se por um lado a monótona situação paralisada é um problema desta transposição da literatura para o teatro, ela também ressalta a angústia e o assombro diante de uma democracia que produz barbárie.

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